Transporte coletivo e o desafio da acessibilidade

Dificuldades são maiores para idosos e deficientes
Dona Valdina reclama de degraus altos
Dona Jacira repudia o deboche aos idosos
Após quatro tentativas, Marcos embarcou
A jovem Nayana critica tratamento dado aos passageiros idosos e deficientes
Ônibus como este da foto representam 11% da frota 
72% dos ônibus de Bauru têm adaptações (Foto: Rodrigo Padilha Rodrigues)
Além de enfrentar os mesmos contratempos que qualquer usuário do sistema de transporte público de Aracaju, os passageiros idosos ou com algum tipo de deficiência física ainda precisam carregar outras dificuldades escada acima ao entrar em alguns veículos que fazem transporte coletivo na capital.

A falta de acessibilidade adequada às pessoas especiais ou com mais de 60 anos funciona como um teste de resistência a estes passageiros que nem sempre conseguem superá-lo. São diversos os obstáculos existentes desde o ato de dar o sinal para o motorista até conseguir se acomodar em um assento. E eles começam na hora de subir a escada.

“São só dois degraus, mas quando eu termino de subir, meu filho, é uma dor braba. E se antes eu já sofria, agora que preciso conviver com uma lesão séria nos dois joelhos piorou tudo”, diz dona Valdina, de 65 anos. A Associação Brasileira das Normas e Técnicas (ABNT) define que a altura destes degraus em relação ao solo deve ser de, no máximo, 38,1 centímetros, mas muitos deles ultrapassam os 45.

“Falta bom senso da população”, diz idosa

Mas as queixas vão muito além e respingam na própria população. Dona Jacira Pereira, de 71 anos, precisa todos os dias utilizar o transporte coletivo da capital. Antes de fazer valer a lei que concede assentos especiais a idosos e deficientes, ela espera que a lei do bom senso seja aplicada, mas em alguns casos é preciso lembrar aos mais jovens do direito que possui.

“Muitos deles não dão, mesmo pedindo, e eu não posso fazer nada e preciso seguir viagem em pé”, conta. Questionada se nestas situações o motorista ou o cobrador intercede, ela relata que a maioria debocha, principalmente quando se desequilibra nos momentos em que o ônibus faz uma curva ou passa por um quebra-mola ainda precisa escutar piadinha. “Eles gritam: “segura, minha vó” e caem na gargalhada”, relembra.

Deficientes reclamam de descaso dos motoristas

Entre os portadores de deficiência o maior desafio está em fazer o motorista parar o ônibus. Um diretor da Associação de Deficientes Motores de Sergipe (ADMSE), Marcos Antônio, diz que muitos passam diariamente pela situação e aceitou o convite do Portal Infonet para fazer um teste em um ponto de ônibus na rua Cedro, no bairro Salgado Filho. Ele só conseguiu embarcar no quarto veículo para o qual deu sinal.

Na estrutura interna de parte dos ônibus há apenas o cordão superior para solicitação de parada e faltam os recomendados botões que facilitariam muito a vida de José Lealdo, que possui problemas nas articulações dos braços. Na grande maioria dos veículos não há um elevador que facilite o acesso dos que dependem da cadeira de rodas.

Fora essas inadequações, ainda existem os próprios danos causados pela falta de manutenção que põem em risco a vida de qualquer um, mas principalmente dos deficientes. “Dia desses no ônibus Circular Shopping uma espécie de acesso que há no assoalho estava se abrindo. Se eu tivesse algum tipo de deficiência não estaria mais aqui pra contar essa história”, acha a jovem Nayana.

Campanhas educativas e melhor acessibilidade no futuro

De acordo com a presidente do Conselho Municipal de Defesa dos Direitos da Pessoa com Deficiência, Maria Gorett de Medeiros, campanhas educativas freqüentemente são feitas para que a sociedade e os trabalhadores do sistema de transporte público saibam receber a pessoa com deficiência de locomoção, mas que tem o mesmo direito de ir e vir.

Em Londrina (PR) a quantidade de ônibus adaptados aos idosos e pessoas especiais gira em torno de 40% da frota, segundo a Companhia Municipal de Trânsito e Urbanização de Londrina (CMTU). Em Bauru (SP) são 72% dos veículos. Já em Aracaju, segundo a Setransp, 50 dos 492 ônibus estão dentro das normas, o que representa 11% da frota.

A assessoria do órgão informa que esse percentual deve sofrer uma variação muito positiva ainda esse ano, quando chegam os 111 novos coletivos que atenderão todos os requisitos de acessibilidade exigidos. Quanto aos casos de recusa do motorista em parar o ônibus, o passageiro prejudicado deve comunicar à SMTT através dos telefones (79) 32494646 e (79)31791436.

Por Glauco Vinícius   







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