Especial Folclore: Berços da cultura regional

Maracatu de Japaratuba atrai moradores da cidade
Vá até Laranjeiras e Japaratuba e pergunte quem já participou ou participa de algum grupo folclórico. Não vai ser difícil encontrar pelo menos umas três pessoas. Isso porque somente esses dois municípios do interior de Sergipe concentram 43 grupos folclóricos e pára-folclóricos, totalizando mais de 600 pessoas envolvidas nas “brincadeiras”, como os membros costumam chamar as apresentações.

 

Em Laranjeiras existem, atualmente, 26 grupos catalogados pela prefeitura e pela Associação dos Grupos Folclóricos da cidade. Dez deles são originalmente folclóricos e centenários, como a Chegança e o Reisado. Os outros 16 são pára-folclóricos, como os dois mirins do Reisado, um do Cacumbi, um São Gonçalo e o Samba de Pareia.

 

O secretário de Cultura, Turismo, Juventude e Desporto de Japaratuba, Carlos Vieira, contabiliza na cidade 17 grupos folclóricos, entre eles Chegança, Pastoril, Guerreiro de Zé de Jove, Cacumbi de Batinga, Maracatu de Dona, quadrilhas juninas e três grupo de Pífanos. “O mais antigo é o Cacumbi de Batinga, que representa nossos antepassados nas festividades de Santo Reis”, informa.

 

Carlos Vieira, secretário de Cultura de Japaratuba
Geralmente, os membros dos grupos são oriundos de famílias humildes. “Nos folclóricos os participantes têm idade acima dos 30 anos. Os pára-folclóricos são formados por crianças e adolescentes”, informa Carlos Vieira. Mas tanto na cidade quanto nos povoados, a tradição quase sempre é passada de pais para filhos.

 

A antropóloga Beatriz Góis Dantas tem algumas hipóteses sobre o fato dos grupos se concentrarem nas duas cidades. Uma delas é a grande quantidade de escravos na região, no século XIX, por conta da produção e escoamento de açúcar, fazendo com que a cultura popular local se preservasse por mais tempo.

 

“Laranjeiras tem ainda uma característica que eu não vejo em outras cidades. Ela começou muito cedo a valorizar os grupos folclóricos. Na década de 30 e 40 já se encontrava nos jornais de Laranjeiras referencias a uma política da prefeitura, na época chamada Intendência, de valorizar esses grupos. Acho que isso deu suporte para continuidade deles”, opina Beatriz.

 

INCENTIVO – Nas duas cidades, a sobrevivência dos grupos, além do amor dos integrantes pela cultura popular, conta com uma boa participação das prefeituras. Indumentária e transporte são as principais ajudas. Em Laranjeiras, brevemente, será inaugurada a Casa do Folclore, que mostrará a diversidade de grupos, promoverá palestras, cursos e oficinas para os “brincantes”.

 

Isaura de Oliveira, diretora de Cultura de Laranjeiras
A diretora de Cultura da Secretaria Municipal de Cultura e Turismo de Laranjeiras, Isaura de Oliveira, diz que anualmente são destinados mais de R$ 40 mil para os grupos da cidade. “Hoje os grupos sobrevivem porque contam com o apoio total da prefeitura. Mas nas décadas de 30 e 40 eles promoviam quermesses e sorteios, que também ajudavam na manutenção. Hoje não fazem mais isso”, comenta Isaura.

 

O secretário de Cultura de Japaratuba diz que a prefeitura, há alguns anos, mantém uma política de valorização dos grupos. “Quando não são doadas as vestimentas, são pagos cachês em média de R$ 2,5 mil para os grupos folclóricos e de R$ 1 mil para os pára-folclóricos”, informa Carlos Vieira.

 

DIFICULDADES – Mas isso não é suficiente para manter as tradições. O presidente da Associação dos Grupos Folclóricos de Laranjeiras, José Ronaldo de Meneses, o Zé Rolinha, diz que nem todos os 26 grupos de Laranjeiras estão atuando por deficiência na indumentária e instrumentos.

 

“É uma verdadeira maratona para manter as datas, resgatar a moral e manter os costumes. Os grupos fazem a história de um povo, não têm donos e nem são objetos”, enfatiza Zé Rolinha, que coordena o Lambe Sujo e a Chegança Almirante Tamandaré.

 

Zé Rolinha lamenta falta de apoio aos grupos
A Chegança, por exemplo, não está se apresentando freqüentemente porque a indumentária precisa ser trocada com urgência. Os quepes dos marinheiros foram comprados há mais de 12 anos, muitas espadas estão quebradas e os pandeiros remendados com arames.

 

“Dentro das nossas possibilidades, tentamos segurar os componentes. Mas a Secretaria de Estado da Cultura não quer fazer nada. Temos que pagar para fazer a festa e ainda sem ganhar cachê”, lamenta Zé Rolinha. Só a roupa de um marujo, integrante da Chegança, custa cerca de R$ 350, sem contar com a espada.

 

Por Janaina Cruz
Da Redação do Portal InfoNet

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