Continua no Fórum Gumersindo Bessa a sessão de julgamento dos três acusados pela morte do procurador do Estado aposentado e ex-delegado de polícia Antonio de Melo Araújo, atropelado na zona de expansão no dia 4 de abril de 2014. A fase da instrução foi encerrada na quinta-feira, 29, com o depoimento dos réus e prossegue nesta sexta-feira, 30, com debates e manifestações do Ministério Público e dos advogados que atuam na defesa dos réus.
Nesta sexta-feira, 30, os réus não estão presentes à sessão. O juiz Alício de Oliveira Rocha, presidente do 1o Tribunal do Júri, acatou o pedido da defesa e determinou que os réus ficassem recolhidos, em sala isolada no próprio Fórum Gumersindo Bessa, para aguardar o resultado final do julgamento. O promotor de justiça Rogério Ferreira foi o primeiro a fazer as considerações, baseado nas provas anexadas ao processo. Ao iniciar o debate, o promotor de justiça classificou como psicopata a viúva Anoilza Santos Gama Melo de Araújo, principal suspeita de articular o acidente de trânsito ocorrido no dia 4 de abril de 2014 em Aracaju, que matou o procurador aposentado.
Na ótica do promotor de justiça, Anoilza Gama envolveu muita gente, utilizando-se do poder de convencimento que possui para conseguir objetivos maiores, entre eles articular o plano para retirar o procurador aposentado de seu caminho. “O psicopata suga seu sangue e vampiriza sua alma”, observou o promotor, durante a sessão de julgamento na manhã desta sexta-feira, 30. “O psicopata tem poder de convencimento, manipula e usa as pessoas para conseguir seus objetivos e isso ficou bastante evidente na instrução processual”, declarou Rogério Ferreira dirigindo-se ao corpo de jurados.
Além de traçar o perfil da ré, Rogério Ferreira trouxe ao conhecimento de todos situações que colocam em xeque a conduta honesta de Anoilza Gomes. Ele revelou que a acusada também foi denunciada por prática de furto em um supermercado onde ela trabalhava. “Ela é uma predadora social e todos que se relacionaram com ela tomaram prejuízos”, observou. Ao prestar depoimento em juízo na quinta-feira, 29, Anoilza Gama confessou envolvimento em supostos furtos de mercadorias no supermercado, alegando que estaria passando por crise financeira.
A vida privada de Anoilza Gama e do então companheiro foi exposta durante o julgamento, inclusive com a revelação de relacionamentos extraconjugais que a acusada mantinha. Ela admitiu essas relações extraconjugais, observando que fez tudo, com o consentimento do procurador aposentado, por manter “uma relação aberta”, sem que os relacionamentos extraconjugais fossem considerados traições. E completou, revelando que o procurador aposentado era um “tarado de carteirinha”.
Nos autos, apareceram revelações de que o procurador aposentado teria tentado estuprar a filha de Anoilza, inclusive com galanteios que teriam sido gravados pela acusada. Mas a própria filha da acusada desmentiu a versão ao prestar depoimento ainda durante a investigação. Segundo o promotor de justiça, a filha da acusada foi taxativa ao revelar que nunca tinha sofrido abusos do padrasto.
Uma das testemunhas arroladas no processo [identidade preservada pelo Portal Infonet], que se passava como Ana Cecília em cartas amorosas, declarou, em depoimento prestado na quinta-feira, 29, que telefonava para o aposentado, dizendo-se apaixonada e disposta a se divorciar do esposo para ficar com ele. Mas tudo, segundo a própria testemunha, não passou de um plano articulado por Anoilza que tentava encontrar um meio “de se livrar do aposentado”. Uma plêiade, conforme caracterizou o promotor de justiça, que teria contribuído com a morte do procurador aposentado.
Acidente provocado
O promotor de justiça Rogério Carvalho fez uma explanação das investigações e observou que o procurador Antonio Melo andava no acostamento, pela contramão de direção para evitar eventuais riscos de atropelamento, e teria sido colhido pelo veículo pelas costas. Indicando, de acordo com o promotor, que o condutor do carro pegou a contramão de direção na via para atropelar intencionalmente a vítima, cujo corpo chegou a ser arrastado na pista, ainda no acostamento.
Os condutores do veículo ainda não foram localizados. Conforme os relatos do promotor de justiça, eles teriam feito retorno na pista, após atropelar o procurador, e seguiram em sentido contrário na via para abandonar o carro usado para a prática do suposto crime em uma estrada lateral no Mosqueiro. Dali, conforme o promotor, os ocupantes do veículo pegaram um taxi, seguiram para a rodoviária de Aracaju e desapareceram.
Mas o fato dos condutores não terem sido localizados não atrapalhou a condução do processo judicial, que passou pelo indiciamento dos réus, a denúncia do Ministério Público e a consequente pronúncia – momento em que o juiz acata os termos da denúncia. “Caberia ao juiz absolver sumariamente, se o juiz fosse convencido de que não houve homicídio. Os réus não foram impronunciados, há indicativos suficientes de autoria para trazer os réus ao tribunal de júri”, observou o promotor.
A sessão de julgamento ainda não foi encerrada. Prossegue na tarde desta sexta-feira, 30. Os advogados de defesa dos réus [Jairo Ramalho Alves e Isabelle Fontes, que atuam na defesa de Anoilza; Francisco Carlos de Moura, que defende Gabriel Ernesto Nogueira; e Ricardo Henrique Nogueira de Oliveira, que atua na defesa do réu Manoel Nogueira Neto [que é pai de Gabriel Ernesto] entrarão em cena nesta tarde para fazer o debate, contestando as versões do Ministério Público. Ainda não há previsão para o encerramento do júri.
Os advogados contestam todas as versões do Ministério Público, questionam a falta de localização dos dois ocupantes do carro identificado como o veículo que atropelou o procurador aposentado, defendem a realização de novas perícias e garantem que seus clientes são inocentes. Pontos que vão ser colocados nesta tarde. O advogado Ricardo Henrique preferiu não fazer declarações ao Portal Infonet, informando que só se manifestará ao final da sessão de julgamento.
por Cassia Santana
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