“Oficina de Luz” comemora 129 anos em Maruim

Selecto auditório

Dr. Joel Aguiar

“Diante da belleza do passado desta “officina de luz”, onde ferreiros do vernáculo moldaram, com o calor das phrases, o aço do verbo, aquilatae o valor deste Gabinete e vede se não nos sobram razões para, no dia de hoje (21 de agosto de 1927), delirarmos e fremirmos em assomos de enthusiasmo, por conservarmos, durante meio século, tão digna Sociedade.

Se a Fatalidade lançar algum dia, sobre nós, as malhas do regresso, obrigando-nos a palmilhar e a perlustrar a tenebrosa estrada da Decadencia, esta cidade não morrerá de todo, porque será sempre lembrada como terra propagadora das lettras, terra cujo passado é uma fusão de flores e auroras resplandecentes. As flores hão de exaltar eternamente a amphola geradora da essencia da razão e o perfume inebriante da Fé; as auroras hão de encerrar perpetuamente, nas suas emanações, a sublimidade da idea e a scentelha do gênio.

Se o destino nos levar á triste situação de um logarejo, onde não se ouve o ruido do Progresso e a harmonia da Justiça, forçando-nos a olharmos entristecidos para as quietas águas do Ganhamoroba, esta cidade não morrerá de todo, porque um Pharol brilhará sempre á vista de quem aqui pizar, encandeando de alegria a retina do viajor.

Este Pharol é o Gabinete e a luz que elle difunde é maravilhosa porque é a dos Livros. A Luz que d’ aqui se irradia edifica, constróe e organiza a Sociedade humana; desfralda a bandeira da Liberdade, Igualdade e Fraternidade; vivifica, proclama e encoraja as nobres cruzadas, as ideas humanitarias e levados emprehendimentos”(…). 

(discurso pronunciado em comemoração aos 50 anos de fundação do Gabinete de Leitura).

Creio que este discurso de Joel Aguiar é muito atual, apesar de ter sido escrito há 79 anos, em comemoração aos 50 anos de fundação do Gabinete, ele realmente cabe muito bem nestes 129 de existência do mesmo.

Infelizmente este Farol de Luz que fora o Gabinete, não mais brilha como outrora, apesar de alguns declararem o saudosismo ao mesmo, não tenho visto nestes 09 anos que conheci o esplendor de suas obras empoeiradas em velhas estantes, um projeto de conscientização do raro valor cultural que ali está guardado. Apesar de alguns enaltecerem a sua importância, o que vejo é o constante descanzo e interesse apenas politiqueiro de quem vive, naquela cidade e não tem feito nada para recuperar o prédio e todo o seu acervo que ainda luta heroicamente em suas prateleiras e o seu valor histórico, não somente para a comunidade, mais para a própria ciência humana. Posso destacar o quanto é valioso a obra de Voltaire (1861); Rousseau (1857); Tobias Barreto (1892); Thiers (1842); Michelet (1863) e tantos outros centenas de poetas, historiadores, geógrafos, religiosos que estão escondidos e inexplicavelmente tem conseguido manter-se em bom estado de conservação, “éramos milhares hoje somos centenas, mais estamos aqui sufocados pela poeira e traças que nos corroem diariamente. E os poucos que ousaram a nos tratar com respeito a nos divulgar não foram reconhecidos pelo poder publico para nos tirar do anonimato com mais permanência”.

Inaugurado em 19 de agosto de 1877, foram seus fundadores, os senhores Tomaz Rodrigues da Cruz e João Rodrigues da Cruz.

Logo nos seus dois anos de fundação possuía um acervo de seiscentos e setenta e sete obras em hum mil e setenta e seis volumes. Neste período de efervescência fora lançada a Revista Literária que existiu entre os anos de 1890 e 1892.

No inicio de sua formação o Gabinete Funcionava em uma casa à rua Fausto Cardoso, depois foi adquirido um prédio na praça da Matriz, que foi inaugurado em 17 de janeiro de 1926. Desde 1992, o prédio pertence a Prefeitura Municipal, tendo como nome Biblioteca Municipal “Josias Dantas”.

Sendo assim, espero que a comunidade de Maruim possa entender melhor, a importância que foi e que ainda é, o espaço e o acervo que ainda hoje o Gabinete de Leitura oferece. O Gabinete é o inicio de um longo processo de busca do saber, principalmente de uma sociedade “velha”, mas cheia de vigor, que saberá no momento certo conhecer e entender o seu passado, mas não viverá do seu saudosismo e sim estará inclinado a buscar no hoje condições para percorrer caminhos para um futuro que ainda estará por vir.           

* Gilvan dos Santos Rosa é licenciado em História pela UFS, especialista em Terceiro Setor e Políticas Públicas pela UNIT. Membro fundador do Centro de Estudo e Conservação Artística de Sergipe-CECARSE. Hoje exercendo a função de Coordenador Técnico do Curso Médio em Agente Comunitário de Saúde da SMS de Aracaju.

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