Iracema vai deixar de ser a anfitriã desta Quintas da Assaim para ser a grande atração da noite. Dona de uma das vozes mais belas, a cantora, que junto com o marido e músico Zequinha, tem um dos patrimônios culturais mais valiosos do estado: a Casa de Shows Melodia– que, não por acaso é a “lar” do projeto- faz o show “Coisas do Brasil”. Nesta entrevista ao SERGIPE CULTURAL, acompanhada de Zequinha, como no show, ela conta o que são essas “coisas”, fala do Melodia e de sua carreira. SERGIPE CULTURAL: Como vai ser o show “Coisas do Brasil”? IRACEMA: Vai ser um passeio por coisas de fora e de compositores daqui: de Zequinha, meu marido, Gil Macedo. Vou fazer uma mistura do Brasil e cantá-la. SC: Qual a maior dificuldade de manter uma casa de shows como o Melodia Show Bar? I:A falte de prestígio do público. Acho que é o que todo mundo responderia. As pessoas irem prestigiar não o Melodia, mas a música do Melodia. Porque o Melodia é um bar, pode acabar, mas nossa música vai ficar. Por isso deve se pretigiar o artista da terra. Quando vem uma banda de fora, lota o show, mesmo sendo cobrado R$ 30, R$ 40. Em um bar, quando nós fazemos um evento por R$ 3, R$ 5 reclamam que está caro, que tem que pagar cover. SC: Das cidades por onde passou, Aracaju é que tem essa característica mais forte? I: Não, eu acho que em toda cidade é assim. Mas a nossa cidade é tão maravilhosa, tem tantos talentos, tantos compositores bons e não tem ninguém com fama nacional. Cidades muito menor, com cantores nem tão bons quanto os daqui, tem. Falta isso. SC: Quanto ao público do Melodia, quem são os freqüentadores? I: O Melodia não tem só MPB. Além do Projeto Quintas da Assaim, tem samba de roda, voz e violão, pé-de-serra,… vai uma rapaziada jovem. Então, não é só MPB, tem pra todos os gostos. Lá é uma verdadeira casa musical; de segunda à sábado está aberta ao gente nova. Até pra músicos mesmo: eles chegam lá pra conversar com a gente e programamos para ver como dar para se apresentar. No sábado, tem a noite “Zequinha Convida”, que é uma forma também dele se aproximar dos músicos, já que ele não é daqui. Se aparece alguém legal, apresenta em outra semana.A gente está aberto para propostas. SC: Como é para vocês abrigar um projeto tão bem recebido de incentivo e valorização da cultura local? I: É um grande prazer. ZEQUINHA: Na verdade, essa era uma intenção do “Zequinha Convida”: dar espaço para gente nova, fazer um rodízio, para cada um ter oportunidade de mostrar o trabalho. O que o Melodia prioriza não é a pessoa sentar lá, tocar o violão, cantar por 4 horas. Mas sim, você chegar lá com um trabalho mais autoral, mais local, preparar um show, ter um incentivo maior em trabalhar com música; e este projeto também teve essa visão de procurar mais o profissionalismo. I: Nós temos produção, temos estrutura de palco, que montamos; fazemos todo um “ritual”, que é o deveria acontecer com todo mundo: essa é a diferença do Melodia. SC: Quando você percebeu que era cantora? I: Eu nem sei quando eu percebi que era cantora. Eu já sai cantando. (risos) SC: Como começou a carreira? I:Há 15 anos, aqui em Aracaju, eu comecei cantar em bar, depois parti para o trio elétrico: comecei a cantar música baiana, fazer carnaval, São João. Fiquei cinco anos em cima de um trio. Montei uma banda e comecei a fazer shows. Há dez anos sai de Aracaju, passei esse tempo fora e voltei a pouco mais de um ano. Quando sai daqui tinha um vinil gravado, o Me Chama, passei por Acre, Rondônia, Fortaleza; antes de Salvador, estive em Terezina, onde conheci Zequinha, que, além de ser meu marido, é músico e cantor. A gente se casou e montamos uma banda, trabalhamos nela até voltar para minha terra e abrir o Melodia Show Bar. SC: Qual foi o auge de sua carreira? I: Há uns 13 anos, eu fui conhecida, fui famosa no nosso meio. Eu gostava muito de cantar para aquela multidão, em cima do trio elétrico; cantando para aquele povo todo que cantava comigo- este foi um dos momentos. Mas hoje eu estou muito realizada, com a minha música, porque eu não sabia que eu tinha talento pra cantar na noite, mesmo eu tendo começado nela. Eu cantava, mas não era “aquela coisa”. Quando eu subi no trio elétrico, eu comecei rápido: sai do bar para ir para cima de um trio e já deu certo. Foi a época em que gravei o lp “ Me Chama”.Eu nunca fui cantora de banda de ninguém, sempre fui Iracema e banda; então, sempre fui “a cantora”. Foi uma época que eu ganhei muito dinheiro, mas hoje estou mais realizada, fazendo o que gosto, apesar de gostar de trio. Mas hoje é mais calmo, mais gostoso, aprendo muito. Cada noite no bar aprendo alguma coisa. SC: O que você mais gosta de cantar? I: Eu gosto de cantar tudo. Meu repertório é escolhido com Zequinha, então só ponho o que gosto. Eu fiz um show no dia 16 em homenagem à Clara Nunes (Canto para Clara), foi muito bom , até grande demais (com bailarinos) para o espaço do local, e pediram bis, mas estou dando um tempo até dia 11 de outubro para fazer outro. Este show de quinta não vai ser que eu faço nas minhas noites no bar e nem o que fiz em Canto para Clara: vai ser um resumo, vou cantar cantores daqui, uma mistura, “feijoada sergipana”. SC: No seu primeiro cd vai entrar composições novas? I: O cd já está sendo trabalhado e vai entrar tanto composições novas quanto as já conhecidas. Ainda não tem previsão de lançamento, talvez ano que vem. Estamos trabalhando devagar, exatamente para sair uma coisa boa, bem feita. SC: Como foi a experiência de passar por várias cidades diferentes? I: Conheci muita gente diferente, muitos músicos. A gente pensa que lá fora é diferente, mas é tudo igual Aracaju: as pessoas, por qualquer motivo não saem de casa. A diferença maior que eu senti foi em Salvador: a música de lá, eles não abrem para ninguém, é só eles mesmo. Eu que cheguei de fora tive dificuldade; só conseguimos entrar pela força da gente. Chegamos a cantar em alguns dos melhores lugares de Salvador, foi uma passagem rápida, de dois meses. Mas lá, primeiro são eles, depois o de fora. Z: É nisso que a Bahia se diferencia: eles se valorizam, eles se defendem. SC: Conta seu encontro com Baden Power. I: Foi logo no começo de minha carreira. Eu estava cantando na praia, quando, de repente, ele começou a olhar para mim; eu só via todo mundo bajulando ele, mas eu não sabia nem quem era Baden Power na época, estava começando. Ele mandou me chamar, fomos apresentados, começamos a conversar e queria me levar para gravar um disco meu. Eu estava cantando Luz do Sol ele, inclusive, chegou a tocar comigo. Mas eu me assustei com aquilo: um presente vindo de onde, eu não acreditava naquilo. Eu disse que não ia e todo mundo me achou uma louca por isso.(risos) SC: Você pretende fazer show fora do Melodia? I: Eu faço tudo, eu canto até em velório (risos). Não sou cantora só do Melodia, sou cantora do mundo. Telefone para contato: 9131 3205
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