“Rua do Lixo 24”

“Nós, nordestinos, durante muito tempo, nos acostumamos, pois fomos introjetando a imagem que sempre nos foi apresentada como sendo a nossa. (…) Surgimos, secos, famintos, incultos, fanáticos, sub-raça. Evoluímos para sermos o abapuru da literatura modernista-religionalista, que nos deu uma explicação justificativa – somos uma cultura regional. Somos regionalistas. E o regionalismo não será nunca, a aberração dos estudos euclidianos. Víamos cultura regional, folclore produto à venda do turismo”.

O aspecto reducionista sempre povoou a imagem que o nordestino tem de si mesmo. Face ao Sul industrializado, o Nordeste é um estorvo, um pedaço do país que deveria ser amputado, que suga o que o Sul rico produz, a imagem da pobreza. Apesar disso, o Brasil nasceu no Nordeste. Foi aqui, durante o ciclo da cana-de-açúcar, que acumulou-se as riquezas que sustentaram durante muito tempo a Europa, principalmente a Inglaterra, através de Portugal.

A citação do parágrafo inicial faz parte do projeto da peça “Rua do Lixo 24”. O palco é uma cidade do interior do Nordeste: Caruaru. Segundo os responsáveis pela divulgação do evento, “a peça passa ao largo daquele ser que o folclore diz sermos. Não é uma obra sobre nós. É uma obra feita por nós, sobre o lugar comum que somos – a vida. Os personagens construídos falam tão somente da vida como se fala em qualquer outra parte onde haja gente. Parece desnecessário se dizer essas coisas de uma obra teatral. No entanto, em se tratando de uma produção nordestina e de Caruaru, nunca será desnecessário dizer que: ‘a cocada é de coco do coqueiro, da praia, que dá coco’, pois já não é mais tempo de eufemisar ou contemporizar com a falta de informação do resto do país, sobre o nosso horizonte Cultural – Nordeste”.

“Rua do Lixo 24” não é uma tentativa de explicar o Nordeste aos nordestinos, nem tampouco mais uma peça que fala das belezas naturais tão anunciadas no resto do mundo. É uma peça. Mas uma peça escrita por nordestinos, não pelo que se chama de nordestinos. Nordestinos não têm cabeça chata, não falam “oxente”, não dormem em redes, nem moram em praias, pelo menos não 24 horas por dia.

O objetivo da peça, de acordo com a apresentação dos autores, é de deixar “bem claro que não mais aceitamos a estética do Jeca Tatu – desdentado, roupa remendada, chapéu esfarrapado. Não, nós não temos caipiras. Temos matutos de saberes atávicos, de antropofágica tolerância, por isso sábios, vestidos de couraça de couro. Jamais caipiras”.

A peça foi escrita por Vital Santos, não tão conhecido pelo resto do Brasil. O autor tenta retratar o Nordeste não como a maioria das pessoas imaginam que a região deva ser, mas como ela o é. Encenada pelo “Le Grand Cirque de La Vie”, a peça será apresentada no Teatro Atheneu, amanhã  e 29, a partir das 21 horas. Os ingressos podem ser adquiridos por R$ 5,00 (inteira) ou R$2.50 (meia). Para pessoas acima de 65 anos, a entrada é franca.

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