“O público sergipano é curioso e sensível”

Eduardo Conde Garcia é a próxima atração da série Concertos Internacionais Banese. Ele fecha a edição deste ano do projeto com o Recital Frédéric Chopin, que acontece no próximo dia 3 de novembro, às 20h30min, no Teatro Tobias Barreto. Bacharel em Música pela Universidade Estadual de Campinas – Unicamp -, é mestre, também em Música, pela Hart School of Music da University of Hartford (Estados Unidos), onde também fez seu doutorado pela University of Arizona. PORTAL INFONET – Finalizar o ano com Frédéric Chopin é, sem dúvida, uma ótima sugestão aos sergipanos. Fale um pouco do papel do músico deste século na interpretação de clássicos, como este gênio do século XIX. EDUARDO GARCIA – O intérprete é um recriador. Uma mesma obra soa diferente quando tocada por diferentes intérpretes. O músico deste século enfrenta uma crise cultural gerada pela falta de investimentos no setor por parte dos governos passados. Isto e mais a revolução tecnológica, que permitiu o boom das gravações, contribuíram para a redução das platéias nos espetáculos de música ao vivo. Os músicos têm a responsabilidade de lutar pela mudança deste quadro, seja levando ao público peças do gosto popular, seja apresentando obras inéditas com algo inovador na parte cênica. INFONET – Chopin inovava constantemente, arrancando aplausos ao fugir do formalismo clássico da época. Mesmo assim, não deixou de dedicar quase que totalmente sua obra ao piano. Como você apresentará Frédéric Chopin aos sergipanos? EG – O recital Frédéric Chopin constará de uma pincelada no melhor de sua obra, abrangendo 3 noturnos, 2 valsas, 2 estudos e os 4 scherzos. Será um recital de peças românticas adaptado à Era moderna, com inovações cênicas e efeitos de luz. INFONET – Você também vem de uma família de músicos, como Chopin, que desde os oito anos de idade já fazia concertos públicos? Este é um fator importante na formação de bons músicos? EG – A minha família é formada por amantes da boa música. Ser estimulado desde o lar ao bom-gosto musical é um fator importante na formação de bons músicos. Porém, não é condição sine qua non. Há casos de pessoas que, pelo talento, conseguem transpor essa barreira e tornar-se grandes músicos. INFONET – O público sergipano tem “bons ouvidos” para a música clássica? E, como funciona o incentivo financeiro a esta área no Estado? EG – O público sergipano é curioso e sensível. A música clássica é uma música complexa. Curiosidade e sensibilidade são indispensáveis para o desenvolvimento de “bons ouvidos” que saibam apreciar a complexidade daquela música. O incentivo financeiro para a música clássica no Estado de Sergipe tem sido melhor que nas gestões anteriores, especialmente devido à sensibilidade e pulso do secretário de Cultura, o ilustríssimo Sr. José Carlos Teixeira. Contudo, é preciso se investir muito mais na área de educação e, mais especificamente, no Conservatório de Música de Sergipe. O próprio governador comentou em sua campanha (em reunião com os artistas) sobre a importância de se ter um meio musical aquecido como forma até de incentivar o turismo. O trabalho de base é feito no Conservatório. É dali que sairão os músicos para a formação de orquestras e bandas no Estado. Portanto, é essencial a contratação urgente de professores qualificados. Mas é difícil se contratar profissionais qualificados quando se oferece um salário abaixo de R$ 700,00. Perde-se a competitividade. É preciso também reativar o auditório daquela Unidade, que tem uma das melhores acústicas que já ouvi. O palco está escorado há anos, não há iluminação adequada, não tem um camarim, não tem um banheiro decente para o público, não há bilheteria. Em outras palavras, inadequado para qualquer apresentação musical. Pensemos bem: construir um camarim implica em levantar duas paredes, o banheiro só precisa de manutenção e ampliação, a iluminação depende de uns 10 refletores de média potência, a bilheteria precisaria ser construída. Será que o investimento é tão alto assim para se reativar o auditório? Sei que a situação é semelhante em outras unidades. O governo diz: “Não há dinheiro”. E a ponte Aracaju-Barra dos Coqueiros? INFONET – Este ano, com o projeto Concertos Internacionais Banese, os admiradores do seu trabalho e de sua noiva, Marilia Teixeira, conheceram um outro lado de vocês, enquanto produtores. Como foi esta experiência para vocês e o que isto representa para os demais músicos sergipanos? EG – Foi uma experiência inédita e muito gratificante para mim, quando penso em quantas pessoas estão se beneficiando com isso. Quantas pessoas tiveram aulas de graça com artistas de tão bom nível… Isso sem dizer daquelas que freqüentam as apresentações. Não tenho medo de afirmar que isso serve de estímulo a outros músicos para produzir outras séries e ajudar o nosso Estado a crescer. Mais informações sobre o projeto Concertos Internacionais Banese no site www.infonet.com.br/concertos.

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