Nascida em 1995, a Banda Java, veste-se com roupa nova. Depois de cinco anos parada, reinicia sua história, uma outra história, a partir de onde a outra formação parou: do sucesso. A Banda, com menos de três meses fazendo shows, já tem trabalho tocando nas rádios e gente cantando suas músicas. O SERGIPE CULTURAL conversou com a nova Java para conhecer suas pretensões e apresentar sua nova cara. SERGIPE CULTURAL: Como aconteceu o retorno da Java? BANDA JAVA: No início do projeto, estávamos eu (Eduardo Montezuma), o Gunther na bateria, Denison Melo, guitarrista e o Rafael, no teclado, que acabou saindo e entrou o Plínio Marcos e o Robson Makah, no baixo, que toca também com a Maria Scombona. E se consolidou esse grupo de cinco pessoas. Mas para chegar a essas cinco pessoas foi um processo muito longo: fica um tempo um, depois sai da banda por já ter outra coisa. A banda foi se consolidando de forma embrionária, aos poucos. Em abril, a gente começou a compor, não teve nem trabalho de pré-produção, o que foi um erro fatal, porque dava para a gente ouvir, detalhar falhas e já chegar consciente do que iria fazer no estúdio. Estamos gravando aqui em Aracaju mesmo, no estúdio de Anselmo Pereira; e chegamos a levar todo nosso material para lá e gravar, passados dois meses perdemos todo material, por um problema que aconteceu. Recomeçamos do zero, por um lado foi maravilhoso, porque pudemos consertar algumas coisas. E a gente está com uma idéia, há um ano- tinha quase um ano que não tocávamos em lugar nenhum. Pensamos que como a Java já tem uma história anterior a essa volta, caso voltássemos com essa galera nova- só o Gunther é da formação original- tocando outras músicas, covers de sons que a gente gosta, com músicas da outra formação, as pessoas vão estar comparando sempre com o outro vocalista, … E nós viemos com a proposta de ser realmente novo, por isso o nome do trabalho é Um Novo Dia , justamente para dar a idéia de uma proposta nova, um diferencial, vai surgir algo novo. A gente ficava ansioso por ver as coisas acontecendo e sem tocar, mas o Gunther sempre falava para ter calma, estruturar o som e ir devagar para não ser precipitado. SC: Como foi o processo das novas composições? BJ: Vai fazer um ano que recebi (Eduardo Montezuma) o convite do Gunther para tocar na banda, foi na véspera de natal. Antes disso eu já tinha tocado em duas bandas: a Groover e fui um dos fundadores da Alapada, era o vocalista. Quando sai, comecei a fazer um trabalho experimental, um outro tipo de som, que não tem nada a ver com o da Java. Então, eu estava compondo, já estava com material, querendo montar uma banda para fazer esse som, e dia 24 de dezembro de 2002, o Gunther chegou dizendo que queria retornar com a Banda Java. Sentamos para conversar, não foi uma coisa de supetão; disse que já tinha umas letras, que eu fiquei com um pouco de medo de mostrar, porque era uma coisa bem particular. Eu sou um adorador do reggae, pesquiso muito a fundo esse ritmo, é uma coisa espiritual para mim. Quando o Gunther disse que também já tinha algumas coisas quase prontas e me chamou para dar uma olhada, eu propus que ele me trouxesse as melodias para tentarmos colocar minhas letras, pra ver o que saía. SC: Quais são as “músicas de trabalho”? BJ: A medida que acabávamos as composições, a gente ouvia e tentava definir a que seria carro chefe da banda, do CD, para já mostrar a cara. Escolhemos Levarei Você Comigo , que a letra é minha e a música do Plínio e do Gunther; foi a primeira música, que já está tocando nas FM”s. Vimos que ela tem um clima do reggae tocado na década de 80, que seria, mais ou menos, o que o Skank tocava no início da carreira, que é uma mistura da música eletrônica com o reggae. Depois disso, queríamos arrumar outra música, eu estava com uma letra em casa, desde o tempo que nem sonhava entrar na Java. O nome é Tô na Rede , que tem uma idéia , não totalmente direta, de relacionamentos através da internet, aquela coisa de você estar incluído em um mundo virtual. Então, quando o Gunther me mostrou uma música que ele estava fazendo, eu achei que aquela melodia foi feita para minha letra, fiquei surpreso. E a gente escolheu essa música para fazer parte, a segunda do nosso trabalho a ser exposta. O disco vem com 11 músicas, estamos pensando em mixar no Rio de Janeiro, em um estúdio, onde foi mixado o segundo trabalho da Java. Mas não estamos sabendo direito como vai ser, porque envolve altos custos e temos muitos equipamentos que queremos comprar. SC: Quais os critérios usados para essas escolhas? BJ: A primeira que queríamos colocar foi Um Novo Dia , porque ela está totalmente ligada a nova temática da banda. Só que fomos compondo, compondo e toda hora escolhíamos uma. Decidimos pegar a opinião de uma pessoa especializada, que trabalha em rádio e ele escolheu. Em uma semana compomos o material; inclusive, é uma letra bem pessoal, no momento estava muito triste e no primeiro trecho dela fala: Não adianta chorar/ Por tudo que já passou/ Há uma esperança no ar/ Pois o que vale mesmo/ É ter amor no coração da gente . A música tem um apelo, que, por mais que as pessoas não queiram, é mais acessível, tem uma sensibilidade musical muito grande; digamos que, no meio comercial, seja uma música comercial; eu já defino como uma música