QUAL O FOI O MAIOR DESTAQUE ELEITORAL?

Cezar Britto * O grande assunto, depois que publicados os resultados eleitorais, é saber quem perdera ou ganhara na histórica decisão de domingo. Também não faltam palpiteiros ou especialistas para tentar definir qual foi o fator mais relevante neste grande dia para a democracia brasileira. É claro que não fiquei imune ao debate, também dei os meus palpites e divulguei várias conclusões, assim como concordei com muitos e descordei de vários. As pesquisas mais apressadas destacaram as longas filas nas sessões eleitorais como vencedoras, embora a imprensa internacional tenha elogiado a “modernidade brasileira”, o país que detém a maior e mais completa tecnologia eleitoral. Venhamos e convenhamos, depois do fiasco que foram as eleições nos Estados Unidos, não se pode negar que demos um bom exemplo ao mundo. Vários argumentam que o grande destaque fora a tranqüilidade do próprio dia da eleição, demonstrando, finalmente, que o brasileiro compreendeu a importância do voto, rejeitando pressões ocultas. Reforçam a tese com a constatação de que foram registradas poucas denúncias da prática do crime de corrupção ou abuso da máquina estatal. A boa atuação inibitória do Ministério Público, dos Tribunais Eleitores e dos setores organizados da sociedade civil também faz parte desta análise tão otimista. Outras análises apontam que a eleição forjou o seu nome na história quando resolveu varrer do cenário político vários caciques políticos e chefes de oligarquias, sequer elegendo-os para a disputa de segundo turno, ou mesmo para uma das duas vagas do senado. Neste rolo compressor foram esmagados pelas urnas ex-governadores como: Geraldo Bulhões (AL), Paulo Maluf (SP), Orestes Quercia (SP), Gilberto Mestrinho (AM), Antônio Britto (RS), João Durval (BA), Jorge Bornhausen (SC), Epitácio Cafeteira (MA), Hugo Napoleão (PI), Freitas Neto (PI), Newton Cardoso (MG) , Maguito Vilela (GO), Iris Rezende (GO), Pedro Pedrossian (MS), Dante de Oliveira (MT), Wilson Braga (PB), Tarcísio Burity (PB), Paulo Pimentel (PR), Carlos Wilson (PE), Geraldo Melo (RN), Moreira Mendes (RR), Neudo Campos (RO) e Moises Avelino (TO). Nesta linha não se pode esquecer o ex-todo-poderoso-presidente-governador Fernando Collor (AL). Também marcou pelo não retorno ao Congresso Nacional de políticos de projeção nacional como José Fogaça, Emília Fernandes, Artur da Távola, José Anibal, Fernando Bezerra, Jair Meneguelli, José Roberto Batochio, Gerson Peres, Odacir Klein, Bernado Cabral, Emerson Kapaz, dentre outros. Alguns ícones da esquerda também foram juntos neste pacote de exclusão eleitoral, como o velho guerreiro Brizolla, o petista Waldir Pires e o comunista Haroldo Lima, também da Bahia. Foi destaque ainda a não eleição de vários candidatos envolvidos com denúncias de corrupção, a exemplo do ex-prefeito de São Paulo Celso Pitta e o Presidente do Vasco da Gama Eurico Miranda, para alegria de muitos, inclusive a minha. Infelizmente não foram excluídos Antônio Carlos Magalhães e José Arruda, que tiveram devolvidos os mandatos que haviam renunciados depois do famoso escândalo dos painéis do Senado. Também assim ocorreu com Jader Barbalho, o deputado federal mais bem votado no Pará. O coeficiente eleitoral também ganhou visibilidade nestas eleições, especialmente quando o furacão Enéas, como seus 1.573.112 votos, arrastou para a Câmara dos Deputados inexpressivos candidatos depois conhecidos como Irapuan Teixeira (643 votos), Elimar (484 votos), Ilideu Araujo (382 votos) e Vanderlei Assis (275 votos). Foi esta mesma regra quem tirou do páreo o combatente Pedrinho Valadares, com seus expressivos 64.699 votos. Provocou ainda a emocionante disputa que elegeu, no limite máximo da linha de chegada, os deputados Garibaldi e Joaldo Barbosa. A “Onda Lula”, que contagiou todo o Brasil pedindo mudanças, pode muito bem ser enquadrada como o maior destaque das eleições. De repente e silenciosamente, o Brasil viveu um domingo estrelado, fazendo de Lula o predileto da maioria dos Estados brasileiros, somente perdendo nos Estados do Rio de Janeiro, Ceará e Alagoas. A presença do PT em sete disputas do segundo turno, a já eleição de dois governadores, a formação da maior bancada parlamentar da Câmara dos Deputados e a terceira do Senado Federal bem demonstram a relevância desta afirmação. Como se vê, são vários os aspectos destacados, tornando difícil a eleição de um deles, até porque não são excludentes. Mas uma coisa parece certa, o eleitor ainda não terminou a sua obra, pois ainda falta ainda o resultado do segundo turno para a Presidência da República. Da mesma forma, a maioria dos Estados ainda não definiu quem será guindado à condição de governador, e não se poder esquecer que vários caciques, governadores e ex-governantes ainda estão no páreo. Apenas na madrugada do dia 27 de outubro é que saberemos qual será a do brasileiro. Somente assim saberemos, sem mais qualquer dúvida, se o Brasil quis e ainda quer mudanças. Mudar ou não mudar será, na minha opinião, o grande destaque desta eleição. E adianto que torço pela mudança. (*) Cezar Brito é advogado, conselheiro Federal da OAB e presidente da Sociedade Semear. cezarbritto@infonet.com.br

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