“Reality Show”: violência cultural

Por Pedro Menezes Difícil imaginar a redução da violência no Brasil. No campo ou na cidade não há a mínima sinalização de que o processo se mostrará declinante ou mesmo sob controle. Motivos para explicar são milhares. Nenhum, porém, chega próximo da real dimensão do problema. Não bastassem os reflexos da situação econômica e da terrível exclusão que o país teima em não reverter, surge algo aparentemente inofensivo, mas com elevadíssimo poder de destruição. Chama-se violência cultural televisiva, importada com a alcunha de “Reality Show”. Em um país que pauta seu cotidiano por tudo que prega a programação das redes de televisão, é fácil deduzir o impacto que isto provoca. Empurrados pela competição do mundo atual, milhões de pessoas buscam caminhos mais rápidos para suas vidas. No Brasil, a televisão, o futebol e o rebolado são os grandes atrativos para quinze minutos de fama. A estrutura educacional brasileira, nela mergulhada a pobre e esquecida escola pública, não se apresenta como alternativa para formar e informar melhor as novas gerações sobre alternativas de trabalho. O poder público, apático e desprovido de ações inovadoras, não se apresenta como ator capaz de assumir um novo papel na melhoria social. O mercado e as organizações, por seu turno, querem resultados imediatos, e aí é criado o pior dos mundos. Na falta de perspectivas, pessoas são utilizadas de todas as formas. Do bizarro ao trágico surge sempre alguém para um show. O público, cúmplice, assiste torcendo e querendo novos desafios e testes de resistência para satisfazer instintos adormecidos do inconsciente coletivo. Por um lado não deveria chocar tanto esta nova onda imposta pela TV. Afinal, o cotidiano de milhões de brasileiros não é um “Reality Show?”. Ou será que apenas ficaremos a repetir o chavão do herói Bam Bam, que no seu jeitão caipira diz: “No meu modo de vista, faz parte”. Com certeza não é o melhor dos ”script”. Esta parte deve ser reescrita e reeditada, sob pena de estarmos fomentando outro contagioso tipo de violência, em cores e com a cara de campeão de audiência. * economista, administrador do Portal Qualidade Sergipe.

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