Amiúde dizem que o brasileiro tem memória curta. Será? Como toda afirmativa suscetível de juízo de valor, de apreciação subjetiva, esta também polariza opiniões no que concerne à sua veracidade. Eu, particularmente, tenho sobejos motivos para estar graniticamente convicto de que os brasileiros não somos dotados de invejável memória, máxime no que diz respeito aos – quase sempre lamentáveis – episódios protagonizados por nossos representantes no cenário político.
Por nossas dimensões continentais, hebdomadariamente um, às vezes dois, fatos – não raro envolvendo escândalos – impregnam a pauta dos veículos de comunicação de todo o País, fazendo-nos esquecer por completo o que foi densamente divulgado na semana anterior.
Assim, delinqüentes não são devidamente investigados, tampouco julgados; o patrimônio público é literalmente dilapidado; os recursos que deveriam ser endereçados para áreas prioritárias como Segurança, Educação e Saúde, vão, criminosa e impunemente, encher de cifras saldos já milionários de parasitas da Nação que, além de tudo, se dão o luxo de “trabalhar” apenas metade da semana.
Nos últimos dias, dois eventos ocuparam todo o espaço dos noticiários, exorcizando das nossas mentes os fantasmas gerados pelas incontáveis denúncias – verídicas ou não – passíveis de rigorosa investigação. Todavia, pelo “andar da carruagem”, seus autores e atores tendem mais a ser olvidados do que ouvidos e punidos, se este for o caso.
O Brasil ainda contabiliza, carpindo dolorida e copiosamente as vítimas do acidente ocorrido no aeroporto de Congonhas, o mais trágico da história da nossa aviação, superando, em número de óbitos, até o exício, de mesma natureza, pranteado há apenas dez meses! Ninguém, mas ninguém mesmo, tem palavras que possam explicar, muito menos justificar, plausivelmente, tão ingente fatalidade.
Por ironia do Destino, entretanto, a Nação que deplora suas mazelas é a mesma que, paralela e simultaneamente, comemora as êneas, argênt’eas e áureas medalhas conquistadas por seus briosos atletas nos mais diversos prélios do Pan.
Dois acontecimentos diametralmente opostos em sua essência, em sua natureza, guardam, porém, no recôndito algo em comum: apagar da nossa lembrança todas as falcatruas detectadas pela competente Polícia Federal nas semanas e nos meses antecedentes. Isto é inaceitável, isto é inadmissível. Tenho a sensação de ver Camões escrevendo em sua obra imortal: “Cesse tudo o que a Musa antiga canta, que outro valor mais alto se alevanta” (Lusíadas – Canto I-3-7/8)
Como gostaria que todos refletissem acerca desta áspera realidade! Sei, contudo, que este despretensioso alerta talvez seja tão irrelevante quanto uma gotícula no incêndio da floresta. Sinto-me confortado, todavia, por ter feito – ou pelo menos tentado fazer – a minha parte. Fiz o que pude e, segundo o meu venerando Prof. Paulo Machado, “quem faz o que pode, faz o que deve”.
* Colaboração: Prof. Vasko – Advogado e radialista