A Humanidade caminha com tiranias. Filhos da insegurança se jogam do andar do João Alves. A sabotagem americana ou a espionagem matou 21 em Alcântara. Quem pagará por este descalabro. Centenas de crianças vivem abaixo da miséria no Lixão da Terra Dura. Os supermercados estão tão unidos no preço que deveriam se chamar um nome só BomBarbosa. A vida tem sido cruel. Não dá para dormir sem lexotan. Assim caminha a humanidade. Não há civilização quando a tirania impera. Quando todo mundo é chamado de ladrão. Quando a lama podre dos viventes não separam o joio do trigo. Você tem que saber que seu amigo é capaz de armar uma cilada contra você. Tomar seu marido, sua mulher, tomar a sua casa. A Universidade está à mingua. Não há luz no academicismo das Universidades. A mediocridade é uma bola pairando sobre as nossas cabeças. Preconceito tem muito a ver com deformação do caráter de quem tem. Se o desejo mata, não dá mais para comer chocolates. Se Fernando Pessoa estava certo quando disse “come chocolate, pequena, porque não há maior metafísica no mundo do que comer chocolates”, mas os triglicérides insistem em matar? Os gays estão na berlinda. Nunca tanto. A igreja romana, aquela que aprendemos com o catecismo, “assim como nós perdoamos, a quem nos tem ofendido”, disse o Pontífice que temos que ser suaves e compassivos com os gays, mas não admitimos tais práticas. O mundo assiste a tudo estupefato. A Igreja que queimou Galileu Galilei porque acreditava que a Terra não girava em torno do Sol, a Igreja que é contra o uso da camisinha, volta à cena e perderá a batalha. São milhões de gays espalhados pelo mundo, organizados, conscientes – sem aquela porra-louquice da bicha afetada, imitando Marilyn Monroe. Foi mesmo o maior especialista em religião quem disse isso. A Igreja pede que tenhamos tolerância, que comecemos a matar o próximo devagar, para não ofendê-lo. O século minado. Os negros, as mulheres, os gays continuam cercados por este pesadelo clerical. Mulher não pode ser padre. Negros – quantos são cardeais? Mulher solteira é mãe de filho ilegítimo. Por isso que os gays são motivos de ódios homofóbicos. São vítimas de barbáries institucionalizadas e têm imensa dificuldade em encontrar parceiros dignos. O Orgulho Gay proclamado em todo o mundo é a ponte tênue para a emancipação da classe. Fatos como o da Santa Sé excluem, criam apartheids, proclamam o preconceito e colocam o ser humano abaixo das razões morais. E quando o ser humano fica abaixo de qualquer coisa, a intenção é de pura exclusão. Os gays não são felizes por essas e outras razões. A igreja deveria se preocupar com questões mais graves, como a pena de morte existente em vários países, inclusive em Cuba, onde Fidel Castro mutila, arrasa e extermina. A fome. A miséria da África sem remédio e com a Aids alastrando-se feito erva daninha. Os conflitos no Oriente Médio e os próprios escândalos de pedofilia com seu clero. Agindo como a que queimou Joana D´Arc na fogueira, a Igreja percorre os caminhos da Santa Inquisição, impondo ao mundo uma ordem contraceptiva e bárbara. Deus nada tem a ver com a propagação da barbárie de alguém deixar de ser o que é, porque é melhor do que pecar. Os gays não são felizes porque a cultura propagada é a da falsa moral, em busca dos bons costumes familiares, em defesa da tradição, família e propriedade. Galileu Galilei estava certo “a verdade é filha do tempo, não da autoridade”. *Araripe Coutinho é membro do MAC da Academia Sergipana de Letras e autor de seis livros.