Primeiro Lugar Sou sergipana de Aracaju, de abril, do dia 10. Acho muito forte ser de 10, não 9. Não me interessa o segundo lugar. É de personalidade. Sempre estive em primeiro lugar. Passei o primário todo em primeiro lugar. Estudei em colégio público, no Ateneu, e tinha orgulho disso. Desfilava minha farda no 7 de setembro com muito orgulho. Hoje em dia, o ensino público é uma bandalheira e quem tem uma condição um pouquinho melhor, tá pagando escola particular. Minha Geração Minha geração leu muito. Eu, aos 16 anos, já tinha visto algo de Sartre, Simone de Beauvoir. Era cultura a uma maneira francesa. Era chique ler autores franceses. E não tinha essa coisa de inglês, de americano, que agora dominou tudo. Nós fomos obrigados a refletir. Tínhamos muita informação que nos exigia reflexão e discussão. Minha geração sentava em mesa de bar para discutir a teoria da liberdade de Jean Paul Sartre, o segundo sexo de Simone de Beauvoir, relação aberta, relação fechada, o sentido estrito e personalíssimo de liberdade. Estávamos influenciados pela “liberdade, igualdade, fraternidade” e queríamos isso para nós. Fomos a última geração feliz a não ser massacrada pelo roldão da cultura americana que é rasa ainda e acabou com muita coisa boa – como o cinema europeu. O cinema não é essa coisa de milhões de dólares para destruir carros, cidades, planetas, galáxias… Não é isso. É construir pessoas, relações, um mundo melhor. Sou da geração do pós-guerra. Tínhamos esperança de um mundo melhor e trabalhávamos por isso. Queríamos cuidar da natureza, dos animais, do ser humano, da qualidade do pensamento. O ser humano não está pensando. Está engolindo tudo e cuspindo lata. Medicina Sou médica formada. Fiz minha especialização no Rio de Janeiro e me tornei psiquiatra e legista. Fui trabalhar no Instituto Médico Legal de Sergipe mas só fiquei uma semana. Não podia compactuar com a realidade daquela época; eram cadáveres achados no rio São Francisco que chegavam sem mãos e cabeças. E eu sabia que eram estudantes que faziam protesto contra a ditadura. Não dava para mim. Só faço o que gosto e ninguém me manda. Preferia ganhar dinheiro sem ter que vender minha alma ao diabo. Áries Acredito no zodíaco, claro. Não tem manga em julho. Se tiver, nem coma porque vai dar dor de barriga. As frutas vêm em temporadas, as flores, em estações. Sou uma flor de abril. Sou terrena. E sofro influência dos astros, da Lua. As marés sofrem! Tenho 70% de água no meu corpo. Só porque tenho cérebro a Lua não vai influir nos meus 70% de água? Vida de Artista Sempre trabalhei com arte. Aos 6 anos, fui atriz principal de uma peça. Conheci os aplausos, as luzes da ribalta, as flores no camarim… Queria essa vida de artista e não de médica. Vida de médico é um saco! Essa coisa de repetir uma rotina de segunda à segunda não foi feita pra mim. Jornalismo Gosto muito. Sou médica mas me apresento, orgulhosa, como jornalista. Sou profissional por exercício. Comecei em 66, na Gazeta de Sergipe como colunista social. Minha coluna dobrou a vendagem da Gazeta. Trabalhei em todos os jornais. Larguei todos. Ninguém me obrigou a escrever o que não queria. O Capital O Capital é o jornal de resistência ao ordinário. Porque o ordinário está em volta, ele nos persegue em várias estâncias. Está tudo muito ordinário; a qualidade de leitura, de imprensa, de ser humano está ordinária. O Capital é um dos poucos jornais do Brasil, e o único de Sergipe, que não tem um coronel, deputado ou político dizendo o que pode e o que não pode ser feito. Essa independência é fundamental para que a informação chegue às pessoas sem ser dirigida ou manipulada. Estou no jornalismo desde 1966. É muito tempo. Tenho uma visão micro e macroscópica desse universo. O tempo me deu isso. Sei onde o diabo dorme, onde a porca torce o rabo, onde a vaca vai pro brejo… Sei disso tudo. E faço a mágica de manter um jornal independente numa terra encabrestada, onde a imprensa é mais fantasticamente atrelada ao poder do que qualquer outro lugar. Escrever Minha família é de escritores. Sempre escrevi. Com 11 anos, tinha insônia e escrevia meu primeiro romance. Teatro Quando penso em não fazer mais teatro, ele vem atrás de mim. Escrevendo, atuando, dirigindo… O trabalho que se tem para montar uma peça é o mesmo que se tem para fazer um filme, um vídeo. Só que quando você termina a peça, só restam as fotografias. É muito cruel. Gosto de trabalhar para a memória. O teatro é fugaz. É o prazer da hora. Lei da Simultaneidade Em qualquer fatia de tempo da minha história, eu vou estar fazendo um filme, um vídeo, escrevendo poesia, escrevendo para jornal, teatro… Sempre fiz tudo junto. Nesse momento, faço o Capital e estou também divulgando o vídeo Auto de Natal que eu mesmo dirigi, escrevi e produzi. Ao mesmo tempo, no Rio de Janeiro, está sendo finalizado um filme de um roteiro que escrevi há 18 anos – Minha Vida em Suas Mãos – produzido e estrelado por Maria Zilda. E estarei no Rio em agosto para o lançamento. E tenho, ainda, minhas poesias publicadas em jornais e revistas fora do país. Sou o maior exemplo de que a lei da simultaneidade funciona. Internet Uma rede enorme! Mas a Internet peca pela quantidade acachapante de informação rasa e sem conteúdo. Onde está o crivo crítico para pegar essas informações sem engoli-las por inteiro? E hoje, toda informação é convertida para venda. A própria cultura entrou no liqüidificador. Ela não se vende. Ela é ingrediente de venda para sobreviver. Cinema Paixão! Via tudo de cinema. Podia ser a pior merda mas via até o fim. Com 23 anos, fui atriz principal de um curta-metragem. Era seqüestrada. Tenho oito roteiros para longa-metragens e dois para seriados. Existia um movimento de cinema em Aracaju mas era de grupos isolados. Ganhei o prêmio de melhor filme no Festival Nacional de Cinema Amador (FENACA), em 1980, mas não levei o cheque. Porque a vitória do meu filme, O Beijo, provocou controvérsia. E isso matou o festival. Essa coisa de cidade pequena que sempre me apurrinhou. Eu não nasci embaixo de uma tampinha de guaraná Antartica! Por Eduardo Lins
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