O jornalista e sociólogo Luiz Antônio Barreto lançou em março seu livro Dicionário de Nome e Denominações de Aracaju. Ele é diretor do Instituto Tobias Barreto de Educação e Cultura, que existe desde 1997 com a função de preservar a memória e cultura sergipana. Leia os melhores trechos da entrevista. Sergipe Cultural – Quais são suas principais obras? Luiz Antônio Barreto – Eu estreei há muito tempo, em 64, com um poema, um monólogo e publiquei outros poemas e obras menores até quem 1988 eu publiquei dois pequenos livros no Recife, um livro intitulado “Um novo entendimento folclórico” e outro intitulado “Tobias Barreto: a abolição da escravatura e a organização da sociedade”. Mais adiante, eu ampliei esse primeiro livro de folclore, em 88, e em 94 eu publiquei um livro volumoso sobre Tobias Barreto, outro “Um novo entendimento do folclore e outras abordagens culturais”, “Cultura, um roteiro de alusões” e “Apologia de Deus e outros escritos sergipanos”, publiquei um contando a história do poder judiciário e outro das constituintes, dois livros álbuns, publicados em 1992. Em 94 eu já estava com oito livros publicados. Depois de 94 eu publiquei mais uns pequenos volumes, publiquei “Os vassalos do rei”, “Sem fé, sem lei, sem rei”. Esse dicionário é o 13° dos meus livros. SC – O senhor considera algumas dessas obras mais importantes… LB – Olha eu gosto de tudo que eu faço, falo treze livros porque dois estão no prego, eu gosto muito do livro que eu fiz sobre Tobias Barreto porque reuni nele todos os estudos que eu tinha feito e até mesmo as introduções às suas obras, que organizei em 89. Também gosto muito do Novo Entendimento Folclore porque é um livro de teoria, que eu conto o básico tanto de Recife, que é o ensaio principal, e ele me permitiu ampliar meus estudos, a partir dele eu estou com um outro livro de teoria do folclore que já está na gráfica. SC – Como surgiu o dicionário? LB – Eu sempre trabalhei com memória e sempre me chamou a atenção esse descaso com a memória e a dificuldade que a população tinha de criar suas referências. Um aluno hoje não sabe quem é o patrono da escola dele, a família mora numa rua e não sabe por que a rua tem aquele nome, alguns nomes são divulgados pela mídia e se acaba conhecendo eles, mas outros, a grande maioria não chega ao conhecimento do público, o que foram, o que fizeram, porque eles mereciam aquela homenagem. Por que também existiam aquelas homenagens de ocasião, como o Conjunto Marcos Freire, por exemplo. O Marcos Freire era diretor da Caixa Econômica Federal e conseguiu o dinheiro para construção do conjunto. Quando os militares estiveram no poder, nós os bajulamos muito, muitas escolas e avenidas têm o nome de um general ou marechal. O sentido do livro é contribuir para a auto estima das pessoas, a partir do conhecimento que elas venham a ter da realidade que as cercam. Uma rua, uma praça, um ginásio de futebol, qualquer coisa que tenha nome de gente, tem que saber quem era a pessoa. SC – Quais partes o livro cobre? LB – Meu livro não cobre tudo, ele cobre apenas a parte nevrálgica de Aracaju, o Centro e suas ramificações para norte, para o oeste e para o sul. Eu fiz assim porque era impossível abarcar tudo. Depois porque o centro de Aracaju ele é tomado de ruas que representam as cidades do interior, e eu não trabalhei com o nome de cidades, até porque já tinha saído no Cinform, tinha saído um livro da Universidade Tiradentes. Então se eu trabalhasse pareceria que eu estava tomando uma carona nesse oportunismo, e os municípios foram a parte mais bem tratada na historiografia sergipana. SC – O senhor pretende ampliar o trabalho aos municípios? LB – Mais adiante eu vou incorporá-los com a minha visão, até porque eu não vou fazer um livro de tese, meu livro é um livro de informações, eu não defendo tese alguma, apesar de revelar certas coisas que são característica da nossa história e que são contadas por outros de outra forma, mas é um livro principalmente de informações. SC – Como o senhor dividiu o livro? LB – Ele tem duas partes. Uma parte