O principal combustível para o desenvolvimento social e econômico de um país é a Educação. Essa afirmativa elementar parece ainda muito distante das nossas vistas. Falamos em crescimento do PIB, exportações, globalização, capital estrangeiro, empresa em tempo real, novas relações de mercado e continuamos a reproduzir os mesmos modelos de gestão educacional de cem anos atrás.
As escolas continuam as mesmas. Pouco ou nada mudou. Continuamos com as mesmas “Tias” de sempre, o mesmo quadro de giz, o mesmo silêncio sepulcral nos corredores e a mesma aceitação incondicional de tudo o que é ensinado, administrado e aprendido no ambiente que chamamos de escola e que, na verdade parece mais com um quartel, onde uma elite manda e uma maioria obedece.
Partindo do princípio que a educação representa a alavanca para o crescimento de um país e que os modelos de gestão educacional se encontram ultrapassados, algumas questões saltam aos olhos:
– Nos últimos dez anos houve um crescimento significativo do número de instituições de ensino particulares em todo o país.
– Surge (desordenadamente) a concorrência e a competitividade
– A idéia de mercado se faz presente (de forma incipiente)
– O cidadão (usuário do serviço) ou consumidor para os menos xenófobos passa a ser crítico, questionador.
– A moeda estável trouxe a idéia do poder de compra e do real valor dos produtos
e serviços.
A relação acima serve de ponto de partida para analisarmos o Marketing Educacional, suas implicações, sua história e seu papel na sociedade moderna.
Vivemos um momento de transição. Saímos dos modelos industriais para as sociedades da informação e alguns grupos como British Petroleum e Gaeteway já ousam pensar os próximos 500 anos. Em recente entrevista ao Grupo Exame Watts Wacker, um futurologista que se auto-intitula bobo da corte afirmou que “A coisa mais importante a fazer hoje é se comprometer com as pessoas que não concordam com o que você acredita”. Depois de limparmos os exageros e as bobagens comuns que esses gurus adoram propagar chegamos a esse vértice – o melhor seria todos na mesma direção, pensando da mesma maneira, vivendo da mesma maneira, agindo do mesmo modo, ou a pluralidade e a diversidade de idéias, pensamentos e opiniões?
Clemente Nobrega nos dá a bússola quando afirma: “O que está em curso é um ensaio gigantesco em busca de uma nova linguagem para guiar a ação de todos nós, managers ou não. Na empresa e na vida:”
De fato o papel do marketing educacional é de orientar as Instituições de Ensino na direção do futuro. O amanhã altamente competitivo, diversificado e dinâmico. Evidentemente respeitando as características do serviço a ser prestado, ou seja, Educação.
Finalmente chegamos no ponto focal da nossa conversa; a escola como prestadora de serviços. Todos nós sabemos que esse serviço pode ser público ou privado. Cabe ao Estado a oferta de um serviço de qualidade e que atenda a população de uma maneira geral, sobre tudo os mais necessitados, cabendo a iniciativa privada o nicho destinado a aqueles que podem pagar e/ou estejam a procura de outras opções. Bem, deveria ser simples assim, mas…
A Onça Bebe Água
Chegou a hora da onça beber água. O Estado é ineficiente, cumpre mal o seu papel de gestor e administrador das contas públicas. Governantes, congressistas enfim todos esse doutores dos nossos destinos, via de regra legislam e trabalham em causa própria. Não existe um programa sério de educação para todos. A indústria da ignorância lucra milhões de dólares/ano empregando mão de obra desqualificada e sem a menor chance de reivindicar melhores condições de trabalho e qualidade de vida. Na outra extremidade desse discurso encontramos uma Nação perplexa, atordoada e em busca de referências e identidade próprias. É fato que os governos Fernando Henrique e Lula assimilaram a necessidade de uma discussão séria e de medidas contundentes em torno do assunto. Nunca se falou tanto em Educação, Escola, Cidadania, como nos últimos vinte anos.
