Monumentos são aula de história para os sergipanos

Diversos pontos históricos e turísticos foram preservados pelo governo (Fotos: Marco Vieira/ASN)

Foi em 8 de julho de 1820 que o território de Sergipe ganhou sua identidade. Decisão oriunda da Carta Régia que o desanexou da Bahia. Capitania que rejeitou a decisão, mas que foi obrigado a acatá-la após o imperador Dom Pedro I referendar a determinação de seu pai, Dom João VI, que a essa altura já havia regressado para Portugal. Em 1824, dois anos após aindependência do Brasil, não havia mais dúvida: a capitania de Sergipe D'El-Rei estava na Constituição do Império.

À época São Cristóvão era a capital. A criação de gado e a produção do açúcar eram as atividades econômicas de maior relevância. Os jornais locais ainda nem existiam. A sociedade sergipana estava apenas iniciando sua formação.

Passados 191 anos de uma história repleta de feitos e conquistas, os sergipanos se viram em meio às celebrações alusivas a mais um 8 de julho, dia de exaltar o passado de sua gente.

E motivos para isso não lhes faltam: a Praça São Francisco, em São Cristóvão, agora é Patrimônio Cultural da Humanidade; o Palácio Olímpio Campos, antiga sede do Governo, foi completamente restaurado e agora é museu; o antigo farol de Aracaju, antes degradado, agora está novo e tornou-se ponto turístico; o saudoso Atheneuzinho, erguido em 1926, logo será reentregue como Espaço Cultural; e assim por diante.

Praça São Francisco, em São Cristóvão, Patrimônio Mundial da Unesco

"Nunca se fez tanto e se aplicou tantos recursos na preservação e reforma de bens e patrimônios culturais de nosso Estado como nos últimos quatro anos e meio", enfatiza o subsecretário de Patrimônio Histórico Cultural, Luiz Alberto, cuja pasta à qual dirige foi criada justamente para dar essa 'atenção especial' à herança deixada pelos sergipanos do passado.

As palavras do subsecretário são corroboradas pelos mais de R$ 30 milhões que foram ou estão sendo investidos pelo Governo do Estado apenas em obras que têm mantido cada vez mais vivo o sentimento da sergipanidade. Os recursos são crescentes e contemplam capital e interior, escolas e museus, igrejas, praças e calçadões.

Função social do patrimônio

As ações provêm de trabalhos conjuntos e integrados, envolvendo secretarias de Estado e o Governo Federal, por meio do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Para a secretária de Estado da Cultura, Eloísa Galdino, a atuaçãodo poder público de Sergipe reflete uma visão diferenciada do patrimônio histórico que teve origem no governodo presidente Lula.

São Cristóvão (f) e Laranjeiras são os maiores beneficiados pelos recursos

"O que interessa hoje ao poder público não é restaurar o patrimônio para que ele sirva de contemplação. Na realidade há uma função social do patrimônio, que é exatamente integrar a comunidade, para que ela se enxergue como elemento e parte daquele patrimônio de cidades históricas, mas sobretudo que ela também se perceba como agente social que pode ter, a partir da preservação do patrimônio, uma fonte de renda, uma vez que essas cidades têm um potencial turístico extremamente importante para o desenvolvimento local", destaca a secretária.

Foi assim, por exemplo, no povoado Ilha de São Pedro, em Porto da Folha, com a reforma da Igreja de São Pedro. Edificado pelos missionários capuchinhos franceses, o templo representa o maior símbolo da religiosidade dos índios xocós, mas já exibia paredes com rachaduras e o teto descoberto. Situação revertida após um investimento de R$ 281.510,23, em recursos doEstado. Desde o início deste ano, os xocós dispõem de uma igreja totalmente nova.

Laranjeiras e São Cristóvão

Outro exemplo está na recuperação de uma área de 3.231 m² no município de Laranjeiras, cuja arquitetura remonta à metade do século 19. Hoje a estrutura composta pelo Trapiche Santo Antônio, o sobrado 117, o prédio da antiga Exatoria, o casarão 159,a ruína ao lado do Casarão 159 e a ruína em Frente ao Mercado, localizada no centro histórico da cidade, abriga um novocampus da Universidade Federal de Sergipe (UFS). Neste caso o investimento foi superior a R$ 3 milhões, e está inserido no programa Monumenta.

Os municípios de São Cristóvão e Laranjeiras são os maiores beneficiados com as ações do programa, fruto da parceria entre o Ministério da Cultura, através do Iphan, com o Governo do Estado. "São ações que cuidam da restauração do patrimônio dessas duas cidades, que são cidades monumentos do Estado e que têm recuperado tanto os prédios ligados à religiosidade, quanto os prédios públicos", explica a secretária Eloísa Galdino.

Entre as intervenções previstas pelo investimento de quase R$13milhões, boa parte já foi entregue. São os casos da requalificação das praças da República e Cel. José de Faro, e da restauração do Casarão de Oitão da Praça da República, em Laranjeiras; além das restaurações do sobrado da Antiga Ouvidoria, da Igreja Matriz do Sagrado Coração de Jesus e do MuseuHistórico do Estado de Sergipe, todos em São Cristóvão.

Também na primeira capital do estado, o Monumenta, que é executado pela Secretaria de Estado da Infraestrutura (Seinfra), contribuiu de forma decisiva para a afirmação da Praça de São Francisco como Patrimônio Cultural da Humanidade. O programa permitiu melhorias como a implantação da rede elétrica e telefônica subterrânea do Centro Histórico, a execução do projeto luminotécnico da Praça e a restauração de toda a sua estrutura.

