Destacando como maior momento da carreira sua participação no programa Som Brasil, da Rede Globo, em 1982, o Grupo Repente, depois de 10 anos fora do Estado, recomeça sua carreira sergipana na última Quintas da Assaim do mês de outubro. Será um reencontro com seu público e uma espécie de degustação de seu próximo CD, que, como o show, é intitulado Canto Brasileiro. Nessa entrevista ao SERGIPE CULTURAL, representado por Carvalho, um dos formadores do grupo, estão registradas opiniões, histórias e projetos desses músicos, que há 27 anos defende e preserva a cultura regional sergipana. Sejam bem-vindos! SERGIPE CULTURAL – Como aconteceu a formação do grupo? GRUPO REPENTE – Começou, precisamente, em 21 de maio de 1976 para participar de uma mostra estudantil, promovida pelo Colégio Costa e Silva. Eu [Carvalho] e Robério Morais, como estudantes do colégio, resolvemos montar um grupo para entrar naquele evento. Inscrevemos três músicas e as três foram classificadas, ganhamos terceiro, quarto e quinto lugar. O nome, Grupo Repente, foi colocado, porque, repentinamente, a gente teve que montar um grupo para participar desse evento. Como também pela nossa música, que tem influência regional, um trabalho de pesquisa. Robério Morais é de Brejo Grande, eu também sou do interior, de Paripiranga, na Bahia, então, crescemos ouvindo violeiros e repentistas. O nome surgiu por isso: por ter sido criado às pressas e pela temática desenvolvida pelo grupo de falar sobre música regional. Na época, como não tínhamos condições de comprar uma viola, veio a criatividade de Robério Morais em afinar o violão em “Mi”, porque assim, transmitia um som de viola. Era Robério Morais na viola, que era violão, o acordeon, flauta transversal, percussão, o zabumba, triângulo: esse foi o trabalho do grupo desenvolvido naquela época. SC – Dessa época para hoje, esse trabalho mudou muito? GR – No decorrer do tempo, a gente não mudou muito nossa característica. Passamos a inserir instrumentos atuais, modernos, que estavam sendo descobertos, como o teclado, o conta-baixo elétrico – antes a gente fazia o trabalho do contra-baixo com o violão – e hoje a gente tenta se modernizar. Apesar de que está voltando a moda aquilo que a gente fazia antigamente, o acústico, o regional, o pé-de-serra. E nós estamos fazendo isso: o trabalho instrumental junto com o acústico. SC – Como equilibrar elementos modernos em uma música de origem tradicional? GR – Muitos músicos de fama nacional, representantes da cultura popular, fazem isso. Alceu Valença, por exemplo, faz seu trabalho de preservação da música pernambucana com instrumentos eletrônicos sem perder sua característica. É o que nós estamos fazendo: apesar do teclado estar envolvido, ele entra como coadjuvante, ele faz a harmonia; o centro mesmo do trabalho é o acordeon, que é o que marca o estilo musical que a gente desenvolve nesses 27 anos. SC – A Quintas da Assaim com vocês terá que repertório? GR – Terá músicas de Luiz Gonzaga, músicas nossas, claro, Jackson do Pandeiro; algumas composições de artistas como Zé Duarte, que é um músico que nos acompanha há mais de 10 anos, a gente faz participações especiais com ele, e músicas tradicionais do folclore sergipano. Essa é uma das principais características do grupo. Quando nós surgimos, surgimos com um trabalho de pesquisa do folclore sergipano, que retratam o dia-a-dia do nordestino, a seca, temas regionais, temas sociais, como a fome: um trabalho voltado para o regionalismo, para a cultura popular. E continuamos fazendo isso até hoje, com algumas inovações e mais completo, se podemos falar assim, no sentido da atualidade. SC – Há uma reciclagem do público da música regional? GR – Houve sim um apoio maior da juventude, um exemplo é Sergival, que desenvolve um trabalho voltado para a cultura popular e tem um grande público, um fã-clube enorme. O Grupo Repente está retornando às suas atividades e eventos em Aracaju. Passamos 10 anos fora do Estado, pelo Nordeste, principalmente, no interior da Bahia. Então a gente vai recomeçar; esse é o primeiro show, depois de 10 anos, aqui em Aracaju. Claro, que as pessoas que nos conheceram naquela época, com certeza vão prestigiar, ou melhor , já estão prestigiando, ligando para rádios solicitando músicas do grupo… mas estamos mostrando um trabalho inovador, para agradar tanto aqueles que nos acompanham desde o início como a juventude de hoje, fazendo uma coisa talvez mais elétrica, mais percussivo. A gente está tentando unir o