Idealizador de um projeto que debatesse o estilo musical mais original do Nordeste, Paulo Corrêa Sobrinho, coordenador do V Fórum de Forró, fala nesta entrevista, concedida com exclusividade ao Portal InfoNet, sobre a alegria de fazer um encontro único no país e da importância de manter a chama do forró tradicional acesa nos corações dos mais jovens.
PORTAL INFONET – Como surgiu a idéia de fazer um Fórum de Forró?
PAULO CORRÊA – O Fórum iniciou no primeiro ano da administração do prefeito Marcelo Déda. Eu havia pensado neste projeto há algum tempo, ao ver a massificação de vários setores do São João no Nordeste, como por exemplo, as quadrilhas juninas. Hoje, a maioria das quadrilhas está estilizada, são poucas as que preservam a indumentária típica do São João. E essa descaracterização está acontecendo com maior seriedade na música.
INFONET – Qual o objetivo do Fórum? E qual público que vem comparecendo nesses últimos quatro anos?
PC – O intuito é fazer com que as pessoas, principalmente os jovens, que não tiveram oportunidade de conhecer Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro, percebam que o ritmo tocado por essas bandas novas não é forró. Em sua maioria, elas tocam versões de músicas românticas internacionais e músicas sertanejas. Não vemos essas bandas tocarem um baião, um xote, um xaxado, o coco, que são ritmos juninos. Mesmo o evento sendo pensado, a princípio, em atender o público jovem, desde o primeiro ano recebe a presença de diversos intelectuais, músicos e artistas sergipanos e também de outros Estados. E, este ano, um empresário dono de uma casa de forró em São Paulo vai participar do evento.
INFONET – São muitos os jovens que entendem que as bandas mais novas tocam forró. Além do Fórum, como o senhor acredita que as tradições possam atingí-los?
PC – Não sou contrário que essas bandas tenham o seu espaço, mas acho que elas não devem denominar suas músicas de forró, se não fazem este gênero. Posso dar como exemplo o movimento que surgiu na Bahia, com Luiz Caldas, e foi denominado de axé music. Já o estilo de música que foi iniciado em Fortaleza, com a banda Mastruz com Leite, foi nomeado de oxente music, mas não pegou. Este, na minha opinião, seria um bom nome para diferenciar os estilos e assim não confundir as pessoas, principalmente a geração mais nova. Outra forma de chegar aos jovens seria através das escolas, onde deveria ser ensinada a importância de nossa cultura. Mas, infelizmente, muitos colégios estão promovendo grandes eventos somente com essas bandas e sem dar valor aos verdadeiros forrozeiros.
INFONET – O Fórum, este ano, irá homenagear o Trio Nordestino, mas o evento se restringirá somente a este tema?
PC – Não. Sempre procuramos ter no Fórum um ou dois temas que não sejam relacionados ao homenageado. Além dos temas ligados às obras do Trio Nordestino, teremos palestras dentro da área da música nordestina, o que dá oportunidade de ampliar o debate. Este ano, teremos duas palestras que não englobam os homenageados, que serão “A evolução do São João em Aracaju: De uma festa moderna na rua São João a um grande evento de repercussão nacional” e “A explosão do forró nos grandes centros urbanos e a massificação das bandas de pseudo forró na mídia”. Esta última será ministrada por Tárik de Souza, que é um dos maiores críticos musicais do Brasil. Ele falará sobre o Fórum de Forró, na próxima sexta-feira, em sua coluna semanal no Jornal do Brasil.
INFONET – Como foi feita a escolha do Trio Nordestino para ser o homenageado deste ano?
PC – A cada ano os organizadores do Fórum propõem nomes para o homenageado. Nos três primeiros anos foram consensuais: Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro e Marinês. Já no ano passado, alguns sugeriram Clemilda, por ela estar fazendo 40 anos de carreira, ter o programa Forró no Asfalto, por três décadas, e apesar de não ter nascido em Sergipe estar radicada aqui há mais de 30 anos. Já outras pessoas lembraram que Genival Lacerda também aniversariava, fazendo 50 anos de carreia. Daí, nós fizemos uma homenagem dupla. Os dois usam muito humor nas suas músicas, apesar de terem estilos diferentes. E este ano foi analisado três nomes, mas a escolha foi pelo Trio Nordestino.
INFONET – Já que não é cobrada entrada para o Fórum, como é feito o patrocínio do evento?
PC – O Fórum tem sido realizado pela Prefeitura de Aracaju. Teve alguns anos que conseguimos pequenos apoios de poucas empresas, mas este ano não tivemos tempo para isto porque a decisão de fazer o evento aconteceu próximo à data, ou seja, aceleramos muito para viabilizá-lo. Por isso, não houve tempo de procurarmos patrocínio. Mas, se o Fórum também fosse englobado pelos patrocinadores do Forró Caju sua realização seria mais fácil, já que trabalhamos com o orçamento apertado. Se houvesse uma definição antecipada tinha dado tempo para entrar na negociação dos custos do Forró Caju, o que na minha opinião seria o ideal.
INFONET – Como não existe a necessidade de inscrição para o Fórum, tendo esta somente o objetivo de contemplar as pessoas com o certificado, não existe o perigo do teatro Atheneu não comportar o público e alguns inscritos ficarem de fora?
PC- Até agora não ocorreu a situação do teatro ficar totalmente lotado. Às vezes as pessoas se inscrevem e não comparecem aos três dias dos evento e outras vão assistir sem estarem inscritas, o que dá um equilíbrio. Mas, até o momento o teatro Atheneu tem comportado bem o público.
INFONET – Quais são as novidades para o Fórum deste ano?
PC- Por conta do sesquicentenário da cidade haverá uma palestra contando a história do São João de Aracaju, ministrada pela professora Aglaé Fontes, uma das pessoas que mais estudou este tema e tem dois livros publicados sobre o assunto. Outra novidade será a presença de Tárik de Souza, que já havíamos convidado em Fóruns anteriores, mas por conta de sua agenda não havia sido possível. Ele tem um trabalho de crítica de música há mais de 30 anos e é o diretor da coleção “Todos os Cantos” da Editora 34, que lança biografias da música brasileira. E teremos também, em função do tema Trio Nordestino, a presença de quatro compositores que são importantíssimos para a música nordestina. Juntos, João Silva, Antônio Barros, Cecéu e Onildo Almeida, compuseram mais de duas mil músicas de forró.
INFONET – É verdade que Aracaju é pioneira a ter um Fórum que debate exclusivamente forró?
PC – Sim. Representantes de outros Estados já vieram conhecer o nosso encontro e já fizeram projetos, mas nada de concreto foi realizado. Ainda somos os únicos a fazer este trabalho.
Por Raquel Almeida
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