Pedro Rogério Cardoso Barbosa. Esse é o nome do cantor e compositor, o músico-poeta idealizador do já consagrado hino dos festejos juninos em Sergipe: ´Sergipe é o País do Forró´. Rogério, nascido no município sergipano de Estância, tem quase 30 anos de trabalho intenso nos palcos de todo o Brasil, representando o nome de Sergipe como ninguém. Apesar de ser mais conhecido pelo seu forró, ele canta de tudo um pouco, trazendo sua paixão pela música desde os 8 anos de idade. “Comecei profissionalmente na música muito cedo, na época do Beatles. Conheci Seu Luiz [Luiz Gonzaga] quando tinha apenas 8 anos de idade e ele é minha grande inspiração”, diz Rogério, que revela agora, com exclusividade ao PAISDOFORRO.COM, um pouco do seu trabalho e de sua vida. Por Waneska Cipriano PAISDOFORRO.COM – Como surgiu o slogan País do Forró? Como começou tudo isso? De onde veio a inspiração? ROGÉRIO – Foi desde quando eu comecei a encarar realmente o forró na veia. Eu já consumia o estilo um pouco, mas na época eu fazia vários estilos. Inclusive nessa época, que eu lançava um trabalho em nível nacional, eu fui muito discriminado por insistir em ter músicas de forró em meu disco. A gravadora não aceitava, achava muito regional. O sul só começou a consumir forró agora, mas na época eles faziam apenas discos direcionados àqueles forrozeiros antigos. Aquela música nordestina cá no canto, sem apreço, praticamente sem respeito nenhum em nível nacional, em nível de mídia. Mas eu já trazia forrós nos meus discos, até por uma questão de insistência, porque eu sentia que cada área do Brasil tem a sua forma, a sua maneira, de se vestir, de dançar, de se curtir música. Nós temos o Rio Grande do Sul, que não consume forró, eles consomem o Vandeirão deles. O Nordeste, inclusive, copiou um pouco isso deles. Não Sergipe, mas Fortaleza copiou um pouco do Vandeirão. Não usou os instrumentos que eles usam lá, nem as fanfarras que eles usam por lá, mas usou a musicalidade do pessoal, fazendo uma mistura de forró eletrônico com Vandeirão. Mas o Rio Grande do Sul não nos consome, pois consome mais a música européia, americana, a música da região deles. É um Estado muito diversificado, com muitos holandeses, uma cultura oficializada, inclusive eles quiseram ser até um Estado independente, lembra? Imagine que até isso aconteceu. Nós aqui ficamos naquela carência de Nordeste, de música de qualidade. Eu, enquanto artista, senti fervilhar na minha veia a pergunta: “Por que não criar alguma coisa para falar da gente, para falar de nós?”. Na época eu estava fazendo os carnavais de Olinda, Recife, Boa Viagem e circulava com o povo todo do forró, tipo Alceu Valença, Nando Cordel, meus parceiros que até hoje compõe comigo, fazem música para eu gravar, coisa assim. Eu viajando, cantando, fazendo os carnavais, fui também a Paraíba. Fui então começando a captar a musicalidade das canções nordestinas. PAISDOFORRO.COM – Você nessa época, Rogério, já tinha uma boa relação com o sul do país. Tinha um contato na área televisiva com a Xuxa, com a Marlene Matos. Tudo isso facilitou a inserção da música nordestina em nível nacional, não é? ROGÉRIO – Justamente. Foi nessa época mesmo que senti essa carência da música nordestina de qualidade no sul do país. Você sabe que eu fui às televisões 10 anos atrás e fiz todas as televisões do Brasil, mas não conseguia cantar o forró, onde o forró existia no meu disco. A gravadora não deixava eu insistir com o forró. Interessante é que a música do vizinho, a Bahia, foi o maior consumo durante 12 