Artigo: Produção Cultural em Pauta

Produto. Cultura. Palavras de sensibilidades tão distintas. Uma associada à massacrante e devoradora industrialização. Outra à histórica comunicação entre o Homem. Aquela nos remete ao materialismo. Esta ao subjetivismo do comportamento e da criação. Mas, o que é Cultura senão o Produto da socialização do Homem, da interação dele com aquilo que está no seu espaço, do intercâmbio de conhecimento e necessidades que tem com o que é externo a seu corpo? Vamos falar aqui de produção cultural. Talvez o termo “produção” não seja o mais adequado, já que não é com o produtor que a obra nasce, mas os problemas desta área vão muito além da questão etmológica. O produtor cultural tem a difícil tarefa de viabilizar a divulgação e a concretização do trabalho artístico. Adjetivar esta terefa de “difícil”, talvez ainda seja eufemismo: quando se trata de trabalhar com cultura, valorização e apoio são palavras tão raras que parecem pertencer à outra língua- não à brasileira, muito menos ter sotaque sergipano. Produzir depende de uma equipe, depende de dinheiro, depende de espectadores. Em Aracaju, o número de pesoas que se dedicam à essa área não é tão pequeno, em relação ao tamanho da cidade, mas o número de empresas, públicas ou privadas, que vêem o poder da cultura, seu caráter transformador e educacional, é tão pequeno, que não dá para compor uma equação sem erros de cálculo. As empresas tratam a cultura como uma questão de classe, não como interesse público; mesmo quando apoiam um evento, geralmente, o marketing promocional da empresa é o que, exclusivamente, é visado, em total detrimento do valor cultural do que se promove. Toda essa indiferença faz com que a produção cultural beire a medincância, sinta-se impotente e corra o risco do desistímulo, pois sabe que não é uma profissão que se sustenta sozinha, dependendo diretamente de ajuda externa. E no externo também está o público. Ele é uma das partes finais para o alcance do objetivo maior: expandir a cultura, divulgar a arte. Sem público, não há por que existir o trabalho artístico. Quem irá devorá-lo? À que fome vai servir? O produtor sua para tirar a arte do círculo de pessoas que a cria e levá-la ao maior número de carentes possível (sim, porque todos somos carentes de arte, necesitamos de um momento longe da lucidez, dessa realidade coletiva e nos inserir na “realidade” criada pela arte). Por isso, tão importante é, também existir valorização do espectador, sua presença; sem ela, a idéia de comunicação, que predonina no conceito de cultura, não se realiza, não se completa. O produtor tem responsabilidades grandes: não só administrativa, captando recursos, contratando profissionais, estabelecendo cronogramas,… mas social. Ele não pode pecar, reduzindo a produção cultural somente a produto, fazendo com que perca seu vigor. Claro que esta é uma profissão e, como tal, busca reconhecimento também financeiro, mas cultura é um objeto de trabalho bem delicado, por ser patrimônio público. O valor histórico que há na sua composição não pode ser negado, necessita-se de ter sensibilidade para tratá-la. Além de ser um profissional, que possa verdadeiramente incluir criatividade, liderança, iniciativa, facilidade em comunicar-se em seu currículo, o produtor tem que, primeiramente, sentir-se filho da cultura; não só admirá-la, mas, acima disso, respeitá-la. Por Marina Ribeiro

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