Quintas da Assaim encerra 2003 com Antônio Carlos du Aracaju

O ano de 2003 ganhou um forte enriquecedor para o trabalho cultural na noite de Aracaju. Sua casa? O Melodia Show Bar. Os anfitriões? Músicos, atores, artistas plásticos, pintores, escritores, gente que produz cultura. E neste dia 18, no Cultart, ele, o projeto Quintas da Assaim, comemora com seu público e artistas seu ano de estréia e sucesso. Antônio Carlos du Aracaju abriu o projeto e é um dos que cantarão em homenagem ao projeto nesta noite. O SERGIPE CULTURAL conversou com esse grande protetor da cultura sergipana. SERGIPE CULTURAL: Como aconteceu a formação musical do Antônio Carlos du Aracaju? ANTÔNIO CARLOS DU ARACAJU: Cantando em palco, comecei em 1969, 70, cantando em bailes música americana. E no passado mais remoto comecei cantando nas igrejas, nos corais em Porto da Folha. SC: Quais os maiores momentos de glória de sua carreira? AC: Tiveram vários momentos- é até bom não citar um para não ser injusto com outros. Por exemplo, a cidade que eu canto mais até hoje é Brasília, por incrível que pareça. Estou chegando de lá agora, fiz dois shows lá semana passada, aumentando o volume de shows que faço naquela cidade. Mais outro momento interessante foi em Manaus, no Projeto Pixinguinha, apresentamos quatro vezes nosso espetáculo em dois dias. Outro: o show Madureira, no Rio, quando fizemos dois shows na mesma noite. Como sou muito irrequieto, não me acomodo, não paro, estou sempre criando desafios, então, estou sempre me realizando em cada apresentação que faço. SC: Algum projeto de CD? AC: Sim. A gente no meio das gravações, temos o repertório já montado; estamos dependente somente da autorização do governo municipal para fazer o edital para liberar o projeto Edvaldo Nogueira, que é um projeto cultural. A gente já foi classificado neste projeto e falta somente a autorização para começar o processo de finalização deste disco, que deverá se chamar Festa de Rua. Um disco com músicas dentro da temática nordestina, folclórica sergipana: não estou saindo dessa temática. Não uso o folclore para o disco. Estou pegando a essência. a base rítmica, o embasamento cultural dele para esse trabalho. SC: O que a Assaim pode comemorar no ano de 2003? AC: Um trabalho independente, de harmonização, proposta de se organizar como categoria dentro do cenário dificílimo que é Sergipe, uma vez que as grandes empresas de comunicação não dão muita oportunidade. A Assaim conseguiu enfrentar isso, abrindo portas, diminuindo o abismo que existe entre artista e televisão, rádio e jornal. Nosso trabalho hoje já divulgado em livrarias, temos canal aberto com várias emissoras de TV, rádios, coisas que nós nunca tínhamos conseguido antes. O que significa, que é um trabalho organizado, orientado em crescer, despertar nas autoridades o valor que o artista sergipano tem, não só na música com na arte geral. Os projetos nas Quintas da Assaim envolvia teatro, música, literatura, artes pláticas num trabalho bastante abrangente. SC: Como será o show que encerrará o ano das Quintas da Assaim? AC: A abertura do projeto foi comigo e o encerramento também, ou seja, fui a primeira vítima e a última (risos). O primeiro show foi Papagaio do Futuro e agora é o Pipoca Moderna. A gente aperfeiçoou o antigo trabalho e o futuro chegou com a Pipoca Moderna. é uma panela de vários ritmos, pipocando mesmo: muita novidade, músicas de estilos diferentes, muita teatralizarão, principalmente a parte rítmica, que está muito rica com o apoio dado pelo pessoal da Membrana, o Pedrinho. É um trabalho cultural bastante rico, diferente do que está aí no mercado. SC: E o Cultart com sede desse encerramento? AC: A gente tem que agradecer muito ao Melodia por ter acreditado na gente, mas seu espaço físico é pequeno para o que se pretende com o projeto, não há uma visualização geral do espetáculo. O encerramento no Cultart é ,exatamente, porque ali já tem cara, tem gosto de cultura. Um centro de cultura e arte, ao ar livre- espero que não chova nesse dia, pelo menos (risos). A gente pretende levar o projeto para o Teatro Atheneu. Como o projeto já ganhou