Gustavo Aragão fala sobre “Minha Amiga Lua”

Gustavo Aragão
O poeta e escritor Gustavo Aragão fará o lançamento hoje, 22, de seu livro mais recente ‘Minha Amiga Lua’, a partir das 18h no Instituto Luciano Barreto Júnior. Aracajuano de nascimento e criação, Gustavo destaca-se pelas incursões na literatura e teatro apesar da pouca idade: com apenas 23 anos, ele é o autor de ‘Os Encantos de Uma Floresta’, ‘O Mundo Mágico’, além de atuar, dirigir e escrever peças teatrais, curta-metragens e ser o membro mais jovem da Academia Sergipana de Letras.

Gustavo conversou com a equipe da Infonet sobre literatura e artes, numa entrevista que você confere agora:

 

Portal Infonet – Como nasceu o seu gosto pela leitura e pela literatura?

Gustavo Aragão Nasceu há muitos anos atrás. Eu aprendi a ler e a escrever com sete, oito anos, então eu descobri muito cedo a magia e o poder das palavras, o gosto e o interesse pelo universo das palavras. Minha tia tinha o costume de contar estórias em roda pros sobrinhos nos finais de semana, e isso me incitou a procurar cada vez ler mais os livros. Por volta de 12 anos, antes mesmo, eu já começava a escrever as minhas estorinhas e a levar a sério essa questão de querer publicar as minhas estórias, até os 14 anos. E sempre disse a minha mãe e a meus pais que eu queria lançar essas estórias que eu escrevia. Eles achavam que era coisa de criança, não acreditavam muito que seria algo sério para o futuro, que seria talvez promissor. Mas eu queria e insisti nisso, persisti nessa idéia e hoje já vou para o sexto livro lançado, é o quinto livro de literatura infantil, fora as outras coisas que eu tenho publicado como artigos, poemas e outros.

 

Infonet – Desde pequeno que você começou a trabalhar essa ‘veia’ literária, certo?

GA – Isso, desde pequeno. Desde os oito anos eu juntava meus colegas de rua ou de classe para que a gente pudesse criar peças de teatro. Eu nem conhecia o teatro a fundo naquela época, mas o teatro também para mim sempre foi uma coisa muito próxima, eu gosto muito, é uma paixão que eu tenho também. Então eu escrevia os meus scripts, as minhas peças, e dirigia – entre aspas – e eles adoravam. A gente captava recursos para comprar bala, para comprar bombom, essas coisas de criança. Foi assim que começou mesmo.

 

Infonet – Você lembra da primeira coisa que você escreveu?

GA – Lembro. Ainda tenho em casa, eu escrevi uma história de um gatinho, agora eu não me recordo o nome, o título da história. Eu a ilustrei e datilografei, numa máquina de datilografar que meu pai tinha me presenteado quando eu tinha uns 12 anos. Ele já não usava mais e eu peguei aquilo para mim. Aí pronto, tudo que eu pensava em escrever eu escrevia através da máquina de datilografar. Aprendi a datilografar já com meus 12 anos.

 

Infonet – Do que você escreveu – contos, peças de teatro, poesias – qual o que você mais gosta?

GA – Eu gosto da literatura infantil. É um universo mágico, é um universo onde eu me sinto livre para criar, sendo que essa liberdade é pautada numa responsabilidade muito grande porque o público é muito exigente, porque é uma coisa muito séria. Eu considero a literatura infantil um dos estilos literários mais importantes porque forma leitores para o futuro e tem uma certa importância porque age no inconsciente das pessoas, e ela corresponde aos anseios não só das crianças mas de qualquer leitor de qualquer faixa etária, então eu gosto muito da literatura infantil. Mas a poesia eu sou também apaixonado, e também por escrever teatro. Mas a poesia e a literatura infantil se sobressaem na hora da escrita.

 

Infonet – Você pensa em algum dia escrever para o público adulto?

GA – Já tenho alguns artigos de nível científico, acadêmico. Publiquei na Academia Brasileira de Letras no ano passado um artigo científico sobre a palavra na era da imagem, publiquei no ano passado também na revista da Academia Sergipana de Letras um artigo sobre Felte Bezerra. Tenho publicado outros artigos na internet, e meus poemas geralmente são para adultos, para o público mais adulto.

 

Sua obra mais recente, “Minha Amiga Lua”
Infonet – Quais as dificuldades que um escritor enfrenta aqui no Brasil, aqui em Sergipe, ainda mais sendo jovem como você?

GA – Todas, todas. Primeiro, a juventude que me cabe é um obstáculo a mais. Nós não temos apoio de iniciativas, sejam elas públicas ou privadas, é muito difícil se conseguir isso. Às vezes a gente encontra pessoas que acreditam no nosso potencial e aí nos apóiam realmente, como a Petrobras já me apoiou, o Sesc Sergipe, o Banese já me apoiou uma vez, a Gráfica J. Andrade, o Instituto Luciano Barreto Júnior. Então são empresas raras que apóiam e realizam projetos culturais em nosso estado, mas no Brasil todo, o artista brasileiro sofre muito com essa falta de apoio. A minha juventude se coloca como um obstáculo a mais porque as pessoas acham que por eu ser jovem eu não posso produzir uma coisa com responsabilidade, uma coisa de qualidade e eu provo o contrário, com os meus trabalhos e com as minhas palestras que eu venho ministrando também.

 

Infonet – De onde vem essa inspiração para escrever tanto?

