Eu, menino de oito anos, comecei a descobrir a vida, no grande teatro grego, mercado Thales Ferraz, banca de queijos e manteiga de Seu Lindolfo (meu pai). Aí via desfilar diante meus olhos, políticos, donas de casa, artistas, bêbados, fiscais, padres e ateus, comunistas e fascistas, honestos e ladrões, pessoas bonitas e pessoas feias; a poesia veio como fruta madura. São passados cinqüenta anos, e quero prestar contas a mim mesmo. Uma das formas de aprender o mundo é através da poesia, fi-lo da forma que pude, poetizando sem veleidades de poeta. São cinco blocos que se separam no tempo do poeta. Mas qual é esse tempo? Mais idealista; mais materialista; mais pessimista; mais otimista; mais amante ou menos amante. Há uma marca, que é da esperança. Assim, Luiz Alberto apresenta “Enfieira de Momentos”, seu primeiro livro de poesia, a ser lançado em 27 de fevereiro, na Galeria de Arte Álvaro Santos, às 20 horas. Graduado em Serviço Social, ele é mestre em Educação, professor e Pró-Reitor de Extensão e Assuntos Comunitários da Universidade Federal de Sergipe. Quem não o conhece bem poderá estranhar que um cinqüentão decida, de “repente”, se aventurar pelos escorregadios – e muitas vezes traquinos – labirintos da literatura, principalmente da poesia. Mas não é bem assim. Luiz Alberto sempre foi pura poesia; no jeito, no falar, nos ideais, na luta pela vida, desde o mercado – a verdadeira academia do aprender e viver – até à universidade – a academia do saber. Ele apenas não publicou a poesia de os seus momentos – estava concentrado em vivê-la. Mas, ainda bem -, o faz agora, desnudando um longo período, dividido em cinco blocos, de 31 anos (1970 a 2001). E fala sobre ela e outros temas. SERGIPE CULTURAL – Quando você começou a escrever poesias? LUIZ ALBERTO – Eu fui de uma geração marcada, em certo momento, por uma discussão entre o clássico e o científico. E naquela geração, a poesia sempre foi um instrumento muito forte. A professora Carmelita Fontes tinha um grupo de poesia, quer dizer, pessoas que discutiam e faziam poesia, e eu era ligado a alguns dos participantes. Aliado a isso, eu lia muito os mestres, a exemplo de Carlos Drummond de Andrade, Fernando Pessoa e o russo Eugênio Evtuchenco. E as poesias iam brotando naturalmente. SC – E já publicou algum trabalho? LA – Publiquei poesias no jornal o Candeeiro, da UFS, e a coletânea Visões, no Rio de Janeiro, que presenteei aos amigos. SC – Você falou, na apresentação do livro, que quis prestar contas a você mesmo. “Enfieira de Momentos” é uma espécie de biografia poética? LA – É um pouco isso. A intenção é prestar contas a mim mesmo, de uma trajetória do ponto de vista poético. É um pouco da minha percepção do mundo, as modificações ao longo do tempo. E para mim, a poesia é algo mágico, um farol que está à frente, que ilumina a vida. SC – Então Luiz Alberto será escritor de um livro só? LA – Não. Apenas quis começar pela poesia, por considerá-la a vanguarda do pensamento. Tenho um trabalho engatilhado sobre o indígena brasileiro, especialmente os xocós. O livro está quase pronto, e espero lança-lo ainda este ano. Também estou trabalhando em um conjunto de ensaios. SC – Quais poesias você destaca no livro? LA – É difícil destacar, porque todas representam um certo momento da minha vida. Mas gosto muito, por exemplo, de Visão – I, que fala da luta pela vida e identifica o amor e a amizade como os elos fundamentais da existência. VISÃO – I Sou um cavaleiro errante/ De mil países e umas tantas revoluções/O sonho desperta-nos para grandes lutas passadas/O futuro é um plantar-se visões do presente/ Os amigos – gotejar de esperanças na selva do existir/ O amor, uma mão estendida neste vendaval de insensatez/Sou um cavaleiro errante/ a galopar cavalos de esperanças/ a sonhar um futuro-presente/ a ter esperanças no amor e nos amigos. SC – Fala-se muito em política cultural, mas é de conhecimento geral de que a cultura, no Brasil, é a última área olhada pelo Governo (quando é olhada) – aí incluindo-se o federal, o estadual e o municipal. Qual seria a política cultural ideal para a área literária? LA – Para mim, tudo deveria começar na escola pública. Por que não estimular os meninos, não incentivá-los à leitura de poetas, contistas, romancistas etc? Sem estímulos, sem uma política verdadeiramente cultural, é quase impossível se ter um avanço na literatura. Fala-se muito em esportes, festas, gincanas e por aí vai, mas não se fala no pensamento. Quantas escolas promovem concursos e eventos de, por exemplo, poesia? No Brasil, falta a compreensão da cultura como um fator essencial ao desenvolvimento da qualidade humana, porque é a través dela que se dá o processamento de tudo. Se não cuidarmos da cultura o que restará às nossas crianças e jovens? É muito mais barato investir na cultura do que o que se gasta com presidiários. Contatos com o autor: albertos@infonet.com.br Fones: (0xx79) 222-4292 e 9977-7263.
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