anos. Então eu estava nesse contexto quando comecei a ser conhecido no Brasil. Estavam no auge do sucesso Olodum, Banda Mel, Banda Reflexos e eu, Rogério. Um sergipano inserido nesse contexto, no qual o pessoal de algumas gravadoras queria tirar a minha identidade, porque eu estava chegando ao sucesso. Queriam até transferir essa pessoa para a Bahia. Bahia mesmo e tchau! Já se tinha a receita, a fórmula, então vamos por aqui, porque ele tem cara de baiano, tem jeito de baiano, cabeludo, usa brinco, roupona louca, entendeu como é que é? Era aquele estilo meio ´Luiz Calda´, aquela fórmula que se tinha naquela época. PAISDOFORRO.COM – Interessante você tocar nesse ponto, porque no sul do país – hoje um pouco menos – geralmente quando se fala em Nordeste, todos pensam logo que é Bahia. É Nordeste para eles, é Bahia. Como você fez para quebrar isso com o nosso forró e mostrar que não é Bahia, é Sergipe? ROGÉRIO – Eu estava realmente nesse contexto e tive que quebrar essa história toda. Quando cheguei de um carnaval de Recife – após ter andado pela Paraíba, conhecido muita gente – eu pensei assim: “Nossa! Nosso Sergipe é pequeno, mas tem uma grandiosidade em relação ao forró”. Aqui é pequeno, mas a gente ver a grandiosidade dos nossos festejos juninos em Capela, Areia Branca, Estância, Japaratuba, Muribeca, dentre outros. Isso começou a se passar pela minha cabeça. Pensei em várias coisas na época, sabe? Daqui há pouco falo sobre essa história do PAÍS DO FORRÓ, certo? Pensei em tantas cidades, como na Paraíba, que só tem forró mesmo em Campina Grande; Pernambuco, que só tem Caruaru; e nós, aqui em Sergipe, temos umas 12 a 15, ou 20 cidades fazendo forró ao mesmo tempo no São João. Então, eu que sempre gostei do meu Estado, lembrei de Ivan Lins dizendo assim: “O amor é meu país. O meu amor é o meu país”. Então eu viajei nessa história e pensei que Sergipe é o meu país. Aqui é o País do Forró. Aqui realmente tem forró, em Capela, Areia Branca, Estância e outras. Na época não coloquei Itaporanga, porque o município não estava nesse auge que está hoje. Mesmo assim, no ano passado eu fiz uma música especialmente para Itaporanga – “Itaporanga é amor…”. Foi aí que fiz uma música para o povo de lá. Então surgiu esse movimento e eu coloquei no disco. Quando cheguei na gravadora, imagine só o empecilho para colocar a música em cena! Mas eu cheguei ao ponto de ter que lutar, lutar mesmo. Isso tem mais ou menos uns 10 anos. Então eu comecei a brigar pelo forró e dizendo a todo mundo que SERGIPE É O PAÍS DO FORRÓ, que era o meu sonho de que um dia acontecesse isso. A gente vem lutando a muito anos para que isso de fato acontecesse. Essa é realmente uma frase que foi inclusive consagrada como um dos mais sugestivos slogans do país, em termo de campanha. Isso me deixa muito feliz. Recentemente mesmo estava vendo uma reportagem no SBT, onde tinha a música Sergipe é o País do Forró ao fundo. A música tocando e falando de Campina Grande, Caruaru, de Sergipe, Capela, Areia Branca e, por sorte minha, tem aquela música assim: “Capela, Areia Branca, Estância é do forró”. É uma coisa que, quando chega para tocar, o povo gosta. Ninguém barra, porque é uma música que praticamente virou o hino de um Estado. Além disso, ela toca em qualquer parte do país, porque é uma música gostosa, não traz nada de briga, bairrismos exagerado. Não! Sergipe é o meu país! É o meu país do forró. Vamos lá, gente boa, porque lá tem forró! Sorrindo, feliz, tranqüilo, para que o povo realmente sinta que a gente é o País do