mais fácil de ser assimilada, mais fácil de ser ouvida pela primeira vez. SC: Tem quanto tempo que começaram a fazer shows? BJ: Tem dois meses e meio. Fabiano (Oliveira) está dando uma força muito grande pra gente, apesar de não está tão influente na Java como antes, que ele era produtor executivo, hoje ele está mais focado na política, então, se desvinculou um pouco do lado artístico. Mas continua dando uma apoio muito grande à banda, ele abriu a Boite Boomerang para a gente fazer, toda quinta-feira, o ensaio da Java, até o Pré-Caju. Foi fantástico isso para a gente, porque começamos a testar as músicas novas, o repertório que estamos querendo fazer. Já tem uns três meses. Segunda-feira passada fizemos show em Salvador, estamos com uma vontade muito grande de percorrer todo interior daqui e voltar àquela coisa que a Java era antes, uma banda que tinha todo potencial para ser destaque sergipano na mídia nacional. Estamos trabalhando muito para isso e esperamos que as pessoas dêem credibilidade para podermos mostrar o que podemos fazer. Não julgar com radicalismo, porque, se não for pregada uma união, até da própria classe artística daqui, ninguém vai para frente; o cenário, ao mesmo tempo que é pequeno tem muitas qualidades, como Reação, Maria Scombona, Lacertae, que é do interior e conhecido fora de Sergipe e o Estado não dá valor a isso. Se ele não valoriza, porque não a comunidade, as pessoa não acreditar? Se isso não acontecer o esforço não vai ser válido. SC: Vocês tiveram receio de comparações, assumindo o nome Banda Java? BJ: O nome da banda é do Gunther. A gente pensou nesse cargo que íamos levar, mas, ao mesmo tempo, por que deixar pra lá um nome forte, onde a gente chegar é super conhecida a Banda Java? Já tem dois materiais gravados, o Além da Crítica e A Procura de Emoção , que tiveram uma repercussão nacional muito forte, principalmente o segundo disco. Por que não fazer um novo trabalho, com uma nova ideologia, mas sendo Java? A gente não começou do zero com o nome, mas em relação a construir um futuro promissor, estamos começando do zero, com extrema humildade. Estamos fazendo redução de custo para poder estar tocando em vários locais e mostrar o som para todo mundo, a nova cara, a nova ideologia, a nova Java. SC: Qual é o som da Java? BJ: Estamos bem mais reggae, não somos uma banda de reggae roots- as pessoas têm uma ligação muito forte, acham que reggae só tem que ser o roots, outras vêem de forma bem mais abrangente. Quem conhece a fundo o reggae sabe definir muito bem o que estou falando. Temos muitos ícones, como Bob Marley, James Brown, que têm o roots com uma base forte, mas a gente bebe de muitas outras fontes, como funk, dancehall,… Temos muito influência negra em nosso som. Além do pop, não o pop vendável, mas com o intuito de atingir a população, de ser comum ao coletivo, que muitas pessoas possam ouvir. Se for pra ter um rótulo, já que as pessoas adoram rótulos, seríamos um pop-reggae . Uma proposta desde o começo, foi não perder a linha do reggae, porque é muito forte e significativa para a banda. SC: E o público? BJ: Ele está meio que apreensivo, ainda fazendo ligações com a outra formação, mas está dando sinais de boa aceitação. Fomos tocar em Poço Redondo e a galera cantou nossas músicas, isso foi fantástico para a gente. Em Riachão do Dantas, as pessoas gostaram muito, no Tequila. O pessoal está sabendo destingüir que a banda é outra filosofia, outra ideologia, como também está sabendo definir que as pessoas que estão ali, já não têm mais nada a ver com a outra Java. A gente está levando o nome, algumas músicas com uma nova roupagem, fazemos um releitura, colocando no som nossa identidade, sem pretensão de ser melhor que a antiga formação, somos outros. SC: Como é fazer trabalho autoral aqui? BJ: É uma coisa muito complicada. Se não houver o apoio da mídia, se não tiver um veículo, não tem como expor nosso material. Se não conseguirem se conscientizar disso, não tem como explorar o trabalho autoral. É difícil você chegar e tocar as músicas suas, as pessoas ficam paradas sem saber nada, não conhecem o som: isso é normal. Mas se a mídia trabalhar em cima disso, vai acabar mudando conceitos da população, valorizar os artistas locais e formar público, o que é extremamente necessário. Os meios de comunicação têm que trabalhar dessa maneira. Sem divulgação, além dos shows, não tem como, a gente vai ficar sempre marginalizado e sempre tendo que usar o material de outra pessoa para mostrar a nossa cara. Você tem a criatividade de fazer uma música e ter oportunidade para sentir o prazer de ver uma pessoa cantando a música que você fez é extremamente compensador. Mas está tendo uma mudança na valorização dos artistas locais, o que é uma forma das pessoas abrirem a cabeça. Está melhor, até os próprios artistas mais velhos percebem isso, estamos criando um meio musical, um conteúdo, que está ficando forte. E para continuar crescendo vai depender muito da mídia local. Contato: (0XX79) 3043 2328 ou 9138 1490 Agenda: Dia 18.12 Quintas da Assaim, Cultart Dia 19.12 inauguração da Orla do Bairro Industrial Dia 24.12 Natal do Tequila Café Festival de Verão em Salvador e shows em Goiás, Maceió, Florienópolis e Recife. Por Marina Ribeiro
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