Dessa forma, o governo finalmente começa a se coçar para minimizar esse imenso buraco negro em que se transformou a Escola Pública no Brasil. Mas no apagar da luzes o resultado ainda é míope. A verdade é que o governo não sabe fazer o dever de casa ou vai para a prova com a cola debaixo da carteira escolar.
Na esteira dessas turbulências a escola privada fez a festa. Uma festa para quem quisesse entrar. Foram abrindo escola atrás de escola, e ninguém para avaliar as reais possibilidades de mercado, a viabilidade econômica do negócio que estavam pretendendo abrir e outras coisinhas básicas que costumamos ouvir quando empresários sérios ambicionam abrir ou expandir suas fronteiras. Confirmo aqui que a iniciativa privada parou nos últimos trinta anos, se limitando exclusivamente a repassar seus custos sem se preocupar com itens básicos como:
-Qualidade -Modernidade
-Pesquisa de Mercado -Anseios e Desejos do Consumidor
-Ética -Responsabilidade Social
-Concorrência -Planejamento
-Estratégia
Vejamos por exemplo o ítem (anseios e desejos do consumidor). Quantas Instituições de ensino nós conhecemos que procuram descobrir o que pensam, desejam ou procuram seus alunos, funcionários, professores e demais públicos que interagem com a escola. Chamamos o aluno para puni-lo, o responsável para cobrar, mas dificilmente convidamos essas mesmas pessoas para uma troca de opiniões, ou ainda para sabermos o que pensam ou esperam daquilo que estão pagando para obter. Vale lembrar que esse exemplo serve para os dois hemisférios, a escola pública (que pagamos através de impostos) e a escola particular.
Com tudo isso o resultado não poderia ser outro. O ensino no Brasil parece piada de mau gosto. A iniciativa privada perdida e o poder público desgovernado. É o caos.
Virando o Jogo
É possível reverter esse quadro. O governo precisa priorizar a Educação, premiar com incentivos reais as iniciativas revolucionárias de milhares de educadores que nesse momento subvertem a ordem e criam alternativas milagrosas de educação e Cidadania. Menos propaganda e mais ação.
A escola particular tem que rever a sua postura, até então ortodoxa e onipresente. Não se admite mais que a escola não possua em seus quadros o espaço aberto, livre para que os nossos jovens possam exercer com plenitude as suas aspirações, os seus sonhos. A escola é o lugar da desconstrução. Desconstruímos para criarmos, e por aí vai. Quantas escolas particulares nós conhecemos que possuem um programa sério de cidadania, solidariedade e ética?
Quantas escolas nós conhecemos que discutem o problema do negro, suas crenças e o nosso folclore. E os programas de educação sexual e de qualificação para o mercado de trabalho. Não é difícil imaginarmos que a sociedade do futuro não absorverá mais os “casuímos”. Sabemos perfeitamente que neste momento já está em andamento uma nova filosofia política, empresarial e de relacionamento, onde os valores éticos estão presentes como ferramenta básica no avanço das nações. Portanto empresas e governos que quiserem ser lembrados pela sua contribuição a evolução de seus contingentes não podem abdicar de uma visão de mercado e de uma gestão (seja em governos ou empresas) participativa e questionadora.
*Prof. André Pestana: Um dos mais renomados teóricos em Gestão Educacional com ênfase empresarial do Brasil. Especialista em Marketing Educacional. Autor de vários livros, entre eles – Gestão e Educação: Uma Empresa Chamada Escola. Presidente da André Pestana Consultoria em Marketing e Gestão Educacional. Professor Universitário e de Pós Graduação. Coordenador Pedagógico do Ensino Médio do Colégio Módulo/SE. Professor da FANESE/SE. Possui artigos publicados nas principais publicações do segmento no Brasil. Foi Diretor Institucional de Marketing da Universidade do Grande Rio UNIGRANRIO. Membro do Núcleo de Estudos e Projetos Integrados da Associação Brasileira de Marketing e Negócios ABMN e Instituições de Ensino Parceiras. Consultor em gestão estratégica de inúmeras instituições de ensino no Brasil. Conferencista internacional.
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