eu escrevi agora para atender ao banco do Estado, que é a parte do nome das ruas, praças, são 171 entradas, nomes que eu tratei. A outra parte é referente a nomes antigos de ruas, curiosidades, casas comerciais, clubes, eventos, são mais de mil informações pequenas que eu trato no sentido de despertar o interesse pela vida da cidade, para criar em torno de Aracaju uma imagem social que contribua para a formação da nossa identidade. No caso da primeira parte, eu tive muito cuidado de colocar as leis municipais que deram os nomes a essas ruas como elas existem e colocar uma pequena biografia dos homenageados, com data de nascimento e morte, local de nascimento e morte, o que ele fez, a fim de servir como estímulo a quem quiser se aprofundar e pesquisar e conhecer cada um desses patronos. A outra partes são mais de mil pequenos verbetes, que é um dicionário popular. Tudo sobre Aracaju, o que o comandante do zepelim disse quando sobrevoava Aracaju, que a chamou de “Massutana dos mares”, desde a conquista. SC – Por que o livro é interessante para o resgate da história de Aracaju? LB – Eu recupero uma série de informações, leves, curiosas, informações que terminam de utilidade porque, elas indicam como as coisas se organizavam. O que era o Ponto Chique? Quem não viveu a época do Ponto Chique, que era um bar, uma sorveteria na esquina da Rua Laranjeiras com João Pessoa, hoje a delegacia do Ministério do Trabalho, que tinha um balcão em forma de “U” e era o ponto de encontro preferencial entre as pessoas que passavam a semana trabalhando no interior, também os jovens, e isso desapareceu de repente. Os bares mais famosos e antigos de Aracaju também desapareceram e foram surgir os equipamentos de lazer na Atalaia, isso é recente da década de 60 para cá. O fútil, o bem me quer, o desfile de moças e rapazes, mais de moças, pela João Pessoa porque as vitrines eram arrumadas, iluminadas e abertas ao público. Hoje praticamente não temos vitrines no centro. SC – Este livro foi distribuído para as bibliotecas? LB – Sim. Eu já mandei para o Instituto Histórico três exemplares, Biblioteca pública e Clodomir Silva. As bibliotecas escolares eu não sei como será resolvido isso, porque o livro eu fiz por encomenda ao Banese e abrir mão dos direitos para que fossem revertidos em benefício da AVOSOS. SC – O senhor tem pretensão de atualizá-lo? LB – Eu considero esse volume uma primeira versão, com fotografias de personalidades e ilustrações de Aracaju e todos os anos eu me comprometi comigo mesmo e eu vou ter um material novo para ir acrescentando, eu considero esse livro uma obra aberta. O crescimento dela depende do crescimento da cidade. Eu fiz um primeiro levantamento da cidade no passado e agora eu quero atualizar, corrigir e colocar algumas coisas que eu deixei de fora propositalmente, porque não havia como colocar tudo, em tão pouco tempo. SC – O senhor também se utilizou da sua coluna da Gazeta… LB – Eu tenho uma coluna na Gazeta de Sergipe, a GS, que divido com os amigos Paulo Roberto Brandão e Gilvan Manuel. Certa feita eu escrevi um artigo sobre nomes e denominações, eu tratava de alguns nomes que chegavam aqui, como Rio Branco, João Pessoa,como Cabrita, que eram nomes de pessoas de fora que acabavam incorporados a nossa vida. Cabrita era um engenheiro uruguaio que veio trabalhar na abertura do canal de Santa Maria. Ali o povoado ficou conhecido com seu nome. A rua principal se chamava Rua Japaratuba e passou para João Pessoa, em homenagem ao presidente da Paraíba que fora assassinado. O diretor do banco me chamou para ampliar o trabalho. SC – E o campo editorial em Sergipe? LB – Eu poderia editar meus livros em outros Estados, principalmente no eixo Rio São Paulo, mas prefiro publicá-los em Sergipe, para mostrar que é possível fazer trabalhos no Estado. Considero minha vendagem muito boa e publicar no Estado traz reconhecimento dos meus conterrâneos, o que não me impede de divulgar seu trabalho em outros Estados e outros países. Por Leila Soares
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