O Museu da Gente Sergipana foi cenário de um momento importante para a cultura do estado: a entrega de dez máquinas trançadeiras para produção do Iacê (um cordão achatado, sedoso e flexível que é matéria-prima essencial para as rendeiras). Durante o evento, na tarde desta terça-feira, 02, houve apresentações artísticas de grupos culturais dos municípios de Divina Pastora e Laranjeiras. Logo em seguida, ocorreu um cerimonial para entrega das máquinas que teve aquisição da Torre Empreendimentos em convênio celebrado com o Iphan.
Para a presidente da Associação para o Desenvolvimento da Renda Irlandesa de Divina Pastora (Asderen), Maria José de Souza, o momento celebra a independência no modo de fazer o Iacê e, com isso, uma melhor qualidade no resultado das rendas. “Antes, dependíamos de uma fábrica do Rio de Janeiro que fazia como e quando queria. Não tínhamos autonomia nenhuma sobre nossa matéria-prima”, conta.
Com o empenho e atuação do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), foi dado um passo importante para que as rendeiras pudessem retomar a qualidade dos seus produtos. “Foi através da salvaguarda do Iphan, que nós conseguimos as máquinas. Foi um trabalho de 10 anos. Agora nós detemos o poder de fazer o Iacê”, comemora.
Durante o cerimonial que antecedeu a entrega das máquinas, a presidente nacional do Iphan, Kátia Bogéa, e a superintendente do Iphan-SE, Katarina Aragão, relataram o o descaso da política em relação à cultura e a renda irlandesa, que é considerada Patrimônio Imaterial do Brasil desde 2009. “Nós estamos às vésperas de uma eleição e eu me dei o trabalho de ler o programa de governo de cada candidato. De todos, apenas quatro falavam levemente sobre à cultura. Alguns propunham inclusive a extinção do Ministério da Cultura (MinC). Nenhum falou sobre o patrimônio cultural brasileiro”, lamenta Kátia Bogéa.
Para a superintendente do Iphan-SE, Katarina Aragão, o trabalho ardoroso das mulheres artesãs alçou acultura sergipana ao grande reconhecimento. “Essas mulheres levaram o estado de Sergipe, através do modo de fazer renda, a ser reconhecido nacionalmente pela sua arte”, destaca.
O evento ainda contou com a reprodução de um vídeo protagonizado por mulheres rendeiras que contavam como suas histórias se entrelaçavam com o fazer da renda irlandesa.
Por João Paulo Schneider e Verlane Estácio
A matéria foi alterada às 17h54 do dia 03/10 para acréscimo de informações
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