Tudo isso sem falar no Plano de Ação das Cidades Históricas – PAC Cidades Históricas, que envolve Iphan, governo estadual e prefeituras, e prevê investimentos de R$ 230 milhões em Laranjeiras, São Cristóvão e Aracaju. Os recursos serão destinados à recuperação de prédios e conjuntos arquitetônicos tombados e à promoção do Patrimônio Cultural como um todo.

"Em todas as ações que realizamos, seja em São Cristóvão ou Laranjeiras e também em Aracaju, um dos critérios é o envolvimento da comunidade, a formação das gerações. Há uma preocupação muito grande com a educação patrimonial. É simplesmente a gente conseguir passar para os jovens, sensibilizá-los sobre a preservação desse patrimônio", observa a secretária Eloisa Galdino.

Identidade de um povo

Doutor em História Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, o professor Francisco José Alves acredita que a preservação do patrimônio histórico e cultural é fundamental por diversos aspectos.

"É componente essencial na constituição da 'identidade' de um povo. Como pensar um povo, um país ou uma nação sem o respectivo patrimônio que lhe dá suporte?É possível pensar a Bahia sem a festa do Senhor do Bomfim, o Carnaval e as suas 'baianas'. Como conceber Pernambuco sem o seu frenético frevo?", destaca o professor da UFS, que atualmente coordena o grupo de extensão 'Defensores do Patrimônio Cultural Sergipano'.

Ainda conforme Francisco Alves, esse tipo de intervenção é fator de unificação cultural, capaz de interligar pessoas. "É um meio de se conhecer o legado das gerações que nos antecederam. É a tradição recebida", complementou o docente, estudioso do patrimônio cultural sergipano.

Segundo ele, os investimentos voltados à preservação do passado são decisivos para a disseminação da sergipanidade. "O que seria a sergipanidade senão um conjunto dos diversos patrimônios comuns (sotaque, culinária, geografia, história etc.)? Na verdade, ações governamentais deste tipo seriam fatores de constituição, reforço e disseminação da identidade sergipana", conclui o professor.

Palácio-Museu Olímpio Campos

Para o docente da UFS, a recente restauração do Palácio Olímpio Campos, agora Palácio-Museu Olímpio Campos (PMOC), é uma conquista a ser exaltada. "Inquestionavelmente, trata-se de um feito louvável do nosso Governo", elogia Francisco José Alves.

A antiga sede do Governo e residência de ex-governantes, foi construída entre os anos de 1859 e 1863, nagestãode Joaquim Jacinto deMendonça. Em julho de 1954, já no governo de Arnaldo Garcez, vem a denominação 'Palácio Olímpio Campos', em homenagem ao jornalista, professor e sacerdote Monsenhor Olympio de Souza Campos.

Ao longo de todos esses anos, a estrutura havia recebido apenas paliativos ou reformas de menor impacto. Com o projeto do 'Palácio-Museu', foi feita uma ampla recuperação, preservando o projeto arquitetônico original e criando novos ambientes – o investimento total foi de quase R$6milhões.

O Palácio passa a ter áreas de acesso público, que contam a história política e cultural do monumento e da República de Sergipe, e áreas de acesso restrito, que funcionam para a administração do palácio, reuniões de trabalho e solenidades com autoridades. Tamanho vem sendo o sucesso da iniciativa que no último mês de maio o Palácio-Museu comemorou um ano de reinaugurado com a marca de quase 40mil visitas registradas.

Banese Cultural

Outra estrutura histórica que vinha desativada, mas logo passará a receber visitas é o Colégio Atheneu Dom Pedro II, o Atheneuzinho, localizado na Avenida Ivo do Prado. Inaugurado na administração estadual do presidente Graccho Cardoso, em 1926, o prédio foi construído especificamente para ser a nova sede do Colégio Atheneu, instalado na então Província de Sergipe, em 1871.

"Lá teremos um espaço cultural; será um projeto de interatividade, já afinado com toda essa tecnologia como vemos, por exemplo, no Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo", revela o subsecretário Luiz Alberto. Para viabilizar a proposta, que deverá ser entregue ainda este ano, o Banese destinou R$ 5.446.844,71.

Com sua estrutura completamente restaurada, o Atheneuzinho abrigará o ‘Banese Cultural – Museu da Gente’, dispondo de um espaço voltado a mapear, registrar, proteger e divulgar o patrimônio artístico-cultural material e imaterial do Estado.

Demais ações

O mesmo Banese investiu cerca de R$1milhão na revitalização da estrutura física do antigo Farol de Aracaju, construído em 1888. A melhoria ganhou repercussão nacional e a capital passou a contar com um novo ponto turístico, visitado e fotografado diariamente. Mais recentemente, o Banco do Estado ainda recuperou o painel de cerâmica criado pelo artista plástico sergipano Jenner Augusto, no ano de 1957, localizado na fachada do edifício Walter Franco.

“Nossas ações são contínuas e várias outras reformas em bens e patrimônios históricos do Estado já estão previstas ou em andamento”, ressalta o subsecretário de Patrimônio Histórico Cultural, revelando que os internautas logo irão dispor de um site onde poderão acompanhar a situação atual de cada um dos bens sergipanos tombados pelo governo federal ou estadual.

Fonte: Secom

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