II Ó, filho glorioso de Calíope, que da vida extrai o gosto acre da morte! Ofusca suas vistas às ninfas venturosas, na tentativa de aniquilar aviltantes lembranças da sua amada, que em prantos se dissolve no vale das mortes; Desperta fúrias, que alçam vôos aquilinos sobre sua existencial matéria; Vítima injustiçada da titânica fúria das Mênades, que o estilhaçam freneticamente. Decapitado fora, e jogada fora sua cabeça ao Rio Hebrus, que, em maternal gesto, acalantou ao léu seu crânio, que ainda cantava, vagueando em águas tranqüilas, evocando o nome da sua sempiterna amada: Eurídice! Eurídice! Eis, que as nove piedosas musas, em faces plúmbeas, recolheram os estilhaços e os enterraram, alimentando à terra no Monte Olimpo. E os rouxinóis, próximos da lápide magnânima, cantaram mais docemente Para abrandar aquele que ali jazia em descanso divinal. A misericórdia da morte fora negada as satânicas Mênades, que roubaram a vida dos olhos de Orfeu, que mudez indigna aos seus lábios deram. Transformaram-se em carvalhos silentes, açoitados pelos ventos enervados, através dos longos anos. Inconformados ventos, que antes se esvaíam em lágrimas doces ao som terno, harmonioso e mágico da lira órfica esplendorosa, tornam-se reais vítimas da peripécia que os impregna transformando-se em tiranos nocivos a vergastar os carvalhos insanos que ali resistiam. Até que por fim os troncos frívolos, vazios e sem vida, das árvores indignas, caem ao chão ácido da triste sarta que aqui finda. Por Gustavo Aragão Cardoso ** Todos os direitos estão reservados ao autor perante a Lei de Direitos Autorais.
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