Publicação gerou muita repercussão (Foto: Reprodução Facebook) |
Uma postagem da Ordem dos Advogados do Brasil, seccional Sergipe, em rede social gerou muita repercussão e manifestações. O motivo, segundo os comentários dos usuários, seria o modo como o órgão tratou o Dia Nacional da Consciência Negra, celebrado nesta quinta-feira, 20 de novembro.
Na imagem publicada na página da OAB/SE, foi compartilhada a seguinte frase: "A igualdade existe quando ninguém precisa discutir o que as pessoas são ou não, elas simplesmente são. Por isso, para comemorar este dia, vamos viver um mundo sem racismo, a começar pelo primeiro passo: não falar mais sobre isso".
Em resposta a esta postagem, o jornalista Paulo Victor Melo publicou em sua página pessoal um texto em repúdio. Em alguns trechos do texto, o comunicador demonstrou seu ponto de vista. “A Seccional Sergipe da Ordem dos Advogados do Brasil assumiu, na noite de ontem (19), uma postura vergonhosa (para dizer o mínimo) e que vai na contramão da sua história”.
O jornalista ainda complementou dizendo que “para a OAB Sergipe, o primeiro passo para acabarmos com o racismo é não falarmos mais sobre o racismo. Ao assumir essa posição, a OAB Sergipe se coloca ao lado dos que entendem que os problemas estruturais da nossa sociedade (e o racismo é, talvez, o principal) não devem ser discutidos, não devem ser publicizados. Para a OAB Sergipe, o tempo sozinho, como num passe de mágica, fará o racismo desaparecer do Brasil e do mundo”.
Daiana Tatit Kurtz também se manifestou através de comentário na própria postagem da OAB/SE, que foi apagada após centenas de usuários compartilharem e rebaterem o conteúdo. Em postagem ela disse: "mas que credencial perante a opinião pública tem a OAB para se pronunciar dessa forma? É típico de quem não conhece história e não tem a mínima noção do que o passado repercute até hoje na vida do cidadão”, relatou.
Em conversa com o Portal Infonet, o advogado e presidente da Comissão de Igualdade Racial da OAB/SE, Ilzver Matos, considerou que a postagem foi um erro grave e que foi surpreendido com o conteúdo. “Fui tomado de surpresa. Apesar de ser membro da comissão, não fui consultado pelo setor de marketing. O post está em descompasso com o movimento negro”, comenda.
Para o presidente da comissão, o foco agora é debater a questão do preconceito dentro da Ordem dos Advogados. Ele conta que este fato não pode apagar todo o trabalho já efetuado pelo órgão com relação ao combate ao preconceito. “Foi uma oportunidade para que fique claro que temos que debater o tema”, acrescenta.
OAB/SE
A Ordem dos Advogados do Brasil, seccional Sergipe, se manifestou por meio de nota sobre o episódio. Confira abaixo o conteúdo na íntegra:
“O presidente da OAB-SE, Carlos Augusto Monteiro Nascimento, vem a público apresentar retratação à postagem alusiva ao dia da Consciência Negra, feita através da página do Facebook da Instituição, que gerou manifestações contrárias de diversos internautas por afirmar que para viver num mundo sem racismo, o primeiro passo é não falar sobre ele.
Gostaríamos de reconhecer, perante todas e todos, o erro na escolha e elaboração da frase da nossa campanha sobre essa importante data e informar que estamos lançando uma nova campanha, intitulada “Dia da Consciência negra para a OAB-SE é momento de reconhecer os negros que construíram e constroem um Sergipe sem discriminação racial”, onde serão apresentadas as trajetórias de vida, resistência, luta pela cidadania e por direitos, de personalidades negras que marcaram e marcam a história passada e presente do nosso Estado, com o objetivo de mostrar que na luta contra o racismo a pior atitude é ser omisso ou querer esconder a questão sob o mito da democracia racial e da falácia igualdade formal de todos perante a lei, pois o que devemos fazer é mostrar que a sociedade brasileira ainda possui números inaceitáveis de desigualdade entre as raças e que precisamos de mais debate e mais políticas de enfrentamento ao racismo. Aproveitamos a oportunidade, ainda, para informar que esse equívoco não deve apagar o fato de que a Seccional Sergipe da Ordem dos Advogados do Brasil foi uma das primeiras no país a instituir uma Comissão especial sobre igualdade racial e combate à intolerância religiosa. O presidente Carlos Augusto Monteiro Nascimento assinou no dia 11 de novembro de 2011, a Portaria n.º 117/2011 que instaurou a Comissão de Igualdade Racial, presidida pelo advogado Ilzver de Matos Oliveira, doutor em Direito, professor universitário e militante do movimento negro sergipano – intencionalmente se instaurou a Comissão em 2011, porque ele foi considerado pela Organização das Nações Unidas (ONU) como o Ano Internacional do Afrodescendente, e no mês de novembro, por ser o Mês da Consciência Negra. Desde então essa importantíssima Comissão tem sido a responsável dentro da OAB-SE por alguns desafios: acompanhar e fiscalizar as políticas públicas relacionadas à educação sobre aspectos raciais e étnicos; averiguar as situações de intolerância religiosa ou cultural; observar, da mesma forma, as políticas de saúde para os negros, indígenas, ciganos e outras etniais; as questões das terras das comunidades tradicionais – como as quilombolas e de terreiro; acompanhar e fiscalizar casos de violência e juventude negra; discriminação no mercado de trabalho, emprego e renda; e no acesso a justiça.
Esperamos, após essa retratação, continuar a receber o apoio da sociedade sergipana na nossa luta diária pela cidadania e por direitos, o reconhecimento e a legitimidade que sempre nos foram concedidos por essa sociedade para ser um dos seus interlocutores, o que sempre consideramos como uma honra e a nossa principal missão”.
Por Monique Garcez
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