Conhecer as religiões de matriz africana é essencial para acabar com o preconceito que ainda paira sobre os adeptos nos dias de hoje. O episódio mais recente e que ganhou bastante notoriedade foi o do incêndio à casa e ao terreiro do babalorixá Thiago do Nascimento, que mora no bairro Soledade.
Na ocasião, moradores do local acreditavam que o desaparecimento do garoto Ruan Henrique, de oito anos, foi fruto de magia negra e, tentando fazer justiça com as próprias mãos, atearam fogo na residência e causaram um enorme prejuízo ao pai Thiago, que não teve envolvimento algum no caso. “Não sei quem foi, estava trabalhando fora. Quando soube, minha casa estava queimada e meus pertences quebrados. Tudo ficou destruído. Não tenho quem acusar, não faço ideia de quem tenha sido”, lamentou.
Há 12 anos, Erivan de Assis é presidente do Fórum Estadual das Religiões de Matriz Africana. Ele, que é pejigan, uma autoridade dentro do candomblé, explicou que este tipo de atitude configura racismo religioso. “Esse é só mais um caso de intolerância. Pai Thiago foi acusado de magia negra, algo que não existe dentro do candomblé. Essa é uma religião que tem relação direta com a natureza, trabalhamos diretamente com a água, fogo, terra e ar. É religião da transformação. Não cultuamos demônios e nem fazemos sacrifícios humanos. As pessoas precisam tirar o racismo de dentro de si. Não queremos tolerância, nós queremos é respeito. É preciso sair da era colonial”, pediu.
As principais religiões de matriz africana no Brasil são o candomblé, a umbanda e o nagô. Elas contemplam os mesmos orixás, mas com algumas diferenças de nomenclatura. Na África, são mais de 200 divindades. “Muda o nome, mas as energias são as mesmas”, destaca o pejigan. O nagô foi a primeira religião oriunda do continente africano em Sergipe, e hoje tem a principal sede na cidade de Laranjeiras. “Aqui já havia também o Toré. O candomblé veio de Salvador, na Bahia. A umbanda é a união do candomblé com cristianismo”.
Orixás
O candomblé cultua, no Brasil, 16 divindades, que são denominadas orixás. São eles: Exu, que representa a comunicação; Ogum, que traz a abertura de caminhos; Ossae, representando as folhas e plantas; Exossi, o provedor, caçador; Xangô, detentor da justiça e da verdade; Inhansã, dos raios, ventos e tempestades; Obaluaê, orixá da terra, da cura, conhecido como médico dos pobres; Oxum, das águas doces, ouro, fertilidade e amor; Iemanjá, rainha dos peixes e águas salgadas; Oxumare, que representa o arco-íris, uma metáfora da transformação do tempo, ar e da passagem entre a vida e a morte; Nanã, personificação da morte; Obá, uma das esposas de Xangô; Ifá, senhor do destino e da adivinhação, que é consultado por babalorixás quando se jogam os búzios; Logun Edé, personificação do amor entre os orixás, passa seis meses na terra e seis meses na água; Ibeji, que representa a alegria das crianças; Iroko, que traz a noção de raiz, ancestralidade; e Oxalá, senhor da paz, da pureza e tranquilidade, que é considerado pai de todos.
STF
Hoje, tramita no Supremo Tribunal Federal (STF) um recurso extraordinário que discute uma lei aprovada no Rio Grande do Sul que autoriza o abate de animais em rituais religiosos. O último julgamento aconteceu no mês de agosto, e foi suspenso após pedido de vistas do ministro Alexandre de Moraes. Para Erivan, a questão do sacrifício é tratada com hipocrisia. “A sociedade esquece que a maioria consome carne animal. Nos rituais, eles são sacralizados, rezamos e pedimos. Depois, eles servem de alimento para a comunidade. É preciso que o estado seja laico, e isso significa proteger as religiões de matriz africana, que são perseguidas”.
Por Victor Siqueira
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