
No próximo sábado, dia 30, a Organização Não-Governamental Casa de Mar e o Ilê Axé L’Odo Omiró, localizados na Comunidade Zenza, na zona de expansão de Aracaju, realizam um evento que une saberes ancestrais e saúde: o “Ìbànújẹ Ewé – Encontro das Folhas”, como parte da programação do Agostotô 2025.
Em sua segunda edição como projeto estruturado, o Agostotô reafirma o compromisso dos terreiros como espaços de cuidado integral e saberes ancestrais. A palavra “Ìbànújẹ”, em iorubá, traduz-se como reunião ou encontro respeitoso, enquanto “Ewé” são as folhas, símbolo de cura, axé e sabedoria na tradição dos povos de terreiro. O nome do evento sintetiza seu propósito: promover um encontro vivo entre gerações, tradições e práticas sobre o uso das plantas medicinais e sagradas como forma de cuidado com a saúde comunitária e espiritual.
De acordo com a Iyalorixá Martha Sales, organizadora do evento e liderança do terreiro, o Agostotô nasceu como uma forma de reafirmar os terreiros como espaços de cura e acolhimento, apesar da constante negação desse papel pela sociedade e pelo Estado. “Existe um racismo estrutural que tira dos Povos Tradicionais um protagonismo também na promoção de saúde. O Agostotô vem ressaltar a importância dessa medicina ancestral em diálogo com os saberes científicos”, afirma.
A Iyalorixá pontua, ainda, que a Casa de Mar no mês de agosto sempre realizou atividades envolvendo a saúde e a cultura popular desde sua fundação, porém, o Agostotô vai ser realizado em sua segunda edição como um projeto pensado para “reforçar os terreiros como espaços terapêuticos, de acolhimento e cura que sempre foram,com sua tecnologia ancestral, mas quase sempre não reconhecidos nessa perspectiva, tanto pelo Estado quanto pelas pessoas de maneira geral no senso comum”, disse.
Katia Aragão, mulher de axé e assistente social sanitarista, integra a comissão organizadora do evento e destaca que a iniciativa surge como um tempo de “celebração, memória e reafirmação da ancestralidade”. Segundo ela, “as folhas são remédio sagrado: cuidam, equilibram e fortalecem. Cada folha guarda em si um oríkì, um cântico de cura e de força e no Agostotô celebramos esse axé, onde o sopro do vento revela que sem folhas não há cuidado, não há terreiro, não há saúde. As folhas são o abraço da natureza sobre nossos corpos e espírito. Reconhecer os terreiros como espaço de cuidado é valorizar essa ciência ancestral que une fé, comunidade e dignidade”, ressaltou.
Um espaço de troca, plantio e cura
Voltado principalmente para mulheres marisqueiras, moradores da Zenza, povos de terreiro, estudantes e profissionais da saúde, o evento busca fortalecer o vínculo entre saberes populares e científicos, valorizando as plantas como aliadas no cuidado do corpo, da mente e do espírito.
A programação do dia começa às 8h30 com uma saudação ao Orixá Ossaim, senhor das folhas, e segue com rodas de conversa, dinâmicas de apresentação, partilhas de experiências e o plantio coletivo de um horto comunitário de ervas medicinais e sagradas. À tarde, haverá práticas terapêuticas promovidas pelo Movimento Popular de Saúde – MOPS, e o encerramento será com um banho de pipoca, em reverência a Obaluaê, o senhor da cura.
Mais do que um evento, o Agostotô 2025 – Ìbànújẹ Ewé é um gesto de resistência, celebração e reconexão. Ao reunir mulheres do mar, saberes de terreiro, ervas sagradas e práticas populares de saúde, a Comunidade Zenza planta, literalmente e simbolicamente, as sementes de um futuro mais saudável, digno e conectado com a terra e com a ancestralidade.
A entrada é gratuita e o espaço estará aberto para o público em geral.
Programação:
08h30 | Acolhimento espiritual e defumação
09h30 | Roda de Conversa “Ìbànújẹ Ewé” – troca de saberes entre mulheres de axé, marisqueiras, rezadeiras, benzedeiras e representantes da comunidade científica
11h00 | Plantio do horto comunitário com ervas medicinais e sagradas
13h30 | Acolhimento terapêutico com o Movimento Popular de Saúde
16h00 | Exibição de documentário e encerramento com banho de pipoca
Fonte: Assessoria de Imprensa