Armandinho: o herdeiro do trio elétrico

Ele lembra o início de tudo através da tatuagem da “Fobica”, que o originou o trio elétrico atual  
A história de Armando da Costa Macedo, conhecido como Armandinho, se confunde com a história do Carnaval. O pai dele, Osmar Macedo, foi um dos criadores do trio elétrico e da guitarra baiana, ao lado de Dodô. Hoje ele tenta manter a tradição nascida no final dos anos 40 e se orgulha de puxar, segundo ele, a maior pipoca de Salvador, que sai atrás do trio independente Armandinho, Dodô & Osmar. Há três anos esse artista, símbolo do Carnaval, deixa a capital baiana para puxar o bloco ‘Rasgadinho’, em Aracaju, e como não podia ser diferente também arrasta uma multidão. Antes de subir mais uma vez no trio elétrico, criação de seu pai que completa 60 anos, e percorrer as ruas de Aracaju, nesta segunda-feira de Carnaval, Armandinho recebeu a reportagem do Portal Infonet para uma entrevista exclusiva. Confira!


Portal Infonet – Essa é a terceira vez que você vem a Aracaju em menos de três meses. Como é essa relação com a capital sergipana?

Armandinho – Pois é, estou sempre aqui graças a Deus e nessas três vezes com trabalho diferentes. Com o Stanley Jordan no teatro, no Projeto Tamar com o pop choro, e agora no Rasgadinho. Desde o tempo do trio elétrico, em 75, quando começou a fazer sucesso, Aracaju já era nossa segunda maior praça. A gravadora falava que depois da Bahia, era em Sergipe que a gente mais vendia discos.



Armandinho ressalta a importância dos blocos afros no Carnaval de Salvador
Infonet – Esse ano o trio elétrico completa 60 anos. Para você qual a importância dessa invenção para a história do Carnaval?

Armandinho – O trio elétrico tem uma história muito importante para a cultura brasileira como um todo. Estamos comemorando 60 anos e carregamos essa história, que surgiu do instrumento que originou o trio, que os amigos apelidaram de pau-elétrico, e que eu batizei de guitarra baiana. A guitarra baiana hoje é e sempre foi um instrumento que não se acha em lugar nenhum. Se eu sair do Brasil sem a minha eu não acho em lugar nenhum uma guitarra para reproduzir o som que eu quero. E o meu luthier é sergipano, o Elifas Santana, um cara que faz a guitarra baiana da gente e que são maravilhosas.


Infonet – Se não fosse o trio elétrico e a guitarra baiana como seria o Carnaval?

Armandinho – O Carnaval já existia antes do trio elétrico, mas era aquela festa de rua, popular, mas muito festejado como todas as festas populares da Bahia. Se não existissem acredito que estariam nas ruas os cordões carnavalescos e, principalmente, os blocos afros. Estas seriam as atrações mais interessantes como são até hoje, a exemplo do Ilê Ayê, o Olodum. São entidades que refletem a origem do nosso povo, a manifestação forte da raça negra.


Infonet – Qual a sua opinião sobre o Carnaval atual da Bahia?

Armandinho – Eles simplesmente tiraram os espaços dessas entidades tradicionais, dos trios independentes, só não conseguiram tirar a gente [o trio Armandinho, Dodô&Osmar] da rua porque nossa história é muito forte. É muito representativa do Carnaval. E eles próprios respeitam isso, porque eles tem um trio elétrico hoje graças ao Dodô&Osmar, graças a essa história. No final, queiram ou não queiram, eles tem que reverenciar a nossa história.    


O artista é presença garantida na festa do bloco Rasgadinho
Infonet – Apesar de todas as suas criticas ao Carnaval de Salvador, você ainda consegue espaço?

Armandinho – Apesar das criticas, o carnaval do trio elétrico é muito grande e tem espaço para todos, ainda que apertado porque são muito disputados, mas tem espaço pra tudo. Tem o sucesso dos artistas de hoje, mas a gente tem uma história com o carnaval que é de muitos anos. A gente puxa uma pipoca maravilhosa, selecionada pela música e eles fazem um show a parte. Porque lá eles tem liberdade, não têm cordeiros para limitar o espaço deles.


Infonet – Esse é um público diferenciado do Carnaval dos blocos?

Armandinho – Completamente, apesar de que nos blocos eles também tocam as nossas músicas. O ‘Chame Gente’, que é uma música minha e do Morais Moreira, virou um hino do Carnaval. Graças a Deus, é uma marca musical, apesar de toda a injeção da música oportuna, dos sucessos do momento.


Infonet – O que é que lhe move para continuar tocando?

Armandinho – Além da música ser meu trabalho, tem o lado da paixão. Tocar hoje em dia, e principalmente no Carnaval, não significa só trabalho, mas acima de tudo é uma paixão. A gente faz até sem ganhar. Tem anos que a gente fica pagando todas as despesas por conta da falta de patrocínio. Mas se não sair aí é que é o problema. Graças a Deus sempre deu pra pagar a estrutura, que é caríssima.  Hoje em dia tem que ter vários patrocínios para conseguimos equilibrar esses custos. E o pior é que no Carnaval tudo fica caríssimo, um trio que se aluga por R$ 20 mil nas micaretas, sobe para R$ 120 no Carnaval. É uma loucura, mas a gente vem conseguindo. E esse ano, com os 60 anos do trio elétrico, fomos até procurados pelos patrocinadores. Mas o que nós queremos não é fazer um carnaval milionário, nós fazemos um Carnaval para o povo.


Infonet – Esse é o terceiro ano que você participa do Rasgadinho, como você se sente participando dessa festa, que é uma festa do povo?

Armandinho – É maravilhoso. Ele resgata esse Carnaval tradicional que acabou na Bahia. Salvador hoje faz um grande festival. Não existe uma música característica, o que tocam são ‘os sucessos’. Hoje se toca de tudo em cima do trio e o público virou um espectador, não existe mais o lado lúdico.

Por Carla Sousa

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