Nesta sexta-feira, 22, às 20 horas, o Teatro Tobias Barreto será palco de um espetáculo único: o “Samba In Concert – 2º Ato“, que promete uma releitura dos grandes clássicos do samba através da apresentação do cantor e pianista sergipano, João Ventura, e da Roda de Samba do Clube. O evento tem o propósito de celebrar a história do gênero musical em um espetáculo intimista e teatral.
Em entrevista ao Portal Infonet, João Ventura expressou sua empolgação e dedicação em construir e poder realizar o espetáculo, destacando seu profundo amor pelo samba. No bate-papo, Ventura ressaltou a importância de apresentações como essa, onde a troca entre artista e público se dá de forma íntima. Para ele, a singularidade desse espetáculo promoverá um aprendizado mútuo com a plateia.
A seleção das músicas para compor o repertório foi um processo desafiador, devido à complexidade de sintetizar a história do samba em até 20 músicas. Ventura explicou a abordagem por temas, como o samba na era do rádio, a bossa nova, sambas de protesto e pagodes antigos, entre outros, buscando não apenas contar a história do gênero musical, mas também conectá-la à evolução do Brasil.
A expectativa é que o público absorva não apenas as releituras originais das canções conhecidas, mas também compreenda a cronologia e as raízes do samba. O evento visa preservar e recontar a história desse movimento, mantendo viva a cultura e as origens brasileiras por meio de músicas que refletem aspectos sociais, políticos e econômicos do país. A promessa é de um espetáculo que une tradição e inovação, proporcionando uma experiência musical inesquecível para todos os presentes.
Confira a entrevista:
Portal Infonet – João, qual o sentimento de realizar o espetáculo “Samba In Concert” com a Roda de Samba do Clube, que trará uma releitura dos grandes clássicos do samba para contar a história desse gênero musical em uma apresentação teatral?
João Ventura – É um sentimento fantástico, né? É um sentimento que reúne muitas coisas que eu gosto demais e a primeira delas é o samba. Eu sou um cara muito apaixonado pelo samba. Quem me conhece um pouquinho sabe que eu levo para o piano, com alguma habilidade, a linguagem do samba. Esse é um dos meus grandes desafios enquanto artista e instrumentista: levar o piano para as mais variadas esferas musicais. Além de contribuir para retirá-lo desse universo puramente erudito e colocá-lo em todas as esferas musicais e rítmicas. Então tem essa coisa do samba, que eu sou apaixonado. Tem a coisa das apresentações em teatro, que são os locais que eu mais amo, pois gosto de me apresentar. Eu sou aquele artista que gosta do silêncio do público, daquela troca onde só há o público e o artista, o artista e o público, sem muitas interrupções, sem muita conversa. As pessoas vão realmente para assistir ao espetáculo. O samba tem essa coisa de compartilhamento. Nossa banda tem 11 ou 12 pessoas, então vai ser um compartilhamento com a plateia e um compartilhamento já ensinando o palco. Então vai ser um aprendizado e acho que vai ser uma noite linda para todo mundo.
Portal Infonet – E qual foi o processo de seleção das músicas para compor o repertório desse espetáculo?
João Ventura – O processo de seleção das músicas é um processo bastante difícil, né? A gente tem que colocar, entre 18 a 20 músicas, a história do samba. Então é um processo bastante árduo. Muitas coisas naturalmente ficaram de fora. O samba deve ser o nosso estilo, com mais canções próprias. Até porque o samba engloba muitas outras coisas porque ele foi a origem de muitas outras manifestações artísticas. Então o processo foi bastante complicado, mas acredito que a gente fez um grande trabalho no sentido de tentar contar uma história, de colocar de mãos dadas a história do samba e a evolução do Brasil do ponto de vista social, político e econômico. Fazer isso é uma experiência incrível e as releituras são o maior barato.
Portal Infonet – É realmente um trabalho muito profundo, que exige muito afinco e conhecimentos diversos. Como foi a adaptação das músicas para essa apresentação especial?
João Ventura – Eu sou um cara que gosta muito de releituras e o contraponto é uma ideia muito clara disso. Quando eu misturo músicas eruditas com músicas populares, naturalmente eu já estou fazendo uma releitura da música erudita e da música popular. Essa coisa de flexibilizar e tratar com horizontalidade as mais variadas vertentes musicais. Então foi uma experiência incrível saber combinar coisas diferentes para um resultado final satisfatório e os desafios foram escolher um repertório que comportasse essa história do samba, mesmo que de uma maneira sucinta, mas trazendo um repertório que fizesse sentido. A gente fez a adaptação para essa apresentação separando por temas. Então a gente tem o samba na era do rádio, o samba e a bossa nova, os sambas de protesto, os pagodes antigos, os pagodes atuais e muitas outras coisas.
Portal Infonet – O que o público pode esperar de diferente nessa apresentação?
João Ventura – O público pode esperar arranjos originais e uma grande surpresa: uma coisa é a gente ouvir os sambas e conhecê-los e outra coisa é entender o porquê de algumas letras, a cronologia do samba, as raízes… Eu acho que o samba está dentro de cada brasileiro, então entrar nessa esfera da compreensão do que é o samba é algo bem diferente. Por isso, a gente procurou fazer um repertório para que as pessoas pudessem cantar junto, mas sem abrir mão de contar a história do samba. Cada música foi escolhida para respeitar e valorizar a cronologia do samba na música brasileira.