Forró. PAISDOFORRO.COM – Como você classifica hoje o São João sergipano? Toda a estrutura, organização do evento, ou seja, o São João de uma maneira geral. ROGÉRIO – Eu acho que, por levar esse título de ´País do Forró´, deveria-se – não é eliminar o que vem de fora, pois todo mundo tem seu espaço – priorizar a galera sergipana que faz um trabalho sério. Não é também qualquer pessoa. Só porque é sergipano tem que está ali? Não é nada disso não. As pessoas que fazem um trabalho de responsabilidade, que têm um compromisso com a música, que defendem o Estado, que vão à luta para fora do Estado dizendo, por exemplo, faça de conta que eu sou “Paulo” (produtor) falando de Rogério, e comentando que Rogério é um cara que segura a onda dele e aonde ele vai fala o tempo inteiro que Sergipe é o País do Forró. Isso sem interesse de posto, de cargo, de nada. O meu cargo, o meu partido é o Partido Musical Brasileiro – PMB, está me entendendo? E sergipano mais ainda! A minha briga, a minha luta, é para que a gente seja valorizado, porque sem valor, sem requisitos para se manter um trabalho elevado, sem recursos financeiros, é difícil se realizar um bom trabalho. Existe uma diferença de educação e formação financeira. Você pode ser uma pessoa pobre e ser educada. As pessoas têm que entender que música não se faz assim, do nada, em um piscar de olhos. Não, não é assim. Existe todo um processo que faz da música hoje uma das coisas que traz dinheiro a um país. Se ela acontece, vai ao ouvido de todos os brasileiros, é uma coisa de consumo. Então, a mídia faz aí sua eleição em cima disso, mas uma eleição totalmente errada. Podia-se colocar assim: “Querem ganhar dinheiro? Então façam uma coisa de qualidade”. Divulgue no mercado, porque faz um efeito bem melhor do que aquela coisa descartável. Primeiro, que ajuda a cultura; segundo, o artista que está dentro daquele contexto e que faz um trabalho sério vai se sentir feliz e estimulado a produzir muito mais. Da forma que está hoje, fica totalmente ao contrário. O artista vai perdendo o tesão, quer fazer um trabalho sério, mas quando olha para frente pensa logo: “Eu? Sozinho contra esse mundo de maré que não é a favor?”. Então acaba morrendo na praia. Só que esse não é o meu caso. Não é mesmo! PAISDOFORRO.COM – Você está lançando agora seu 10º CD, não é? Fale um pouco desse trabalho. ROGÉRIO – Esse CD é titulado de “Sergipe é o País do Forró”. Estou querendo lançar esse mês ainda, mas eu estou numa – como a gente chama na linguagem popular – ´pendenga´ de resolver umas coisas aí, porque hoje eu sou um artista independente. Hoje eu não tenho uma gravadora na mão justamente por esse detalhe, por querer forçar a barra do forró. Na época eu não tinha essas condições todas de eu querer forçar a barra do forró. Luiz Gonzaga, que é Luiz Gonzaga, não teve a condição de atingir! Agora é que o povo chama “Seu Luiz! Seu Luiz! Seu Luiz!”. Por que não fez isso quando ele era vivo? A mídia mesmo, a rede Globo, por exemplo. Por que não fez isso quando ele era vivo? Por que não disse assim: “A música brasileira está aqui, dentro desse homem!”