credibilidade, provavelmente, faremos grandes espetáculos lá dentro. Porque é um espaço que dá para se trabalhar uma produção maior. E é isso: precisamos abrir asas, crescer. SC: Você só trabalha composições próprias? AC: Apesar de 95% das composições serem minha, sempre abro espaço para músicas de outros companheiros, como Rubens Lisboa, de quem eu gosto demais, Alcíades, Josá, Carvalho, canto coisas do Ismar Barreto, Henrique Souza, um músico já falecido; o único documento que tem do Henrique tocando é num disco meu com o Bolo de Feira. Ele morreu, deixando uma obra belíssima, mas que nunca se preocuparam em cuidar e eu tenho o cuidado de preservar, nos meus shows sempre canto alguma coisas dele. Peças como Pássaros, aliás , a única música sergipana a chegar em primeiro lugar nas paradas das campeãs, que é minha e do Jorge Lins. Tem coisas muito interessantes que a gente faz, por exemplo, em Brasília, na nossa encenação teatral, que eu chamo de Oração de Vaqueiro, teve a participação, honrosa para mim, de Frei Beto. SC: A música regional é mais aceita no interior ou na capital? AC: Em Sergipe, não podemos separar interior gosta mais, capital gosta menos. O que ocorre com a música sergipana é que há certa rejeição do povo à ela. Por mais que o povo diga que gosta de forró pé-de-serra, se do lado de lá, uma banda qualquer bater uma sanfona, um teclado e um contrabaixo, não fica com o pé-de-serra, mas no outro forró, que lhe interessa muito mais. Então, aqui, a nossa música tem acesso igual a todo estilo, apesar de haver uma tendência maior da juventude para a música estrangeira. Mas falta incentivo. Hoje, se você pegar a peça mais ridícula do mundo, colocar no rádio, na Globo e disser que ela é boa, todo mundo vai gosta. Acontece que os nossos poderes competentes, que poderiam fazer esse trabalho, acham que é obrigação do Espírito Santo e não do investimento. SC: Forró pé-de-serra versus forró eletrônico? AC: Eu fico com o primeiro (risos). Sem nada contra o outro tipo de forró, aliás, não chamo aquilo de forró, deram a conotação de forró, mas ela pode ser qualquer outra coisa, lambada. Não é porque tem sanfona que é forró; o ritmo, a cara musical dela não é de forró. O que eu chamo forró é a música que, mesmo tendo baixo, teclado e bateria, tem a cara musical, sonora dele. SC: Qual a sua opinião em inserir elementos novos em manifestações folclóricas? AC: Em certo ponto, é o que acontece em meu trabalho, Festa de Rua, a gente pegou a alma rítmica e substituiu, por exemplo, vamos ter a zabumba, o som do pífano, mas vou ter junto com isso o contrabaixo, o pedal de bateria somando para enriquecer, melhorar a qualidade. Meu cuidado vai ser não desvirtuar essa base rítmica, deixo o folclore com o que é dele. O que vai acontecer é que vou enriquecê-la, não vou pegar o folclore lá do interior, trazer para um disco e depois dizer que estou criando. Ninguém está criando nada. Você cria a partir do momento em que aproveita elementos e faz seu trabalho sem roubar, sem desmerecer aquela cultura. Aí está o cuidado: ao folclore tem que ser dado o tratamento, o respeito que ele merece. Como cultura, ele tem que ser preservado como sempre foi, agora, a gente que trabalha numa linha um pouco mais progressiva pode misturar. O Chico Science fez isso com o maracatu, o Paul Simon pegou as bases rítmicas brasileiras e fez o que bem quis com elas. Não é Brasil aquilo ali, é outra coisa, mas a base que se escuta, a batida é do Brasil. Ele usou a mágica do Brasil, que eles não têm, para a temática, a história musical deles. Um grande problema que acontece é de pessoas envolvidas com grupos folclóricos quererem agradar e incluem elementos na coreografia que não tem nada a ver. O que é ruim , porque as pessoas que estão dançando aquilo também não têm nenhum trabalho de pesquisa: acham que ali é a verdade absoluta e vão passando aquilo para os outros. É muito fácil você dançar, dizendo que é xaxado e não estar xaxado, quem estar assistindo não conhece acha que aquilo é que é folclore brasileiro, porque você deu uma pirueta. Por Marina Ribeiro

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