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O Cinema Vitória foi revitalizado no ano de 2013 (Fotos: Portal Infonet) |
Joel MCrea, Myriam Hopkins, Brian Donlezy e Edward G Robinson. É bem provável que o caro leitor não reconheça estes nomes que faziam sucesso nas telonas do Cinema Vitória, na década de 40, em Aracaju. O Cinema Vitória – inaugurado em outubro de 1944 – foi contemporâneo de vários cinemas na capital sergipana em décadas passadas, mas hoje ele o único cinema de rua que continua aberto ao público. Localizado na Rua do Turista, no centro comercial, o cinema enfrenta hoje dias difíceis com a baixa presença dos apreciadores da sétima arte.
Sendo assim, preparamos uma reportagem especial para identificar os elementos sociais e culturais que contribuem para o baixo público do único cinema popular na cidade.
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Dayse Rocha, diretora atual do Cinema |
Inicialmente iremos contextualizar a retomada do Cinema Vitória, que foi revitalizado no mês de maio do ano de 2013, após passar onze anos fechado. Segundo a coordenadora do cinema Dayse Rocha, este tempo inativo favoreceu para o afastamento gradativo do público. “Pode ter sido isso que o deixou no esquecimento, estamos tentando revitalizar o hábito do publico sergipano de visitar o cinema sergipano”, analisa.
A gestão atual do cinema fica por conta da Casa Curta-SE – uma organização não-governamental que atua na área do audiovisual. “Para a revitalização do cine vitória firmamos um convênio, em julho de 2013, com o governo estadual, através da Secretaria de Cultura do Estado, e com o governo federal, através do Ministério da Cultura”, declara Dayse Rocha. Ela acrescenta que o valor do convênio foi de cerca R$ 280 mil.
Além disso, ela comenta que o cinema, pós revitalização, tem características diferenciadas dos cinemas dos shoppings aracajuanos. “A proposta é de um cinema numa sala popular, concentrada no centro histórico da cidade. Reproduzimos filmes com conteúdos mais restritos, filmes culturais e curtas. O único cinema em Sergipe com esse foco. Esse é o diferencial do Cinema Vitória”, avalia.
Contudo, a coordenadora é enfática em afirmar que um cinema não se faz sem o público. “Nós da Casa Curta-SE que assumimos todos os custos de manutenção e sustentabilidade do cinema. Cobramos preços populares, no meio da semana o preço é R$ 4,00 meia e R$ 8,00 a inteira, nos fins de semana o preço é de R$ 5,00 e R$10,00, respectivamente. Os convênios vieram somente para montagem da sala. Precisamos de verba para manter a sala ativa, e é através do ingresso que possibilitamos o cumprimento do custo mensal”, garante.
Pontos de vista
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Suyene Correia, cinéfila |
Para a cinéfila e jornalista, Suyene Correia, há um público em Aracaju que assiste e gosta de cinema alternativo, porém, este público não vem comparecendo às sessões do Cine Vitória. “Há muitas pessoas que critica os filmes que são ofertados nos cinemas comerciais da cidade, mas não prestigiam os filmes exibidos no cinema independente de Aracaju”.
Ela afirma que um dos principais freqüentadores deveriam ser os estudantes de audiovisual. “A porcentagem de alunos de audiovisual que vai ao cinema é muito reduzida. O que os estudantes estão assistindo?”, indaga a crítica de cinema.
Suyene ressalta a importância da realização dos festivais e mostras no sentido de movimentar e trazer bons públicos. “Para mim, o grande exemplo foi o Festival Varilux de Cinema Francês. As sessões estavam, em sua maioria, cheias de apreciadores”, diz.
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Realizadora sergipana, Everlane Moraes |
Quem reforça a relevância dos festivais e mostras no cinema é a realizadora sergipana, Everlane Moraes, que teve um filme exibido no cinema. “Estes eventos servem com um atrativo a mais para que novas pessoas freqüentem o local. É interessante buscar realizadores de outros estados para fazerem exibição de seus filmes”, aborda. Para ela, incentivos a produção local também é um fator a ser discutido. “Meu filme foi um dos mais exibidos no cinema, e é muito bom fazer parte do Cinema Vitória, mas, o que queremos é mais incentivo na parte de produção e pós-produção. Este apoio é crucial para os realizadores do estado”, desenvolve.
Os horários das sessões e o local onde está instalado o Cinema Vitória também foram alvos de críticas por parte de Everlane Moraes. “Muitas pessoas trabalham e estudam no horário da maioria das sessões. Contudo, acredito que devemos valorizar mais o cinema popular que temos. Em Sergipe o incentivo a cultura é muito pouco, por isso que o público também é pouco”.
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Alessandro Carvalho, frequentador do cinema |
Alessandro Carvalho, assíduo freqüentador do cinema, comunicou que sempre reserva um tempo para ir ao cinema. “Gosto da programação daqui, mas, há algumas problemáticas como o horário e o local que é de difícil estacionamento”, afirma. Ele ainda analisa que com o avanço das tecnologias, as pessoas preferem baixar filmes na internet e assistir em casa do que ir ao cinema.
O professor de Filosofia da Universidade Federal de Sergipe, Romero Venâncio argumenta que o público do cinema tem que ser criado. “O Cinema Vitória não tem que se preocupar com o público agora. O público de arte precisa ser construído, com mostras, debates e conversas. O cinema precisa saber quem é o seu público e movimentar o cinema com arte. O cinema passa agora por uma crise de identidade”, avalia.
“Uma outra coisa é que ele (o cinema) não pode concorrer com o Cinemark. Isso não existe. Cada um tem uma proposta de cinema. No Cinemark não passa o filme Tatuagem, o filme brasileiro mais premiado no ano. Ele já passou em quase todas capitais. Além do Festival Varilux, a iniciativa de reproduzir este filme foi bem acertada por parte da direção”, completa Romero.
O longa-metragem Tatuagem está em cartaz no Cinema Vitória. Ele foi dirigido pelo pernambucano Hilton Lacerda e é protagonizado pelos atores: Irandhir Santos, Rodrigo Garcia e Jesuíta Barbosa. O filme vem atraindo muitas pessoas para o cinema. As sessões estão voltando a ser cenário de discussão e perpetuação de cultura. Quiçá esta frequência não seja efêmera. Pelo bem da arte.
Por Geilson Gomes e Raaquel Almeida
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