GA – Olha… Na verdade, não sei explicar de onde vem. Mas é um momento angustiante, pessoalmente é muito angustiante, porque às vezes eu estou conversando normalmente, ou então dormindo, tomando banho, aí rola aquele estalo, me vem uma imagem na cabeça e eu penso “vixe Maria, e essa imagem agora? Daonde ela vem, de onde ela surgiu?”. E aí, com o tempo, quando eu vou amadurecendo essa imagem, é que vai surgindo a história, a trama e tudo mais, e aí eu vou colocando no papel aos poucos. É uma coisa muito angustiante mas muito gostosa depois, que a gente já tem tudo pronto, aquela coisa realizada, é muito bom.

 

Infonet – Fale mais sobre esse seu trabalho mais recente, ‘Minha Amiga Lua’.

GA – ‘Minha Amiga Lua’ é meu fruto de literatura infantil, é o sexto da minha carreira. Ele é escrito de uma forma bem gostosa, tem uma linguagem metafórica mas uma metáfora não muito complexa, que é própria do entendimento da criança, se comunica facilmente com o pensamento e o imaginário infantil. Ele traz a temática do preconceito racial e de classes, mostrando que essa questão do preconceito não passa de uma questão de ignorância mesmo – não digo ignorância de selvageria, mas ignorância numa falta de conhecimento maior de causa. E que não podemos ser preconceituosos dentro de uma sociedade como a nossa, tão plural, com uma miscigenação tão forte, tão arraigada às nossas origens. Então vem trazendo essa importância das etnias e das misturas das culturas, e que forma o povo brasileiro um povo riquíssimo culturalmente, riquíssimo tanto no seu linguajar quanto na sua manifestação cultural como um todo.

 

Infonet – Além da literatura, você também é envolvido com teatro, dá aulas de interpretação, atua. Você acha que essas duas áreas estão ligadas, existe alguma conexão entre elas?

GA – Estão ligadas completamente. O teatro eu creio que seja uma das artes mais completas por ser ela um ponto convergente de várias outras artes, como a dança, como a música, como a literatura, como as artes plásticas e todas as outras. Eu considero o teatro uma paixão mesmo, é uma paixão que eu tenho. Eu ensino teatro, dou aulas de teatro numa escola da rede particular, dou aulas de oratória, ministro oficinas, então o teatro na minha vida é uma descoberta muito legal, eu faço com muito amor também. Como eu já disse acho que umas quatro vezes só aqui, é uma paixão para mim, fazer teatro é fundamental.

 

Infonet – E se você tivesse que optar entre a literatura ou o teatro?

GA – Ficaria com os dois, porque é possível trabalhar com os dois concomitantemente, é possível. Dá para conciliar os dois, um complementa o outro.

 

Infonet – Você é o escritor mais jovem de Sergipe, com 23 anos já é membro da Academia Sergipana de Letras. Você se considera uma pessoa precoce?

GA – Todos dizem que eu sou um pouco precoce com relação às minhas realizações. Realmente sou precoce, mas tento fazer tudo com a maior responsabilidade possível, não faço uma literatura aleatória, faço uma literatura compromissada, faço uma literatura embasada nos estudos que eu venho desenvolvendo já há quatro, cinco anos. Então não é uma coisa “ah, ta, eu tenho uma inspiração, vou botar no papel o que vier à cabeça e acabou”. Não, tenho compromissos, tenho responsabilidade assumida, mas eu gosto de fazer isso. Eu gosto de trabalhar com artes, eu gosto de me dar a esses movimentos artísticos. Participar da Academia Sergipana de Letras para mim é uma honra, é um orgulho muito grande por estar representando a juventude do meu Estado lá dentro, por estar aprendendo diariamente com eles que são mestres mesmo, do pensamento sergipano, de toda a intelectualidade sergipana. Tem gente ali formidável, tem talentos imensos, brilhantes, que se metade da população passasse a conhecer, valorizava muito mais. Eu tenho aprendido muito, agradeço muito a eles por tudo que venho aprendendo ao longo desses três anos de movimento e seis anos de acompanhamento de perto.

 

Infonet – Essa sua precocidade, você acha que ela de alguma forma já atrapalhou a sua vida ou só veio a ajudar?

GA – Pode ter atrapalhado um pouco no meu lado mais íntimo. Eu gosto muito de festa, mas eu não curto festas tanto como uma pessoa da minha idade. Mas isso eu tiro de letra, porque eu sou uma pessoa muito extrovertida e gosto muito de brincar e brinco no meu dia-a-dia. As pessoas que me conhecem sabem que eu ando sorrindo, então, quer dizer, não me atrapalha de jeito nenhum, pelo contrário, me ajuda muito no desenvolvimento das minhas relações interpessoais, no meu desenvolvimento profissional, tem me ajudado bastante. Eu tenho agradecido muito a todas as pessoas que me ajudam também, à imprensa, a todos os escritores e todos os artistas que estão do meu lado, que acreditam no meu trabalho, eu só tenho a agradecer mesmo.

 

Infonet – Quais seus planos para o futuro?

GA – Eu já estou planejando, já comecei os estudos para o meu mestrado, que eu vou tentar na USP em meados do ano que vem. Vai ser um mestrado de artes cênicas, na área da análise texto-e-cena, mais uma vez essa questão do texto, na área de literatura. Tentar um mestrado na área de artes cênicas, articulando o teatro à literatura, à produção do texto, para mim vai ser fantástico, porque vai aliar as duas coisas que eu mais gosto de fazer mesmo. E assim, esse é o maior plano para o futuro. Eu estou pensando em sair de Aracaju no próximo ano, e fixar residência em São Paulo para tentar desenvolver meu trabalho, tentar fazer esse mestrado e ver no que é que dá, dar a cara a tapa.

Por Herbert Aragão e Carla Sousa

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