Rosa Luxemburgo, esquecida no Dia Internacional da Mulher

Acredito que 1999 foi o ano em que as comemorações do Dia Internacional da Mulher (março) se revestiram de maior interesse no Brasil, sobretudo evocando a luta enfrentada pelas mulheres para que hoje possam ocupar posições em todos os setores da sociedade. Foram evocadas e enaltecidas as lutadoras, as heroínas que, desde a Revolução Francesa, vês enfrentando a reação com denodo para que chegássemos à situação atual.

 

Mas, em vão, busquei nos pronunciamentos, nos artigos, nas entrevistas, alguma referencia a uma mulher que viveu lutando por um mundo melhor e mais justo, e que pagaria com a morte o sonho vivido. Ela se chama Rosa Luxemburgo (1871/1919). Nasceu em uma abastada e culta família judia da Polônia, país que era, então, socialmente, um dos mais atrasados da Europa, onde os grandes proprietários rurais monopolizavam o poder explorando a maioria da população, especialmente os camponeses.

 

Rosa foi uma adolescente dedicada aos estudos mas, tomando posições de combate contra o retrógrado sistema educacional vigente no país, tornou-se militante das idéias socialistas, combatendo a política reacionária em vigor na Polônia, o que a obrigaria deixar o país para escapar da prisão. Buscou a cidade de Zurich, na Suíssa, onde cursou a Universidade, concluindo o curso de Economia Política apresentando a tese sobre o desenvolvimento econômico da Polônia nos fins do século XIX. Não encontrando aí condições para militar suas idéias socialistas, deslocou-se, em 1898, para Berlim, então importante centro do movimento socialista europeu, ao qual se integraria mantendo posição importante. Era a época em que se discutia, principalmente, a forma da transição para o socialismo e o caminho a ser seguido, e nos escritos de Marx e Engels não eram encontradas respostas definidas. Os chamados revisionistas tentaram encontrá-las, destacando-se Bernstein e Kautsky, principalmente para estas perguntas: Poderia chegar-se ao socialismo por meios pacíficos? Poderia a classe operária chegar ao socialismo por meio das instituições parlamentares existentes?  

 

Rosa Luxemburgo se opôs ao revisionismo de Bernstein publicando Reforma Social ou Revolução, no qual dizia que enquanto o Capitalismo vigorasse, suas crises e contradições não poderiam ser vencidas, em, afirmar o contrário como fazia Bernstein, seria atingir a própria essência do marxismo, negando os fundamentos do socialismo, tornando-o uma utopia abstrata. O movimento dos trabalhadores deveria lutar por reformas através das atividades sindicais e parlamentares. Não conseguindo por esse meio abolir as relações capitalistas, não dever jamais perder de vista seu objetivo final: a conquista do poder pela greve de massa como a forma principal da revolução proletária.

 

Era sua grande preocupação o Imperialismo, que condena ao publicar, em 1913, sua principal obra, Acumulação do Capital, apontando-o como responsável pela ameaça da guerra, que pairava no mundo, pela disputa entre as nações capitalistas e as restavam do mundo não-capitalista.

 

Defendeu o pacifismo e a não participação dos trabalhadores alemães na guerra, quando esta foi declarada em 1914, denunciando no panfleto Junius a posição dos sociais-democratas, e organizando a Liga Spartaco contra a guerra. Tal atitude faria que ela permanecesse nas prisões alemãs a maior parte do tempo da guerra (1914/1918), quando escreveu a Revolução Russa, solidarizando-se com os revolucionários russos, mas criticando a política agrária e das nacionalidades dos bolchevistas, e, sobretudo, a concepção estreita que tinham da democracia socialista. Procurou mostrar-lhes os perigos inseridos na política de restrição severa às liberdades democráticas adotadas pelo poder revolucionário. “Sem uma liberdade de imprensa ilimitada, sem uma vida de associações e reuniões liberta de entraves, é completamente impossível conceber-se a dominação das grandes massas populares. A liberdade é sempre a liberdade daquele que pensa de modo diferente. A missão histórica do proletariado quando chegar ao poder é a de criar, no lugar da democracia burguesa, uma democracia socialista e não a de destruir toda a democracia”. Explica-se, assim, a animosidade de Stalin contra ela.

 

Com o fim da guerra e a proclamação da República da Alemanha, em novembro de 1918, Rosa Luxemburgo saiu da prisão. A república de Weimar instalada, não correspondia aos anseios do povo alemão. Em janeiro de 1919, um núcleo radical dos socialistas partiu para a luta, recusando qualquer entendimento partidário, contra a opinião de Rosa Luxemburgo e Liebknecht que percebiam não se contar com organização militar para o movimento. Permaneceram, porém, solidários como os revolucionários, apesar de discordar do movimento. Como previam, movimento fracassou sendo presos as principais líderes. Rosa Luxemburgo e Karl Liebknecht foram assassinados por oficiais da República em 15 de janeiro com a justificativa de “abatidos durante tentativa de fuga”.

 

Aos 48 anos de idade desaparecida do cenário político Rosa Luxemburgo, Rosa, a Vermelha, como a imortalizaria o grande poeta alemão Bertold Brechet no poema a ela dedicado. Trotsky, em A Minha Vida, descreveu a impressão que Rosa lhe causara quando a encontrou em 1907: “pequena, frágil, doentia, mesmo, ela possuía nobreza de traços, belos olhos que irradiavam espírito e subjugava pela virilidade do caráter e do pensamento. O seu estilo, tenso, precioso, implacável, será sempre o reflexo de sua alma heróica”.  

 

Podemos discordar das idéias políticas de Rosa Luxemburgo. Mas não se pode esquecer que foi ela a primeira mulher a ter participação no movimento socialista europeu em afirmação. Seus livros fazem parte da bibliografia do pensamento marxista mundial. Viveu intensamente buscando a realização do ideal da democracia do proletariado, e por ele morreu fuzilada numa rua de Berlim.

 

Por Maria Thetis Nunes

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