Jornalistas relembram o Cineclubismo

Dando continuidade à programação do Festival Iberoamericano de Cinema de Sergipe, o Curta-SE 9, aconteceu na manhã desta quinta-feira, 1º, na Sociedade Semear, um debate com o tema ‘Memórias Locais do Cineclubismo em Sergipe’. Na ocasião, os jornalistas Ancelmo Góis e Ivan Valença, dois grandes nomes do cineclubismo no Estado, aproveitaram para relembrar momentos deste importante movimento cultural dos anos 60 e 70.

Os cineclubes eram associações que reuniam apreciadores de cinema para apreciação de filmes selecionados, e debates sobre as obras. Segundo Ivan Valença, é provável que o Cineclubismo tenha surgido em Sergipe já nos anos 50, com a fundação do Cineclube de Aracaju, o Cicla. O jornalista conta que chegou a participar de algumas sessões no antigo Cicla, mas por ser muito novo àquela época não tinha permissão para assistir a algumas películas.

“Naquela época a censura para menores de idade funcionava de forma rigorosa, mas ainda assim cheguei a acompanhar algumas exibições. O Cicla me influenciou bastante, tanto que, no ano de 1962 eu fundei o Clube de Cinema de Sergipe, o CCS. Esse clube funcionou até 64. Após a chegada do Golpe Militar, nós extinguimos o CCS e fundamos o Ceca – Centro de Estudos Cinematográficos de Aracaju. Essa nova associação foi adaptada às normas impostas naquela época pelo regime militar”, lembra Ivan Valença.

Segundo ele, a adequação do cineclube aos novos tempos trouxe o apoio do governo militar, e ajudou a associação a conseguir verba e equipamentos de projeção. No entanto, a censura era ferrenha, e os cortes nos filmes, inevitáveis.

De acordo com o jornalista, essas associações se extinguiram com a chegada do VHS no mercado. “Naquela época, os cineclubistas davam preferência aos filmes que não chegavam aos cinemas, e com a chegada da fita de vídeo e das locadoras de filmes, em alguns meses nós tínhamos até 200 lançamentos. A idéia do cineclube, que era assistir e debater, se acabou. Mas no tempo em que existiu aqui em Sergipe funcionou, e muito bem”, conta Ivan Valença.

“Ivan foi minha grande influência”

Jornalista Ancelmo Góis
Outro grande nome dessa época foi o jornalista Ancelmo Góis. Ele revela que sua grande influência para atuar no cineclubismo de forma tão expressiva foi o jornalista Ivan Valença.

“Eu cheguei ao jornalismo pela política, e cheguei ao cineclubismo através do jornalismo. Eu fui muito influenciado por uma geração de jornalistas que gostava muito de cinema. Minha grande influência  foi Ivan Valença. Ele era meu guru jornalístico. Como ele gostava de cinema, eu passei a curtir também, tão grande era o meu desejo de ser parecido com ele”, revela Góis.

Ancelmo Góis participou, junto com Valença, da fundação do CCS. “Ancelmo era um cara muito organizado. Ele fazia parte da diretoria. Se tinha reunião, ele fazia as atas. Se tinha exibição de um filme no Instituto Histórico, ele providenciava os equipamentos. Ele era responsável por toda a logística. Eu, como trabalhava bastante na Gazeta, naquela época, apenas dava apoio à diretoria, mas não ocupava cargos burocráticos”, conta Valença.

Segundo o jornalista Ancelmo Góis, que foi preso e exilado em 1968, o movimento do cineclubismo perdeu muita força com o AI-5, o quinto decreto emitido pelo regime militar brasileiro nos anos que sucederam o Golpe Militar de 64. “De 300 cineclubes que existiam no Brasil, só permaneceram 12, no máximo”, conta.

Ainda assim, os dois cineclubistas relembram com saudosismo os momentos difíceis pelos quais passaram naquela época. “É gostoso relembrar aqueles tempos heróicos, em que a gente enfrentava todas as dificuldades e as brigas com a Polícia Federal”, declara Ivan Valença.

Por Helmo Goes e Glauco Vinícius


 

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