O município de São Cristóvão, distante 23 km de Aracaju pela rodovia João Bebe Água e 27 km pela BR-101, possui 40 escolas de ensino fundamental, além de três creches mantidas pela prefeitura da cidade. Porém a maioria das unidades de ensino não passa por uma reforma há cerca de 30 anos, além disso algumas escolas tem problemas na distribuição de merenda, no transporte dos estudantes e até de falta de água. Aulas improvisadas acontecem na sede da Secretaria de Educação (Fotos: Portal Infonet)
No final do ano passado a secretaria de Educação realizou uma licitação no valor de R$ 839 mil para a reforma de sete unidades escolares, porém em pelo menos uma das escolas o contrato está paralisado por um problema no pagamento pela prefeitura.
São elas: Antônio Carlos Franco, no Cardoso; São Cristóvão, no Centro; João Francisco de Andrade, no loteamento Lauro Rocha; Francisco de Araújo Macedo, no Candial; pré-escola Tia Marinete, no Centro; creche Maria de Lourdes, no Rosa Elze e Aracelis Rodrigues que está com a reforma concluída. O problema é que em algumas escolas as aulas ficaram prejudicadas por conta dessa reforma.
Na escola São Cristóvão, por exemplo, os cerca de mil alunos estão tendo que estudar em salas improvisas na sede da própria Secretaria de Educação do município. Já na escola Antônio Carlos Franco, no povoado Cardoso, as crianças tiveram que esperar até o início da semana passada para terem aulas, já que o prédio, em reforma, não oferecia condições de abrigo para os alunos. Praça pública é improvisada como área de recreação para crianças
A droga e o estudante
Outro problema que aflige as crianças e adolescentes do município e deixa em alerta os pais é o crescente aumento do tráfico de drogas. De acordo com o juiz Manoel da Costa Neto, da comarca de São Cristóvão, os processos relacionados à educação que chegam à vara cível são sobre a deterioração das escolas, mas para o magistrado, o principal problema é com relação a evasão escolar ocasionada pelo contato com o mundo das drogas.
“Na verdade eu vejo a desatenção dos pais em relação à frequência dos alunos nas aulas. Nas portas das escolas a gente percebe que muitos menores ficam fora das salas de aula. Quando os pais deixam os filhos para estudar na porta do colégio, eles simplesmente não entram. Os traficantes se aproveitam dessas crianças que deixam o estudo de lado e usam menores de 9 a 13 anos para servirem o tráfico de drogas”, comenta. Alunos passeiam em horário de aula
De acordo com o promotor da educação em São Cristóvão, Fábio Pinheiro, o problema da droga é sério e deve ser acompanhado de perto.
“A gente percebe que vários problemas dos jovens estão ligados à droga. Temos visto que a rede pública de saúde não é eficaz no combate a esse mal social. No período de desintoxicação, o viciado precisa de um atendimento emergencial e não é isso o que acontece. Aqui na promotoria nós fazemos cerca de duas a três ações civis públicas para internação por semana. A maioria dos casos é de menores de idade”, revela o promotor, dizendo ainda que estimativas avaliam que apenas 30% dos casos que acontecem chegam ao Ministério Público.
Precariedade das escolas O juiz Manoel da Costa Neto
O município tem a obrigação constitucional de atender a pré-escola, e os ensinos primário e fundamental. Nos relatos de autoridades e pessoas da cidade, a reportagem do Portal Infonet também percebe uma precariedade na distribuição da merenda escolar e do transporte público.
Segundo o promotor Fábio Pinheiro a questão é que o município tem que gastar quase todo o valor recebido com o pagamento de professores.
“Falta merenda e o transporte para os alunos é insuficiente. A causa de tudo isso é o repasse insuficiente já que a arrecadação do próprio município é desproporcional à sua população. São Cristóvão é um dos municípios mais pobres do Estado e Aracaju acaba tornando os problemas maiores já que muitas pessoas trabalham na capital e moram aqui, mas o dinheiro que gastam é em Aracaju. As gestões anteriores a essa administração também contribuíram para o agravamento da situação, principalmente com relação a pagamentos de INSS, férias e 13º salário”, afirma Pinheiro que destaca uma reunião que terá no próximo dia 14 deste mês com o secretário de educação, o Sintese e o prefeito da cidade.
Explicações
O secretário de Educação de São Cristóvão Morgan Prado reforça o discurso do promotor e diz que os problemas da educação são fruto da herança de aproximadamente 30 anos sem recuperação das escolas. “Fizeram pinturas, mas sem a recuperação da parte estrutural. O nosso principal problema é a folha de pagamento e a parte estrutural. Para se ter uma idéia , a arrecadação da Secretaria é em torno de R$ 1,5 milhão e gastamos somente com pessoal, R$ 1,2 milhão. Não sobra para investimento”, afirma. O secretário de Educação de São Cristóvão, Morgan Prado
Morgan conta que a reforma que está sendo promovida com investimentos de mais de R$ 800 mil é apenas com recursos da prefeitura. Com relação a paralisação da reforma na escola Aracelis Rodrigues, o secretário explica que se deve a uma mudança do contratante.
“Estamos com um problema agora nesse início de ano, paramos a reforma porque a empresa que fez a reforma do Aracelis está com a fatura atrasada porque a secretaria agora tem um CNPJ próprio e na fatura da empresa está o da prefeitura, por isso precisamos adaptar”, diz.
Sobre o abastecimento de água, o gestor da educação diz que o imbróglio é causado pela empresa prestadora do serviço, o Serviço de Autônomo de Água e Esgoto (SAAE). “Estamos com um problema do abastecimento de água, mas já temos um caminhão alugado para encher as caixas d’água dessas escolas”, revela.
Em relação ao transporte, Morgan informou que o número das linhas para levar os alunos até as escolas aumentou. “Antes tínhamos 11 linhas e hoje temos 14 linhas e mais oito vans fazendo o transporte dos alunos, mas ainda não conseguimos atender a todos”, destaca.
Por Bruno Antunes
*Esta reportagem faz parte da série “São Cristóvão: antigos problemas”, que será publicada durante esta semana pelo Portal Infonet. Confira abaixo a reportagem já publicada sobre a cidade: