Ottawa, Canadá, 1999, entrega do 9º Concurso Internacional de Desenho no Corel Draw “…e o primeiro prêmio vai para Adalto Machado, do Brasil…”, mas Brasil? de onde? Sergipe! Respondia Adalto com orgulho de quem nasceu em Nossa Senhoras das Dores, e de menino novo que rabiscava paredes e calçadas da discreta cidade do interior sergipano, hoje ganhava um concurso que teve a participação de 49 países e mais de cinco mil trabalhos inscritos. Ainda com a timidez daquele menino de Dores, Adalto brilhava e era um brilho altenticamente sergipano. PEDAÇOS DE TELHA, GIZ E TIJOLOS… O universo das Artes Plásticas chegou para mim muito cedo. Eu me lembro de quando era criança em Nossa Senhora das Dores, com uns cinco, seis anos costumava rabiscar as calçadas com pedaços de giz que pegava no chão da escola ou com outra coisa qualquer que representasse um risco ou traço, isso para mim era importante porque através daí eu podia representar formas da minha mente, formas, que eu ainda criança imaginava. GRAFITEIROS E COWBOYS… Já teve alguém que uma vez brincou comigo dizendo que eu era o precursor do grafite no Brasil porque teve uma época, ainda menino, que eu cismei de rabiscar paredes… e outra coisa que eu lembro da minha infância é que uma vez na escola eu estava na sala de aula vendo uma revista em quadrinhos de um amigo e desenhando uns cowboys que tinham na revista, foi quando a professora viu e tomou a revista e não devolveu mais e eu fiquei devendo a revista a esse meu amigo até hoje… TINTAS E VIDROS… No interior eu comecei a ter contato com tintas só que ainda de uma maneira bem intuitiva. Usava tinta esmalte e gostava de pintar em vidros, apesar que a tinta esmalte depois de um tempo pintada em vidro tem tendência a soltar, mas eu achava, não sei porque, que tinha que pintar em vidro… ARACAJU! Com quatorze anos eu vim para Aracaju. Trabalhava e estudava e foi aí que eu conheci pintores daqui da cidade: Joubert, Washington, Osvaldo, Welligton, Lourival, já falecido, Inácio… Essa turma toda eu conheci naquela época… Apesar de ser do interior fui muito bem acolhido por eles… O CARISMA… Aliás eu nunca sofri, pelo menos que eu percebesse, algum tipo de preconceito. Todo lugar que chego eu sou bem recebido, seja dentro ou fora do Brasil. Eu lembro que uma vez eu fui expor no Rio, na década de oitenta, e fiquei pensando que não ía conseguir vender nada por ser do Nordeste, até porque é normal existi esses preconceitos, mas cheguei lá e fui muito bem recebido e das vinte e cinco telas que eu levei vendi vinte e três…isso fez com que eu montasse um ateliê no Rio durante quatro anos. No Canadá foi a mesma coisa… ARTISTA, TESTEMUNHA DO TEMPO… Em 76 é que eu comecei efetivamente a lidar com as técnicas de pintura, a preparar tela escolher melhor os pincéis, utilizar o solvente… e pintei um pouco de tudo… mas, principalmente cenas de Aracaju. Pintei coisas que nem existem mais, como o antigo Trapiche, Ponte do Lima, o Mercado na Rua da Frente, que sumiu com vendaval que teve aqui…Hoje esse material está nas mãos de colecionadores e servem como um bom material para guardar a memória da nossa terra COLLOR! Na década de setenta e oitenta era muito mais fácil vender um quadro do que hoje, mesmo com a Ditadura Militar, nós vendiamos muito mais, depois do Collor se tornou um sacrifício vender um trabalho… as pessoas perderam o poder aquisitivo. Quem comprava um quadro antigamente não compra mais… PRÉ-CAJU VERSUS ARTE… Lógico que a mídia também é responsável por isso. Ela motiva as pessoas a consumir o supérfluo… Hoje em dia um pai prefere gastar mil reais em mortalhas do Pré-Caju com os filhos do que pagar mais barato por uma obra de arte. O Pré-Caju dura uma semana, um quadro a vida toda e não perde o seu valor… O COMPUTADOR A SERVIÇO DA ARTE… Eu gosto muito de falar sobre a evolução da arte para reforçar o conceito que o computador existe para contribuir com as artes plásticas. O homem começou a pintar ainda nas cavernas e utilizavam para isso o material que eles dispunham e com o passar dos tempos isso foi evoluindo e o homem foi utilizando outros materiais e aprimorando sua técnica, então o computador apareceu e ele veio para contribuir também. Não que o óleo sobre tela, que é a forma mais tradicional de se pintar, vá acabar, apenas vem surgindo outras possibilidades. O ENCONTRO COM O COMPUTADOR… Foi casual. Eu era como todo artista “anti-computador”, mas a uns seis, oito anos atrás, minha mulher começou a juntar dinheiro na poupança para comprar um computador. Para você ver como são as coisas, antigamente tinha que se juntar dinheiro na poupança para comprar um computador e hoje em dia é tão barato… mas então ela comprou, mesmo eu dizendo que era uma bobagem. Quando ele chegou resolvi mexer nele e pedi umas dicas a um amigo e ele me disse que eu ía ter que estudar muito e eu sou um homem que gosta de lidar com imagens, não com palavras, não por preguiça, mas porque acho que é assim que fuciona, então comecei a mexer… intalaram um programa Corel Draw e eu fui mexendo e comecei a fazer uns trabalhos e mandar para o concurso internacional de desenho que a Corel organizava em Otawa, Canadá, até que no ano passado eu ganhei o prêmio de melhor trabalho na categoria plantas, pessoas e animais e depois o primeiro prêmio geral do concurso. UMA SENHORA FUMANDO CACHIMBO. O trabalho premiado foi criado a partir de uma foto do fotógrafo Álvaro Villela e que veio para em minhas mãos por engano. Quando eu vi a foto, não tive dúvida, pedi permissão ao Alvaro e comecei a trabalhar, depois de umas trezentas horas de trabalho, meu computador era muito lento, a reprodução ficou pronta e eu mandei para o concurso… O RECONHECIMENTO PELO PRÊMIO! Só ouve por parte da imprensa e dos amigos, é claro! O governo nem tomou conhecimento ou melhor só fez eu me desgastar. Fez parte da premiação alguns equipamentos de informática, como micro, impressora e scanner, pois bem, esse equipamento ficou preso no aeroporto durante quatro meses e eu tive que gastar cerca de $$$ quatro $$$ mil reais para que liberassem o equipamento que eu ganhei representando o Brasil e Sergipe. Eu não comprei nada. Ganhei, mas mesmo assim tive que pagar pelo meu prêmio. Talvez se eu fosse jogador de futebol não tivesse tanto problema… O LIVRO… Ele vai ser um livro didático para ensinar passo a passo quem quiser aprender como fazer o que eu faço com o Corel Draw. Acredito que até o final do ano ele esteja saindo. O motivo da demora é que ele vai ter duas versões, uma em português e outra em inglês e eu estou negociando com uma editora americana que já atua neste mercado. Ele já está pronto, só falta fechar com a editora. DE VOLTA AS TINTAS! Eu estou louco para voltar a pintar. E só resolver a questão do meu livro que volto de novo para as telas, tintas e pincéis. Não é demagogia, não! Estou com saudade! Criar no mundo virtual é maravilhoso, mas preciso também do cheiro e do toque da tinta para criar…
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