O professor e a boneca

Quem diria que um professor de Educação Física seria tão apaixonado por uma boneca ao ponto de mantê-la sempre sentada no melhor local da casa, a sala de visita, e ainda dizer que a união dos dois é “uma ponte com Deus”? O casamento do professor e dançarino César Leite com Genoveva teve início em 2002. Mas o desejo de ter uma boneca que fosse um par dançante nasceu bem antes, ainda em meados da década de 80, quando foi formado o Grupo Nordestinados, de danças regionais. Hoje, quem vê de longe a apresentação jura que Genoveva é uma mulher. Nesta entrevista ao Portal InfoNet, César conta sua trajetória como dançarino e fala sobre o sucesso de Genoveva. Confira:

PORTAL INFONET – Como nasceu sua paixão pela dança?
CÉSAR LEITE
– Sempre fui ligado à dança. Ia de quarta a domingo dançar forró. Mas não era um trabalho montado. Então, conheci Ricardo Biriba, em 1985. Ele foi meu mestre, sabe tudo. Na época, montamos o Grupo Nordestinados, de danças regionais, e tinha uma boneca chamada Catirina. Ele foi professor do Curso de Arte-Educação da Universidade Federal de Sergipe e, hoje, faz Doutorado em Artes Cênicas pela Universidade Federal da Bahia.

INFONET – Ah, então sua primeira boneca-namorada não foi Genoveva?
CL – Catirina é uma personagem do folclore brasileiro. Ela era casada com Mateus. Um dia engravidou e teve o estranho desejo de comer a língua do boi mais belo da fazenda. O espetáculo do Nordestinados representava a morte e ressurreição do boi. Eu fazia o Mateus e ficava encantado com aquilo porque a boneca era fascinante. Então pensei, ‘um dia ainda vou fazer uma história dessa’.

INFONET – E quanto tempo demorou até que isso acontecesse?
CL – Biriba foi embora para Salvador em 1999 e o Nordestinados acabou. Eram oito componentes que preferiram não prosseguir com o grupo. Fiquei desamparado. Até que surgiu a Companhia de Artes Mafuá, em 2000. E existe até hoje, com 12 componentes, na mesma linha do Nordestinados: teatro, dança, músicas regionais e folclóricas.

INFONET – Mas a Genoveva ainda não apareceu…
CL – Fui me envolvendo com projetos folclóricos. Também em 2000, implantei no Colégio Municipal Freitas Brandão o Projeto Folclorear. O objetivo era despertar o interesse dos alunos pela cultura popular. Mas eles recebem uma influência muito grande de outras culturas, como a americana, que tem um apelo forte na mídia e faz uma lavagem cerebral na cabeça dos meninos. É muita coisa contra nossa cultura. Um dia ela vai se acabar, como está acontecendo com os grupos folclóricos.

INFONET – E finalmente, quando Genoveva nasceu?
CL – A Prefeitura de Aracaju realizou, em 2002, um projeto muito legal no Parque da Sementeira chamado Escola Aberta. Tinha música, dança, literatura, artes plásticas. Lá, eu conheci Ancelmo Seixas, que ministrava uma oficina de confecção de bonecos. Eu fiquei observando e pedi que ele fizesse uma boneca para mim. Falei como queria e ele fez. É o pai de Genoveva, que foi batizada pelo meu cunhado, irmão da atriz Andréa Vilela.

INFONET – Quando e onde foi a primeira apresentação que você fez com Genoveva?
CL – Nem me lembro bem. Mas Sergival sempre teve um namoro com Genoveva. Certa vez ele ficou internado no São Lucas e eu levei a boneca para a visita. Chegando lá, ele estava com um rádio e uns CDs de forró e pediu para eu dançar com ela. Foi um alvoroço no hospital. Genoveva foi parar até na cozinha do São Lucas. Então, ele me chamou para participar do show dele.

INFONET – E agora, como são suas apresentações com Genoveva?
CL – Temos um espetáculo montado de 50 minutos, intitulado “Boi de Barro”. A equipe é formada por seis pessoas e o nome da banda é “Pilão de Pífanos”. Utilizamos músicas do folclore sergipano, como valsa do Guerreiro, xaxado e baião. Também acrescentamos textos da literatura de Cordel, feitos por Chiquinho Além Mar. É um espetáculo que tem dança, teatro e literatura.

INFONET – Se um dia você tivesse que se separar de Genoveva?
CL – (Pausa…) Deu até uma dor no coração agora. Eu ficaria muito triste. Genoveva para mim traz felicidade. Expresso com ela meus sentimentos mais profundos. Tenho certeza que quando estamos em cena é um ritual divino. A gente consegue fazer uma ponte com Deus.

Por Janaina Cruz

 

Portal Infonet no WhatsApp
Receba no celular notícias de Sergipe
Clique no link abaixo, ou escanei o QRCODE, para ter acessos a variados conteúdos.
https://whatsapp.com/channel/
0029Va6S7EtDJ6H43
FcFzQ0B

Comentários

Nós usamos cookies para melhorar a sua experiência em nosso portal. Ao clicar em concordar, você estará de acordo com o uso conforme descrito em nossa Política de Privacidade. Concordar Leia mais