Momento de poupar: economistas analisam efeitos do coronavírus

 

Economistas analisam cenário e projetam impactos da pandemia (Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil
Agência Brasil)

Em seu pronunciamento em rede nacional na última terça-feira, 24, o presidente Jair Bolsonaro afirmou que as restrições aplicadas em todo território nacional contra o coronavírus, como fechamento de comércios e fronteiras, terão consequências severas para a economia. Durante discurso, ele defende o retorno às atividades, através do que chama de ‘isolamento vertical’, contrariando o que a Organização Mundial da Saúde (OMS) e seu próprio ministro da Saúde vêm recomendando.

Afinal, qual a real ameaça do coronavírus e de todas as restrições implementadas para cenário econômico? A saúde financeira do País está em jogo? Nossa reportagem conversou com dois economistas que têm analisado o cenário.

O economista do Departamento Intersindical de Estudos e Estatíscas de Sergipe (Dieese), Luis Moura, considera o discurso do presidente com razoabilidade, e justifica. “Nós temos em jogo duas correntes estratégicas: a da saúde, que pede o isolamento e aplica as restrições, impactando na economia, e a corrente de liberar todos para as atividades, aumentando o contágio e número de internamentos nas UTIs. Num país com 220 milhões de habitantes, vai haver um congestionamento na saúde e o Governo terá que se preparar para o pior. Pode morrer muita gente”, pontua Moura.

Ainda na análise de Luis Moura, os efeitos das restrições dos serviços podem ser baseados de acordo com a greve dos caminhoneiros, que durou 10 dias em 2018. “Naquela época, a falta de abastecimento interrompeu alguns serviços. Houve um impacto no PIB (Produto Interno Bruto), que deixou de crescer 1,2% naquele período”, afirma.

O economista Rafael Saldanha, assessor de investimentos, explica que um viés da economia vê a pandemia do coronavírus como extremamente nociva para as empresas, em especial aquelas de menor porte. “Se fala mais em coronavírus dos falidos do que falecidos. O Brasil não tem muitos dados que sustentem uma projeção do impacto da pandemia, mas se considerarmos parâmetros dos EUA, por exemplo, um estudo mostra que em média, as empresas suportariam até 27 dias de lockdown (bloqueio dos serviços) por lá. Após isso, a crise poderia elevar o desemprego a alarmante taxa de 15%. No Brasil, esses números seriam potencializados”, analisa Saldanha.

Vale lembrar que no início do ano, o Governo Federal previa um crescimento do PIB para 2020 de 2,4%, percentual que com o início da crise do coronavírus caiu para 0,02%, ou seja, estagnado. A Fundação Getúlio Vargas (FGV) vai além, e prevê queda de -4,4% no PIB.

Mas o que fazer?

Para Moura, cabe aos Governos (federal, estadual e municipal) adotar medidas que atenuem a crise. “Nas economias mais liberais, como Inglaterra, Estados Unidos, os governos estão aprovando o pagamento de uma renda mínima as pessoas desamparadas. É uma forma de manter o consumo. Aqui temos observado algumas situações. O Governo de Sergipe quer abrir uma linha de crédito no Banese. Isso pode dar ima sobrevida na economia”, explica.

Com um cenário de incertezas, Saldanha entende a necessidade de isolamento nesse primeiro momento, mas diz que o Governo pode considerar uma verticalidade do isolamento mais na frente. “É uma crise que não sabemos quanto tempo vai durar. Esses primeiros 15 a 30 dias de isolamento é importante, mas a ideia que vem sendo discutida nos Estados Unidos, por exemplo, de isolamento vertical, ou seja, apenas aqueles que estão fora do grupo de risco regrassam gradativamento aos seus postos de trabalho, deve ser considerada. A prevenção vai ter que ser maior, mas esse retorno pode ser uma necessidade para economia mais à frente”, entende.

Recomendações

Para ambos economistas, este é um momento em que o empregado deve restringir o seu consumo e adquirir somente o essencial. “Lembrar sempre que é um período de incerteza e ter disciplina no consumo. Evitar os superfluos”, aponta Moura. “Com as restrições, as pessoas já têm saído pouco. Eu diria que é o momento de criar uma ‘gordura’ e gastar aos poucos. Afinal, pode ser um período de demissões e precisamos criar essa reserva”, aponta Saldanha.

Para os empresários, algumas alternativas podem ser fundamentais na manutenção do negócio. “Aproveitar linhas de créditos, taxas de juros reduzidas, renegociar dívidas e negociar com fornecedores. Fazendo tudo isso, é possível que ele mantenha seus funcionários recebendo salários”, analisa Moura. “Alguns estabelecimentos estão conseguindo negociar ou postergar aluguéis, promover acordos com trabalhadores para reduzir salários. Demissões têm custos altos para empresários e nem sempre são soluções”, complementa Saldanha.

Por Ícaro Novaes

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