A expectativa de quase 1.500 sergipanos era grande, na última segunda-feira à noite, antes da saída dos 30 ônibus que foram de Aracaju para Cabrobó, em Pernambuco. Foram quase 10 horas de viagem. Mas o mecânico Valdemilson Pereira, que mora no povoado Cajueiro, em São Cristóvão, não estava muito preocupado com a distância. “Vou porque quero dar um abraço no frei e apertar a mão dele. Se ele me der pelo menos um adeus eu já fico satisfeito”, comentou o mecânico. Ele distribui na saída da caravana um papel com a letra da música que compôs em homenagem ao frei e ao rio São Francisco. Na letra de “Quem ama cuida, não divide”, o humilde mecânico diz: “conquista de intimorato, por essa gente ignorado. A ponto de fazer até greve de fome… O sentimento é ato natural, sensibilidade de quem é normal. A água doce talvez vire água de sal”. Só da Coordenação do Movimento de Mulher do Estado de Sergipe (Conam) foram para Cabrobó cerca de 150 mulheres, de vários cidades de Sergipe. Uma delas foi a aposentada Cleonice Silva, de 65 anos, que mora no bairro Santa Maria, em Aracaju. “Eu nasci em Penedo, em Alagoas, e tomei muito banho no rio São Francisco, mas de uns anos para cá ele está se acabando”, lamenta. A presidente do Conam Mulher, Iracema de Mecenas, diz ter a certeza que o presidente Lula vai resolver a situação. “Sensibilidade é uma coisa que nunca faltou aos brasileiros. Nós do Conam não somos contra a transposição, mas defendemos que antes seja feita a revitalização do rio”, comentou Iracema. Além dos sergipanos, foram até Cobrobó representantes de tribos indígenas, pessoas ligadas a pastorais da Igreja Católica na Bahia e Pernambuco e membros de ONGs que trabalham com o meio ambiente. O Grupo Ambientalista da Bahia (Gamba) entregou uma carta de solidariedade ao frei Luiz Flávio. Eles ainda levaram cinco mudas de umbuzeiro para serem plantadas à beira do rio São Francisco, na fazenda Bela Vista, onde fica a capela que o frei está há dez dias. Canecas penduradas eram repletas de água do rio São Francisco para quem queria matar a sede provocada pelo calor de mais de 30 graus. “A água do rio São Francisco é água de Deus. Sem esse rio nós não somos ninguém”, desabafou. SANFONEIROS – O sanfoneiro Jailson do Acordeon, de Sergipe, teve a honra que embalar os cantos da missa celebrada ontem pelo frei Luiz Flávio Cappio. “Sem o rio São Francisco o Nordeste vira um deserto. A gente espera que o frei vença essa luta e que as autoridades se sensibilizem”, comentou o forrozeiro que se emocionou em vários momentos da celebração. “O Velho Chico está morrendo. Temos que fazer uma forcinha para ele sobreviver. Devemos ter muita alegria e falar decente para eles respeitarem o que a gente quer”, orientou o sábio sanfoneiro, referindo-se ao governo federal. Por Janaina Cruz Da redação do Portal InfoNetForam cenas bonitas de se ver. Gente de todo lugar e de todo tipo enfrentando uma longa fila para dar os parabéns, prestar solidariedade, pedir uma benção ou simplesmente beijar a mão do frei Luiz Flávio Cappio, que há dez dias está em greve de fome contra a transposição do rio São Francisco.
E o que não faltou na fazenda Bela Vista, na região seca e quente do sertão pernambucano, foi solidariedade. Um dos filhos do dono da fazenda, o agricultor Denilton Pereira, natural de Cabrobó, organizou um mini-posto de distribuição de água.
Outro sanfoneiro que participou da comitiva foi Antônio Carlos do Traipú. Já na saída para Cabrobó, ainda na praça da Assembléia Legislativa, em Aracaju, ele cantava e tocava músicas exaltando o rio São Francisco.
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