Econominsta afirma que a diminuição de gastos públicos é uma via para crescimento da economia

Fabio Giambiagi
O economista Fábio Giambiagi, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), está em Aracaju hoje, 15, a convite da Associação Comercial e Empresarial de Sergipe (Acese). Pela manhã, Giambiagi fez a palestra ‘Economia Brasileira: perspectivas e Desafios’ no Hotel Delmar, e a tarde cumpre compromissos com a Acese. O Portal Infonet conseguiu uma entrevista exclusiva com o economista falando sobre a atual realidade da economia nacional e as visões para o futuro crescimento econômico.

Portal Infonet – A atual política-econômica brasileira está no caminho correto?

Fábio Giambiagi – Eu acho que há elementos positivos e outros nem tanto. Em linhas gerais a direção é correta no sentido em que nós estamos em uma situação que a política antiinflacionária é boa, a inflação é baixa. Há uma sinalização de que a inflação vai continuar baixa nos próximos anos, e ao mesmo tempo o contexto macroeconômico tem permitido uma redução paulatina das taxas de juros. O que leva a uma perspectiva concreta de que no ano que vem tenhamos uma taxa de juros real de apenas 6%, o que vai ser muito bom. As contas fiscais estão relativamente ajustadas, nós vamos ter em 2007 o menor índice do déficit público desde que essa contabilidade passou a ser feita na década de 80. O grande calcanhar de Aquiles é um problema que não é especificamente do Ministério da Fazenda. É um problema que o país como um todo tem que discutir, porque é algo que se percebe como tendência há aproximadamente 15 ou 20 anos. É um crescimento muito forte e, na minha concepção, exagerado do gasto público, e com uma grande concentração em despesas correntes. Em detrimento das despesas com investimento que deveriam ser prioritárias para o ciclo de crescimento que nós gostaríamos de ver nos próximos anos.

Infonet – A contenção de gastos públicos e os investimentos devem ser feitos em que área?

FG –  Eu acho que está faltando uma rede de contenção geral. Valendo o esclarecimento de que quando se fala em contenção, não se fala em redução do valor em termos absolutos. Isso não está em pauta. O que está em pauta é reduzir a velocidade de crescimento dos gastos, que tem se expandido nos últimos anos a um ritmo de 9% a 10%. Isso é insustentável em longo prazo, e tem que cair. E acho que a gente precisa de três coisas. Por um lado aprovar o dispositivo que limita os gastos com despesa de pessoal em curto prazo. Em segundo lugar, estabelecer uma limitação para evolução das despesas correntes como um todo, também com uma perspectiva de longo prazo, talvez nos próximos dez anos, mas isso não está em pauta. E como parte desse cardápio, aprovar uma mudança de regras para aposentadoria na previdência social. Vamos ver o que sai como resultado do Fórum da Previdência Social, a proposta do Governo sobre assunto, que ocorre entre agosto e setembro.

Infonet – Há uma outra medida que possa ser adotada ao PAC, para retirar a PLP /200701, que limita os gastos públicos a 1,5% do PIB nos próximos dez anos, a fim de evitar uma convulsão social?

FG – Eu não acredito em convulsão social. Nos últimos quatro ou cinco anos o crescimento médio das despesas com pessoal foi exatamente em torno de 1,5% em termos reais. Houve um aumento grande nos últimos dois ou três anos, mas houve uma queda grande em 2003. De forma que, eu vejo esse dispositivo como um elemento que vai permitir de alguma forma regularizar o comportamento do salário no futuro para evitar os pinotes para cima e para baixo que a gente assistiu nos últimos anos. E, além disso, eu acho que se podem negociar alternativas. O importante é que haja um entendimento que uma contenção numa evolução dos gastos é importante. Eu, particularmente prefiro que se desse em torno desse 1,5%, mas eu entendo que esse é um número que pode ser negociável, desde que evidentemente não seja jogado muito para cima. Mas uma

regra que pode fazer sentido é estabelecer uma medida um pouco mais dura para os primeiros anos que possa ser gradualmente relaxada, sendo uma medida para 10 anos, num segundo período.

Infonet – O PAC é a base para o crescimento econômico do país nos próximos 10 anos?

FG – Aí temos que separar o que é o PAC como concepção, do que são medidas específicas. Como concepção, como planos no papel, o PAC está bom. Eu diria que quase tudo que nós queremos que aconteça, em matéria de investimento nos próximos 10 anos está lá. O desafio é como tirar do papel. Isso implica em duas coisas. Por um lado o governo fazer o dever de casa da parte que lhe cabe de preparar os projetos adequadamente, e conseguir as licenças ambientais, etc… E por outro lado ter recursos. Ter recursos para investimentos significa reduzir a velocidade de crescimento dos demais gastos para criar essa folga fiscal que permita esse financiamento.

Infonet – Quais as principais formas de investimentos que o senhor visualiza em Sergipe, dentro da perspectiva econômica brasileira?

FG – Levando em consideração os investimentos que o país e o Estado já fizeram no passado em linhas de transmissão nas usinas hidrelétricas estabelecidas, e as limitações para a oferta de energia no futuro, eu diria que Sergipe tem condições excepcionalmente favoráveis para receber alguma das eventuais usinas nucleares, se o país optar pela retomada do plano nuclear no horizonte dos próximos dez anos. E traria para a região um volume de investimentos significativo.

Infonet – E o senhor não vê o crescimento de formas de fontes de energia não agressivas ao meio-ambiente no país?

FG – Eu acho que nós temos que estudar. Não é a minha área de conhecimento. Em geral a impressão que eu tenho é que há um certo romantismo no que diz respeito à esse tema. Porque na tentativa de fugir da opção hidrelétrica, pelas questões ambientais, e com receio de encarar a opção nuclear muitas vezes se menciona a energia eólica. Eu pelo que ouço falar de especialistas que merecem o máximo de respeito, creio que seriam alternativas de difícil viabilização em escala econômica intensa.

Infonet – A desvalorização mundial do dólar e a crescente valorização do Real atingem de que forma a economia brasileira?

FG – A perda de valor do dólar faz com que a gente tenha a possibilidade de aumentar a cotação, em dólar, dos produtos exportados. E ajuda a diminuir as tensões mundiais associadas a um grande déficit na conta-corrente dos EUA.

Por Ben-Hur Correia e Carla Sousa

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