Os Rasgadinhos: o primeiro dia do bloco nas ruas do Cirurgia

Década de 60. “Seu” Leopoldo sai de sua casa no bairro Suíça e vai resgatando piratas, marinheiros, palhaços, mulheres barbadas, mendigos e bailarinas, que o aguardam ansiosos em suas calçadas, à espera dos carnavalescos de camisas e roupas rasgadas, que, por isso, são chamados “Os Rasgadinhos”. Moradores dos bairros Getúlio Vargas, Cirurgia e Suíça tornam-se um só bloco de foliões fantasiados, que brincam nos paralelepípedos o carnaval de rua, das escolas de samba Império Serrano, Império do Morro e Império do Samba. Ano de 2004, 19 de fevereiro. Os sopros e a bateria da banda Feras do Frevo, sob o comando de Tom Robson, toca Vassourinhas, O teu Cabelo Não Nega, Jardineira, Brasileirinho no cruzamento da rua Riachão com Maruim. É o primeiro ensaio de “Os Rasgadinhos 2004”, depois de cerca de 20 anos de quartas-feiras de cinzas sem o cansaço da folia nas ruas do bairro. Homenageando seu Oscar e seu Leopoldo, pioneiros do bloco, o carnaval de rua, com marchinhas e samba, volta ao bairro Cirurgia a partir da vontade de Tonhão du Imbuaça, João Marcos, Tom Robson e o apoio de Rubens Viana unir o povo do bairro para resgatar a proposta e a cultura de seu antigo carnaval. “Tempo bom. Tempo do carnaval de Aracaju”, descreve com nostalgia o deputado Jackson Barreto, descendente dos tempos gloriosos dos Rasgadinhos. No início do cortejo, os foliões era uma platéia defensiva, talvez por vários deles não reconhecerem o que se tocava. Mas não demorou muito para que os corpos parados nas calçadas alegrarem-se e dançarem a desordem do ritmo livre do frevo. Teve homem em perna-de-pau, muita criança feliz, brincando com a aquela música, que seus avós brincaram, junto com os cabelos grisalhos de senhoras e senhores que balançavam no mesmo compasso de quarenta anos atrás. “Bebemos dessa cultura. Não seria um artista hoje se não tivesse vivido aquele carnaval”, confessa Tonhão du Imbuaça, que é ator e completamente envolvido na restauração cultural de Sergipe. Tonhão também diz que, juntamente com seus parceiros, não pretende, com o retorno de Os Rasgadinhos, reinventar o que acontecia no passado, mas sim dar continuação àquele carnaval de rua, que não existe mais na cidade. “Quando foi a última vez que você viu confete e serpentina no carnaval, como está vendo aqui?”, pergunta Tonhão. Tem muito tempo, responderia alguns. Nunca, responderia outros tantos. Os Rasgadinhos ainda sai nos dias: 21 (14 horas, na rua Riachão com Maruim), 22 (14 horas, na rua Riachão com Maruim) com a coroação da rainha do bloco, D. Doca e no dia 25 (6 horas – na Praça dos Mercados em direção à rua Riachão). Por Marina Ribeiro Mais notícias da área no hotsite CARNAVAL 2004

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