De garoto que roubava frutas em um sítio perto da Praça da Bandeira a músico que lota o Canecão no Rio de Janeiro com seus shows, tem aí uma longa estrada de muita batalha, mas uma única certeza. De que nasceu para cantar. Lula é um desses “Embaixadores de Sergipe” que a gente tanto fala, que leva a arte de Sergipe para além das nossas fronteiras e com isso desperta o interesse das pessoas que o escutam de conhecer a nascente dessa tão doce poesia. Lula Ribeiro é sergipano onde estiver e isso só nos dá alegrias. TAMARINDO, MANJELÃO, SALESIANO E PRAÇA DA BANDEIRA! Eu morava ali na Praça da Bandeira e brincava pelo Cirurgia e imediações. Tinha um sítio onde a gente roubava frutas do tipo manjelão e tamarindo e vivia no Salesiano, tanto que as pessoas acreditavam que eu estudava lá, mas o Salesiano era só o complemento da minha casa, meus amigos estudavam lá então eu vivia no pátio ou no portão do Salesiano batendo papo. Minhas escolas na verdade foram Sagrado Coração de Jesus no infantil e primário e o ginásio e científico no Jackson de figueredo. VIOLÃO E CONVENTO! Na adolescência eu gostava de participar de rodas de violão com amigos, e encontros de jovens no convento de São Cristovão. Acho que foi aí que eu comecei a me definir pela arte. LUPICÍNIO, CARTOLA, DOLORES DURAN, LUIS GONZAGA… Desde pequeno que o meu contato com a música foi muito rico, meu pai tocava violão e eu me envolvia nas serestas que ele fazia com os amigos lá em casa. E sempre se escutava boa música. Eu fui criado, graças a Deus, ouvindo Lupicínio Rodrigues, Cartola, Dolores Duran, Luis Gonzaga entre outros… E CHEGA A TROPICÁLIA! Depois de um tempo eu comecei a escutar outras coisas e a tropicália foi o movimento que mais me instigou a trabalhar com música, escutava muito Caetano e Gil. Além é claro, de Djavan, Milton Nascimento e outras coisas boas … COOPERATIVA DE MÚSICOS DE SERGIPE! Na adolescência eu tinha a maior vontade de tocar violão, mas não sabia… nessa época eu e Irineu Fontes eramos parceiros, eu fazia as letras e ele fazia as músicas e tocava… Na década de 80 começou um movimento muito forte aqui, onde nós e pessoas que já faziam música em Sergipe, como Irmão, Tonho Baixinho, Nery tivemos a iniciativa de criar a Cooperativa de Músicos de Sergipe, só que não deu certo, acredito que por causa dos egos… Mas mesmo assim muita gente surgiu: Paulo Lobo, Mingo Santana e Irineu Fontes são pessoas que vieram desse movimento… FESTIVAIS DE ESCOLAS! Depois vieram alguns festivais de escolas onde começaram a surgir mais gente. Eu lembro que Chico Queiroga surgiu assim, eu era jurado em um festival que ele participou e eu tinha que ficar me segurando para não torcer para ele. Eu quando vi o trabalho dele sabia que ele tinha uma carreira promissora. Nessa época Sergipe tinha uma efervescência cultural, musical muito forte… BANDAS NO TEQUÍLA! Hoje venho em Aracaju e sinto falta desse movimento. O único lugar que a gente ainda vê alguma coisa boa é no Tequíla. Aracaju está precisando criar um outro movimento musical… FLORESCER! Em 82 foi quando eu fiz meu primeiro show, chamado Florescer, que era uma música de Alex Leão, parceiro de Irineu na época e que tinha tudo com a ocasião… Já em 86 eu fiz um disco aqui que é muito importante para discografia sergipana, assim como é o do Cataluzes, por ser um dos primeiros discos gravados aqui em Sergipe. Consegui um patrocínio e chamei dois amigos para gravar comigo, Paulo lobo e Irineu Fontes. Esse disco se chamou Cajueiro dos Papagaios e se tornou um marco da música sergipana… MORAR NO RIO… Desde o meu primeiro show gostava de viajar e sempre ía para o Rio, São Paulo e uma vez um produtor no Rio de Janeiro me convidou para ficar morando lá, topei e estou há 14 anos! CANECÃO! Aí foram sete anos de batalha para conquistar aquele público do Rio e toquei em todos lugares possíveis, Mistura Fina, People, Circo Voador, Jazzmania, Parque do Arpoador… Em 93 eu finalmente consegui gravar meu primeiro disco solo que se chamou Janeiros, quis fazer um grande show para comemorar essa batalha toda, como se fosse a “confirmação” da minha chegada no Rio e então resolvi fazer o Canecão que ainda é uma casa que serve como referência em todo o País … AQUI ESTÁ REGISTRADA A HISTÓRIA DA MÚSICA POPULAR BRASILEIRA! Na entrada do canecão existe uma frase que diz ” Aqui está registrada a história da música popular brasileira” e muito me orgulha ter passado por essa casa. Depois desse show de casa lotada o nome Lula Ribeiro ficou muito mais fortalecido, no Rio, São Paulo, Minas e em outros lugares… O QUE O EMPRESÁRIO LEVA PARA CASA? É claro que o que o empresário das grandes gravadoras leva para casa para ouvir, não é o que ele está botando nas ruas e sim um disco de Caetano, de Chico, de Lenine, enfim ele deve escutar coisas de qualidade. Então, tenho fé que essa fase que a música brasileira está vivendo vai passar… E nós vamos ter oportunidade de ligar um rádio e ouvir músicas de qualidade… ARACAJU! Quando eu saí de Aracaju, estava acontecendo um movimento cultural muito forte, era o Atheneu, o Juca Barreto, o Lourival Batista sempre com shows, teatros, exposições, tudo da melhor qualidade e agora o que você encontra são esses grupos de pagodes, axés, forrós (oxente music) horríveis, sem a menor qualidade músical. Isso me entristece muito. Nós temos que ser mais bairristas, dar mais valor para nossas coisas… e órgãos de cultura mais atuantes. MUITO PRAZER! Lancei o “Muito Prazer” no final de 98 e passei o ano de 99 todo trabalhando nele. Fiz Canecão de novo e viajei com ele por quase todo país, foi ótima sua aceitação junto ao público e a crítica. Já vinha de um trabalho anterior, onde eu fiz uma homenagem a Dolores Duran com o CD “O Sono de Dolores” onde canto músicas do seu repertório, muito bem aceito por todos. Acho que a contribuição de Arthur Maia foi fundamental na produção do “Muito Prazer” e o show que é dirigido por Aderbal Freire Filho, diretor de teatro de renome internacional, confirma a espectativa criada em torno do CD. Não posso deixar de citar a belíssima luz de Maneco Quinderé e os figurinos de Suely Machado.
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