Transposição do rio São Francisco é tema de debate na II Semana de Geografia da Unit

Na noite da última quarta-feira, 25, o auditório Padre Melo, situado no Bloco “D”, Campus Aracaju Farolândia, ficou completamente tomado por estudantes do curso de Geografia da Universidade Tiradentes, durante o encerramento da II Semana de Geografia, evento realizado pela coordenação do curso.

E não era para menos. Para discutir um dos temas mais polêmicos da atualidade – a transposição do rio São Francisco – a Unit trouxe para seus alunos dois dos maiores estudiosos sobre a questão do “Velho Chico” no Brasil: o professor M.Sc. Luis Carlos Fontes, secretário do Comitê de Bacia do São Francisco, e o governador do Estado de Sergipe, João Alves Filho. Ambos, opositores ao projeto de transposição que vem sendo imposto pelo Governo Federal.

“Me encheu de satisfação ver as presenças marcantes do governador João Alves Filho e do professor Luis Carlos Fontes, simplesmente duas pessoas altamente comprometidas com o nosso Estado, com a nossa região. Pessoas que não se envolveram com o problema do nosso rio São Francisco por razões políticas. São pessoas de conhecimento técnico e estudos aprofundados para ter a segurança de dizer que o projeto de transposição do nosso Velho Chico, sem a revitalização, é um suicídio. É a busca da morte para os nossos ribeirinhos”, afirmou o magnífico reitor da Universidade Tiradentes, professor Jouberto Uchôa de Mendonça, no discurso de abertura dos debates.

LUIS CARLOS FONTES – Durante aproximadamente 30 minutos, o professor Luis Carlos Fontes fez um paralelo entre o projeto real de transposição do São Francisco e o projeto imaginário – aquele que o Governo Federal divulga. Segundo o estudioso, soam inconsistentes as afirmaçãos da propaganda institucional do Governo de que a transposição é a solução mais viável para acabar com a seca e a miséria no semi-árido do Nordeste, é uma questão de justiça e não causa danos à Bacia do São Francisco.

Para defender seu ponto de vista, Fontes apresentou gráficos, alguns deles extraídos do próprio projeto da transposição, indicadores de que existe água suficiente para o consumo humano, no Nordeste setentrional, pelo menos por mais 30 anos. O que elimina qualquer urgência na transposição do Velho Chico.

“Somente no Ceará e no Rio Grande existem mais de 70 mil açudes, de diversos tamanhos. Cerca de 3.627 km de rios e riachos já foram perenizados no Nordeste. É quase que o comprimento do São Francisco. Então, o problema não é de necessidade de água. É de distribuição”, ressaltou o professor.

Luis Fontes apontou soluções mais baratas e rápidas para resolver o problema de água, como a construção de adutoras para atender a população urbana, e de cisternas na zona rural. “Se o governo tem tanta pressa, por que não investe maciçamente em projetos como esses?”, indagou.

Quanto à ilegalidade do projeto de transposição do São Francisco, o professor Luis Carlos Fontes ressaltou que o ponto de captação em Cabrobó-PE ficará exatamente em terras indígenas, o que é inconstitucional: “A justiça ainda não se pronunciou e nós estaremos recorrendo ao Congresso Nacional, pois a Constituição diz claramente que a autorização para captação de água em terras indígenas é competência do Congresso”.

Além de todas essas afirmações, Fontes ainda contestou o alto custo do projeto e afirmou que a transposição imposta pelo Governo causará problemas sérios no consumo de energia elétrica.

“O SÃO FRANCISCO ESTÁ NA UTI” – “Digo sem medo de errar que o São Francisco está na UTI. Pensar em transposição nessa situação é um crime. Nunca vi na minha vida de homem público ninguém tentar dividir a região Nordeste. Hoje o Governo Federal diz que existe um Nordeste Setentrional e um Nordeste Meridional. Isso é querer implantar um conflito perigoso entre irmãos. Não podemos dar o que não temos”. Estas foram algumas das palavras do governador João Alves Filho, que, assim como o professor Luis Carlos Fontes, não concorda com a transposição projetada pelo Governo Federal. O governador salientou que a transposição deve partir de duas premissas básicas: a revitalização e o aumento da vazão do rio. Na ótica de João, a transposição pode ser feita dentro de uma linha de racionalidade técnica e ecológica, o que demandaria, no mínimo, 10 anos: “É preciso avaliar custo/benefício e se há outras providências mais rápidas e eficientes”.

Além de comprovar tecnicamente que o projeto do Governo Federal não tem garantia de revitalização nem a aprovação do Congresso Nacional e do Banco Mundial, João Alves ressaltou a ausência de uma discussão mais ampla com a sociedade sobre o assunto. De acordo com o governador de Sergipe, pequenas adutoras, poços artesianos, cisternas e canais de distribuição seriam a solução para a falta de água nos estados do Ceará, Rio Grande do Norte e Paraíba, a custos menores e com mais eficácia.

Portal Infonet no WhatsApp
Receba no celular notícias de Sergipe
Acesse o link abaixo, ou escanei o QRCODE, para ter acesso a variados conteúdos.
https://whatsapp.com/channel/
0029Va6S7EtDJ6H43
FcFzQ0B

Comentários

Nós usamos cookies para melhorar a sua experiência em nosso portal. Ao clicar em concordar, você estará de acordo com o uso conforme descrito em nossa Política de Privacidade. Concordar Leia mais