. Como fizeram com Tom Jobim, por exemplo. Elegem algumas pessoas, mas tem que se entender que existem outras para se eleger, como foi Luiz Gonzaga. Ele deveria ser mais fortalecido. De qualquer forma, ele é fortalecido um pouco hoje, porque tem a garotada jovem que fez uma mistura, pegou o forró dele e dos meninos de agora. Mesmo assim, acho que deveria falar “Seu Luiz” há muito tempo, ele em vida e ele em morte. Como se fala de Tom Jobim, ele em vida e ele em morte. PAISDOFORRO.COM – Qual sua agenda de shows para agora? ROGÉRIO – Dois shows na Bahia, Ierecê, Xiquexique; Estância e Areia Branca, dia 23; Forró Caju no dia 28, abrindo para Elba Ramalho; dentre outros, como Rosário do Catete, Encontro Cultural de Estância, etc. PAISDOFORRO.COM – Você conheceu Luiz Gonzaga quando tinha 8 anos, não é? Fale um pouco sobre isso? ROGÉRIO – Sim, é verdade. Comecei profissionalmente na música muito cedo, na época do Beatles. Conheci Seu Luiz [Luiz Gonzaga] quando tinha apenas 8 anos de idade e ele é minha grande inspiração. Ele sempre freqüentava minha terra, Estância. Tinha um amigo dele das antigas que morava lá. Lembro dele tocando a sanfona branca lá na casa de meu amigo. Eu ficava pegando nele, ´corujando´ ele, sabe? Luiz Gonzaga até perguntou para o pai desse meu amigo assim, referindo-se a mim: “Esse moleque aqui, de onde é? Que fica todo dia aqui quando eu venho?”. O pai do amigo respondeu: “É o filho de um amigo meu. Ele gosta muito de música. Ele é o nosso chaveirinho, porque para todo lugar que a gente vai ele vai com a gente”. Eu era muito ligado a essa família, de um pessoal da Bahia, que havia ido morar em Estância e tinha feito grande amizade com minha família. Foi aí que conheci o “Véio Lula”. Após muitos anos vim encontrar com ele aqui, em Aracaju, no Circo Amoras e Amores – naquela época que tinha um circo aqui na praia. Naquele momento fiz a abertura da apresentação com ele e, quando ele me viu – ele já estava com problema no olho, meio cego, já não tocava mais duas horas, apenas uma hora, já cansadinho, velhinho mesmo – ele olhou para mim e eu disse logo: “Seu Lula, o senhor lembra de mim?”. Ele disse: “Meu filho é tanta gente que eu conheço”. Daí eu disse: “Mas o senhor lembra daquele molequinho, que ia lá na casa de seu Nôzinho, em Estância?”. Aí ele se lembrou e disse: “É o velho Nozinho, lá de Salvador, é? Lembro sim. Da época da Rural, em que quando menos se esperava você tava lá no show e seu pai ia te buscar, né?”. Ele então se admirou e disse assim: “E você já está fazendo show assim, é? Abrindo show para mim?”. Eu então falei que cantava aqui em uma casa de show; que já morava em Aracaju; que viajava muito para Salvador, Recife, ao sul do país. Tempos depois ainda fiz mais um show com ele e Nando Cordel lá em Recife, pouco antes de ele morrer. Ele foi para botar a voz com Marinês, com o próprio Nando Cordel, aquela música “A todo mundo dou psiu…”. Um ano depois ele morreu. Quer dizer, morreu não, ele está com a gente. Veja que eu até me arrepio quando falo nele, porque é uma relação de energia mesmo, sabe? Depois de meu pai ele é o homem que me deu a luz. Nunca sonhei com ele, nunca ouvi ele falar ao meu ouvido não, mas eu sinto no meu coração e na cabeça essa energia. Eu sinto que captei alguma energia positiva dele na música. Inclusive, até uma certa feita, quando eu gravava aquela música “Santo forrozeiro é seu Luiz…”, eu me arrepiei como agora, pois ele é o meu pai do forró. Eu me considero um dos discípulos de Luiz Gonzaga. Eu me inspiro nele, o meu canto, a minha voz quando ela entra num clima desse nível aí, sabe? É o que me faz viver e manter essa minha linha de cantar tudo, só não canto blues e opera, ou coisas assim. Eu sempre vivi muita música dentro de casa, muitos discos, muito som na minha cabeça, sabe? Acompanhe mais detalhes dos festejos juninos em Sergipe, no site especial da InfoNet: www.paisdoforro.com.
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