começo da carreira com a modernidade, não esquecendo de preservar nossa originalidade. SC – O público do interior ainda é mais receptível à música regional? GR – Existe espaço para qualquer tipo de estilo e ritmo, mas a aceitação maior, infelizmente, está no que a mídia veicula. Como estamos afastados há 10 anos, não sabemos qual o público atual de Sergipe, mas a gente tem notado que nos shows que fazemos nos interiores da Bahia temos uma aceitação fora do comum – talvez seja uma diferença. Inclusive, nos lugares que tocamos, retornamos, somos cadeiras cativas nessas cidades por onde temos passado. Isso devido ao profissionalismo dos músicos e ao repertório mesclado que temos: tocamos xotes, baião, xaxado, machinhas, galope e forró. SC – Como surgiu a oportunidade de ir para Bahia? GR – Foi um convite do cantor, de renome nacional, Zé Duarte, que assistiu a um show nosso e convidou para dividirmos o palco com ele. A gente toca para o Zé Duarte e, ao mesmo tempo, paralelo a isso, fazemos o trabalho do Grupo Repente. SC – O grupo está trabalhando composições novas? GR – Por enquanto estamos resgatando as músicas que deram origem ao Grupo Repente. Estamos montando agora o nosso segundo CD, “Canto Brasileiro” (a primeira gravação foi um LP), retrabalhando as músicas do começo da carreira. A partir do mês que vem vamos entrar em estúdio para gravar a parte acústico, porque esse CD, Canto Brasileiro é mais instrumental: teclado, bateria… e agora vamos colocar zabumba, sanfona… fazer a coisa mais regional. Mas a nosssa intenção é fazer um CD ao vivo. Possivelmente, em dezembro, estamos agendados para fazer um show no Teatro Lourival Batista, que, inclusive, foi onde surgimos; esse é nosso próximo projeto. SC – Como está sendo mantida a preservação de grupos de música regional no Estado? GR – Estão surgindo grupos e novos artistas de todas as vertentes: rock, reggae, forró, funk, pop, MPB… O que é natural! Estamos notando que esses artistas estão tendo uma consciência maior, em fazer um trabalho cultural, em relação à preservação do folclore, que é uma coisa que a gente faz desde 1976. Então temos aí Sergival, Sena, a banda Maria Scombona, todos músicos que estão desenvolvendo um trabalho atual, sem deixar de ser uma fonte de pesquisa da cultura popular. SC – Qual está sendo a importância da Assaim no crescimento da música sergipana? GR – A Assaim está valorizando nossos artistas, de grande importância e relevância. Nós tivemos a sorte de elegermos um presidente como João Paulo, que é um guerreiro, porque para produzir música em Sergipe é difícil pela falta de apoio, incentivo e pela super valorização que os órgãos culturais dão ao produto que vem de fora. A partir do momento que a gente tem a consciência de pegar esses nossos valores e, em uma associação entre a Secretaria da Cultura com a Secretaria do Turismo, unir nossos artistas e mostrarmos a produção cultural de Sergipe, além fronteiras. A exemplo de Recife e Bahia. Pernambuco principalmente, porque, nós temos aqui um número maior de artistas e grupos folclóricos e, mesmo assim, Pernambuco é sucesso no Brasil inteiro, está à frente de Sergipe e, a realidade, é que poderia ser o contrário. SC – Qual é a participação dos artistas para na fortalecimento de nossa música? GR – Os artistas sergipanos hoje estão tendo maior consciência de união. Hoje eles já dividem shows, estão em um processo de melhoria, de conscientização, apesar de precisar amadurecer mais. SC – O que falta à música sergipana? GR – Falta investimento maior em nossos artistas, os órgãos estaduais e municipais os contratarem, pagando cachês dignos e no tempo estipulado para que a gente possa produzir. A questão de incentivo está melhor. Com a Lei de Incentivo à Cultura do município, nós ainda não fomos beneficiados, mas muitos artistas novos já foram assistidos por ela. Temos o Funcarte, que é um fundo da Secretaria do governo do Estado, que, infelizmente, até hoje, não entrou em prática e que nós, artistas, estamos solicitando, fazendo um documento para que esse fundo seja ativado, ou melhor, ativado, para valorizar e dar apoio a projetos desenvolvidos por nossos artistas. O Estado tem que divulgar mais a música local nesses eventos nacionais de turismo, que ele promove ou participa, levando artistas e também os grupos folclóricos para mostrar que somos um Estado de música, dança e muito folclore. Contato: (0xx79) 9991-5782 (Carvalho) Por Marina Ribeiro
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