Portal Infonet – Qual é a importância de preservar e recontar a história do samba através de eventos como esse?
João Ventura – Eu acho que é um encontro com a gente mesmo, com essa enxurrada de informações e músicas hoje, de caráter tão duvidoso, de qualidade tão duvidosa, tanto de letra quanto de harmonia e tudo mais. Esses eventos são muito importantes para manter viva a chama da nossa cultura, saber de onde a gente veio, saber a importância do samba na nossa formação, tentar entender um pouco do nosso próprio comportamento, além e através daquelas músicas. Eu acho que é um reencontro com o passado e, na prática, é um super encontro com o presente, no momento que tudo que a gente vive hoje é reflexo de tudo que a gente já viveu e que nossos ancestrais, antepassados, viveram. Então acho que é importante pata manter firme e acesa a história de um movimento que com certeza é o movimento mais importante da história da música popular brasileira.
Portal Infonet – Quais são os elementos ou detalhes que tornam essa performance única?
João Ventura – As releituras das músicas já conhecidas e um fator especial: a gente está no Natal. Então será um concerto também de Natal, fazendo releituras de músicas da época no formato de samba. Vai ser bem interessante para o público perceber como quase tudo cabe em samba. É aquela coisa: “isso aí vai dar um samba, isso aí vai dar um pagode”, porque o samba realmente comporta quase tudo. Todos nós, com a brasilidade e criatividade que nos é inerente, vamos entender que o samba pode ser colocado em várias músicas que não são samba.
Portal Infonet – Em termos de arranjos musicais, houve alguma abordagem específica para preservar a essência dos clássicos do samba ao mesmo tempo em que oferece uma nova perspectiva ao público?
João Ventura – Com certeza. Nos meus arranjos eu procuro desconstruir sem descaracterizar, que eu acho que é o mais importante. É ter aqueles elementos que façam lembrar as versões originais da música, mas dando nossa pitada, né? Acho que se a gente faz arte pensando em cover, a gente tem que se questionar se isso é arte. Para mim, arte é antes de tudo, uma expressão pessoal. Se você não coloca a sua pessoalidade nas suas intervenções artísticas, você talvez não esteja fazendo arte da maneira mais plena possível. Mesmo havendo algumas mudanças, em relação aos arranjos originais, a gente está procurando levar um espetáculo palpável para que o público se identifique.
Portal Infonet – Você é um artista local que tem levado o Estado para o cenário nacional e até internacional. Isso é importante destacar. Mas em relação a esse espetáculo, como a cultura sergipana e suas raízes musicais influenciaram a sua abordagem na construção desse concerto?
João Ventura – A cultura sergipana, no momento em que ela se funde com a cultura brasileira, tem um movimento do samba muito forte. Em Sergipe, há várias bandas e vários movimentos artísticos que conversam muito com o samba, então de alguma maneira, eu como sergipano da gema, vou levar um pouco da minha visão e a influência da nossa raiz sergipana dentro do samba. Tem muita gente que fala “ah, o samba não é de Sergipe. Sergipe é o forró”, mas eu acho que o Brasil é tão miscigenado e tão multicultural que a gente não pode dizer onde começamos. Claro que a gente vai ter aí nos livros de história alguns apontamentos históricos, né? Mas eu acho que o samba é um movimento brasileiro e por que não dizer também sergipano? Então esse espetáculo vai ser um samba tocado por gente de Sergipe com toda a sua influência e multiculturalidade.
Portal Infonet – Como cantor e pianista sergipano, como você acredita que a música regional influencia ou se mescla com a riqueza do samba, especialmente nessa apresentação?
João Ventura – Eu acho que é muito difícil saber onde começa uma coisa e termina outra, né? Porque eu, honestamente, considero o samba também como uma música regional. Então é difícil responder isso porque as coisas estão muito linkadas. Se você for pegar a diferença de um samba para um baião, por exemplo, as diferenças são tão poucas e o swing, o feeling, é tão parecido que realmente é difícil saber onde começa uma coisa e termina outra. Então eu acho que, no caso, está tudo misturado, né? É uma questão de sentir essa multiculturalidade, essa polirritmia, que tem uma raiz só, que é a raiz do povo brasileiro. Para mim, o samba também faz parte da música regional, só que com as nossas características, com a nossa sergipanidade também no meio do caminho, que também tem a ver com o samba.
Portal Infonet – O que você espera que o público absorva ou aprenda após assistir o espetáculo?
João Ventura – Eu espero que o povo aprenda mais sobre si mesmo, absorva toda a mensagem que a gente procurou passar, entenda todo o respeito que a gente teve de montar esse espetáculo e compreenda um pouquinho mais sobre o papel do samba na história da música popular brasileira, esse ritmo tão nosso, tão nosso, tão nosso, tão nosso… Fruto de uma miscigenação tão incrível e forte, né? Então espero que o público absorva esse samba da maneira que a gente vai cantar e contar e aprenda um pouquinho mais sobre esse estilo que é sem precedentes na música popular brasileira.
Por João Paulo Schneider
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