Propaganda enganosa ou mais uma droga?

Com somente um click e o desembolso de alguns reais um usuário da internet tem a oportunidade de provar, através da audição, sensações alucinógenas, como percepção de cores, texturas e paladar – características comuns nas drogas ilícitas. Pelo menos, estas são algumas das características anunciadas nos sites que comercializam as drogas sonoras.

 

Para sentir tais sensações, o novo produto exige que o usuário esteja num quarto escuro e com fone nos ouvidos. E a propaganda da mercadoria garante que depois de ouvir minutos destes sons sintetizados e modulados em freqüências até ruidosas, o usuário sente emoções parecidas como a do consumo de substância entopercente. Ao todo, o internauta tem a possibilidade de provar 75 produtos. Alguns deles, chamados como mesmo nome, a exemplo da cocaína e heroína.

 

Os pacotes são variados. Há as doses, que saem por pouco mais de R$ 8; arquivos digitais com nove doses custam cerca de R$ 14, podendo ser ouvidos somente uma vez; ou a compra dos CD’s, onde cada mídia custa aproximadamente R$ 40. Mas para aqueles que queiram somente conhecer a nova sensação, o site disponibiliza inserções gratuitas.

 

Os tipos aparecem em doses com os mais variados nomes. As tranquilizantes como a Calm Me e a Tranquil; as estimulantes, como a Out of Body e a Divinorum; as sexuais, como o Ecstasy, a nova Orgasm;  e as recreativas que reúne Marijuana, Morphine, Cocaine e Heroin.

Criado em 2001 pelo programador de áudio americano, John Aston, 31, o elemento formador dos simuladores é o binaural beat (ou a batida binaural). A técnica, desenvolvida pelo físico alemão Heinrich Dove em 1839, trabalha com a alteração da freqüência cerebral. Onde dois sons de freqüências similares se misturam e criam um terceiro, com uma freqüência intermediária. 

Opiniões

As opiniões são divergentes quanto ao prazer que os simuladores trazem. “A canção da maconha eu ouvi no mesmo dia que conheci, baixei e coloquei no mp3 player, no escuro, deitado, como é pedido. Depois de um tempo eu já tava meio alterado, não que fosse o efeito igual ao da “in natura” mas era semelhante, meio alucinógeno…caí no sono e tive sonhos bizarros”, explica o estudante Dudu, 19,(que preferiu não identificar o nome), ao comentar que conheceu o produto através da própria internet.

Milinha dormiu ao ouvir os sons
“A da cocaína eu ouvi um dia desses e nem curti muito, não me fez efeito algum. Mas também eu não tava no ambiente certo, tava com o computador ligado, conversando, etc.”, complementa. E até brinca: “tava procurando a do LSD esses dias, mas não achei ainda”.

Com um toque de ironia, ele coloca “que é mais seguro do que o uso real das substâncias”, e comenta que deveriam ser feitos mais estudos sobre os efeitos desses sons, “pois aparenta que é um método não muito estudado ainda”.

Diferente de Dudu, Leo (outro que preferiu não identificar o nome) provou o lucid dream (sonhos lúcidos) e não achou nada de interessante. “Fui ao e-mule (programa de compartilhamento de arquivos na rede) e baixei o pacote inteiro. Escutei, e fiquei com um zumbido no ouvido por algum tempo”, explica. Ou como Milinha, 21, que relaxou até demais. “Escutei uma boa parte do tempo. Pouco mais de meia hora. Só que acabei dormindo duas vezes”, sorrindo.

Sem provas

Fábio Leopoldino
Até o momento nenhum estudo comprova as possibilidade de estímulos benéficos ou maléficos que esses sons produzem. De acordo com o neurofisiologista, Fábio Leopoldino, “a utilização de uma droga, está estritamente relacionada por aumentar a atividade do nosso cérebro, ou seja, estimulam o funcionamento fazendo com a pessoa que se utiliza dessas drogas sinta determinado tipo de desligamento da realidade”.

O médico coloca que há determinados riscos que possam vir a surgir. “Com o desenvolvimento tecnológico muitas criações ainda são pouco pesquisadas. como não há nenhum tipo de comprovação científica, e também por ser algo novo, alguns tipos de estimulações sensoriais podem ser perigosas”, elucida.

Mas ele não descarta a possibilidade de que a possível utilização desse som fosse para benefício da saúde poderia trazer importantes avanços. “Imagine um dependente de álcool que está em estado de abstinência. Alguns deles começam ter alucinações, como formigas que sobem em suas pernas. Esse ponto é movido pelo subconsciente. Seria positivo se essa criação fosse para tratamento, onde áreas cerebrais fossem estimuladas, como para pessoas depressivas, ou com alguns distúrbios”, ilustra. E finaliza: “Não causa vício, mas não é recomendável, porque não faz sentido”.

Portal Infonet no WhatsApp
Receba no celular notícias de Sergipe
Acesse o link abaixo, ou escanei o QRCODE, para ter acesso a variados conteúdos.
https://whatsapp.com/channel/
0029Va6S7EtDJ6H43
FcFzQ0B

Comentários

Nós usamos cookies para melhorar a sua experiência em nosso portal. Ao clicar em concordar, você estará de acordo com o uso conforme descrito em nossa Política de Privacidade. Concordar Leia mais