Vida de escolas invadidas volta à normalidade

Em escola, professores fazem mutirão da limpeza (Fotos: Cássia Santana / Portal Infonet)

Na manhã desta segunda-feira, 30, a rotina da Escola André Mesquita, no Santa Maria, parecia retornar à normalidade, não fosse a greve deflagrada pelo Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Estado de Sergipe (Sintese). Mesmo em greve, os professores daquela escola atenderam ao apelo da diretora da escola, Patrícia de Aragão, para participar do mutirão e realizar a limpeza na unidade de ensino, que fora invadida por desabrigados no dia 18 deste mês. As aulas permanecerão suspensão enquanto a greve perdurar, mas há exceção.

Conforme informações da diretora, as aulas para os alunos matriculados no Programa Educação Para Jovens e Adultos (EJA), ministradas à noite, serão reiniciadas nesta terça-feira, dia 31. São três turmas, que totalizam 53 alunos, em fase adulta. E, em função da idade, a suspensão das aulas por longo período poderia desestimulá-los e, como consequência, um incentivo à evasão escolar. “Os professores do EJA optaram por não aderir à greve porque têm medo de perder os alunos”, comenta a diretora.

Patrícia: alvo de ameaça de invasores

No dia 18 de maio, as famílias retiradas da Orlinha do Santa Maria iniciaram um protesto e invadiram a Escola André Mesquita, o que provocou a suspensão das aulas antes mesmo de iniciado o movimento grevista articulado pelo Sintese. A retirada das famílias só aconteceu mediante decisão judicial em favor da Secretaria de Estado da Educação (SEED) em ação de reintegração de posse.

Houve resistência e a diretora Patrícia de Aragão passou por momentos de sufoco, envolvendo inclusive ameaças, ocorrida na tarde da sexta-feira, 27, quando o Estado executou a decisão judicial. Quando avistaram a aproximação da Polícia, os invasores tentaram fugir e até fizeram um buraco no muro do colégio por onde passaram. Mas o clima de tranquilidade, segundo a diretor, voltou a reinar e os invasores acabaram abandonando o prédio.

Invasores se alojam ao lado da PMA

Nesta segunda-feira, 30, o clima de tranquilidade na escola permaneceu, apesar da sujeira deixada pelas famílias que invadiram o imóvel. Até o ventilador, segundo denúncia de professores e zeladores, foi danificado pelos invasores. Nas salas de aulas, o rastro das famílias: cartazes produzidos em cartolina por alunos, sob orientação pedagógica dos professores, rasgados e a cozinha completamente dominada pela sujeira.
“Os professores estão em greve, mas vieram hoje (segunda-feira, 30) porque eu convoquei, implorei, solicitei a presença deles para que pudéssemos realizar um mutirão para fazer a limpeza da escola”, comenta a diretora Patrícia de Aragão.

Sem resistência
O Colégio Albano Franco, invadido por desabrigados da invasão da Mangabeira, no Santa Maria, também voltou à normalidade nesta segunda-feira, 30. As famílias, que passaram onze dias acampadas nas salas de aula, começaram a deixar as instalações da escola, sem resistência, no final da semana passada. No domingo, 29, saíram as últimas quatro pessoas que insistiam em permanecer alojadas naquela unidade de ensino, segundo informações de um dos vigilantes da escola.

No Albano Franco, a equipe de reportagem do Portal Infonet foi recepcionada por este vigilante, que prefere manter-se no anonimato. Ele evitou que a equipe do Portal entrasse na escola, mas informou que as aulas retornariam à normalidade ainda nesta terça-feira, 31. Ali, a maioria dos professores não aderiu à greve articulada pelo Sintese. Segundo informou o vigilante, trata-se de professores contratados pela Secretaria de Estado da Educação para suprir a demanda.

Ao lado da Prefeitura

Francisca: dividia casa com cinco cunhados

As famílias retiradas do Colégio André Mesquita permanecem acampadas ao lado do Centro Administrativo Prefeito Aloísio de Campos, no Conjunto Costa e Silva. As famílias reclamam da falta de assistência da Prefeitura de Aracaju e informam que só deixam a rua, tomada por barracas improvisadas e cobertas por lonas, quando brindadas com uma casa própria ou quando a PMA decidir alojá-las em galpão ou em casas alugadas.

Uma das coordenadoras do movimento pela invasão à escola, Maria Cícera Pereira, estava pela manhã na porta da André Mesquita e informou que o grupo é formado por 280 pessoas, incluindo crianças, e que todos permanecerão acampados ao lado da PMA na busca de entendimentos com o prefeito Edvaldo Nogueira. No acampamento improvisado, as famílias tentam sobreviver. “Aqui a gente faz tudo de forma coletiva. Um dá um tostão, outro dá outro e, quando não, a gente sai de porta em porta pedindo esmola e o povo dá”, diz a dona de casa Francisca Santos de Oliveira.

Maria Cícera: líder do movimento pela invasão à escola

Ela revela que invadiu uma área na Água Fina, no Santa Maria, há cerca de seis meses porque dividia uma casa de herança do marido com cinco cunhados e os filhos do casal (três dos quais do primeiro casamento do marido, Marcelo Matias, um pedreiro que recebe remuneração de um salário mínimo, segundo a esposa). “Não tem como morar todo mundo junto e com um salário mínimo não temos como comprar uma casa nem pagar aluguel”, justifica.

Rogéris Bispo Santos está desempregado, é também um dos invasores. Segundo revelou ao Portal Infonet, ele perdeu o emprego recentemente. “Tudo por que fui expulso da invasão com meus dois filhos. Ou o emprego ou a casa”, contou. Ele revelou que também invadiu a área na Água Fina há cerca de seis meses. “Ninguém aqui é vagabundo, todos trabalham e querem ter uma casa digna”, diz.

A Assessoria de Comunicação da Secretaria Municipal de Assistência Social e Cidadania (Semasc) informou que todas as famílias que estão acampadas ao lado da PMA foram cadastradas recentemente e que serão inclusas em futuros projetos habitacionais da PMA. Mas nenhum deles terá auxílio moradia porque são invasores recentes. A Assessoria de Comunicação informou ainda que, no mês de março deste ano, técnicos da Semasc percorreu todas as áreas de invasão do Santa Maria e não havia moradores por lá naquela ocasião.

Por Cássia Santana

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