O incipiente cinema sergipano poderia cair em completo esquecimento, não fosse o esforço de heróis apaixonados pela sétima arte. Esse é o caso da presidente da Associação Brasileira de Documentaristas (ABD), Rosângela Rocha. Fanática por cinema e visionária, ela faz da ABD uma das poucas trincheiras de Sergipe que não apenas consomem, mas pensam e lutam por uma política cinematográfica para o Estado. Conversando com a equipe do SERGIPE CULTURAL, ela falou um pouco sobre seus projetos e comentou a situação do cinema local. Confira o bate-papo: Sergipe Cultural – É notável a participação da ABD na tentativa de impulsionar o cinema em Sergipe. Para isso, de que maneira ela tem atuado no Estado? Rosângela Rocha – A situação do cinema sergipano, de um modo geral, ainda é bastante precária, nós elaboramos um plano de ação que busca incentivar o desenvolvimento cinematográfico como um todo. Para isso, resolvemos dar maior ênfase às áreas da difusão, da produção, da preservação e da capacitação. Esse projeto já foi, inclusive, entregue a algumas instituições culturais e também a alguns candidatos ao governo. Com essa iniciativa, queremos aumentar a produção de curtas-metragens, fazer com que as pessoas tomem interesse pelo cinema, que se sintam motivadas não só a criar, mas também a cuidar daquilo que foi e ainda será produzido. SC – O Festival de Curtas Metragens de Sergipe, o CURTA-SE, tornou-se um dos grandes eventos do nosso Estado. Quando vai haver uma próxima edição? RR – Em 2003, será realizado o 3º CURTA-SE, que irá acontecer entre os dias 11 e 15 de abril. O projeto do evento já está todo pronto, sendo que, nesse ano, ele virá com uma novidade: ele não será mais apenas brasileiro, mas sim “luso-brasileiro”. Agora os portugueses também poderão inscrever seus filmes para concorrerem no festival. Essa é uma iniciativa bastante positiva para o nosso Estado, pois permite a projeção do evento fora dos limites nacionais, lançando-o no espaço internacional. Além disso, estaremos fazendo também uma homenagem especial ao Wilson Silva, um sergipano apaixonado pelo cinema, que já produziu vários filmes. Hoje ele já está bastante idoso e vivendo no Rio de Janeiro, mas foi, sem sombra de dúvidas, uma figura muito importante para o cinema sergipano. SC – O CURTA-SE é uma excelente oportunidade para se avaliar a qualidade dos filmes produzidos em Sergipe. Que avaliação você faz da qualidade desses filmes? RR – A qualidade dos curtas-metragens sergipanos tem crescido de maneira surpreendente. Do primeiro para o segundo CURTA-SE, os filmes deram um verdadeiro salto, tanto na qualidade quanto na quantidade do material inscrito. E eu fico muito satisfeita em poder acompanhar de perto esse progresso, em ver que o interesse pelo cinema tem crescido aqui. SC – Além do CURTA-SE, quais outros projetos os aracajuanos podem esperar na área do cinema? RR – Estamos promovendo o projeto Cinema BR em Movimento, que já está em atividade. Há também a TV Cidadão, que leva curtas-metragens para os bairros mais pobres da cidade. A idéia é levar o cinema para todas as pessoas, em todos os lugares. Além disso, está sendo organizado também o Festival de Cinema Brasileiro em Lisboa. O projeto já foi aprovado pelo Ministério da Cultura e estará ocorrendo entre o final de julho e o início de agosto de 2003. Apesar de não estar especificamente ligado a Aracaju, esse festival será uma excelente oportunidade de mostrar o potencial cinematográfico brasileiro no exterior. SC – Um ponto que está sendo muito questionado na cidade diz respeito ao que aconteceu ao Cine Rio Branco. Que colocação você tem a fazer sobre o assunto? RR – O que aconteceu ao Rio Branco foi, com certeza, de uma imprudência enorme. Embora a obra tivesse sido considerada tombada há alguns anos, a situação já havia sido revista, de modo que já existiam documentos que citavam o Rio Branco como patrimônio cultural. Porém, resolveram demolir o cinema, alegando que iriam fazer uma “reforma geral”. Foi, sem sombra de dúvidas, uma perda enorme. Aracaju tinha o cinema mais antigo do Brasil, talvez até do mundo – o Rio Branco fez sua primeira exibição em 1903 -, mas deixou escapulir o título pelas mãos. E isto é realmente muito triste. SC – Quais as dificuldades enfrentadas pelo cinema em nossa cidade? RR – Aracaju tem uma deficiência muito grande no que diz respeito à qualidade dos equipamentos de gravação e projeção. A grande maioria deles está obsoleta e em mau estado de conservação. Seria preciso uma iniciativa privada, para tentar melhorar a qualidade dos equipamentos. Além disso, são poucos os investimentos em roteiros, iluminação, direção e animação gráfica. SC – E os projetos da ABD? Também são muitas as dificuldades para levá-los adiante? RR – O apoio que recebemos para desenvolver o nosso trabalho é bem reduzido. E as dificuldades para se levar nossos projetos adiante são muitas. Já perdi as contas de quantas vezes tive que tirar dinheiro do meu próprio bolso para tocar um trabalho adiante. O que falta, na verdade, é uma política bem estruturada que seja voltada para o cinema. É preciso que haja mais vontade política, não apenas por parte da Prefeitura, mas também do Estado como um todo. Apenas trabalhando em conjunto é que conseguiremos alcançar bons resultados. Aracaju tem um excelente potencial, mas que precisa ser explorado da maneira correta. Por Fernando Andrade
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