A guerra psicológica ou ideológica costuma produzir mitos. Terra de povo sem educação, o Brasil é campo fértil para essa cultura que viceja até onde teoricamente seria estéril, como nas redomas intelectualmente mais protegidas. Um mito freqüente é o de que os estudantes mais ricos do país estudam nas universidades públicas, enquanto os pobres ficam nas particulares. Não se sabe exatamente como surge uma informação como essa e nem se vai aqui buscar os culpados. As próprias universidades, centros de excelência nacionais, produzem mais do que conhecimento. Também ali brotam os mitos. O ensino superior é elitista: menos de 12% da população da faixa etária de 18 a 24 anos chegam à universidade. Mesmo na rede pública o perfil do estudante pode ser considerado elitista, já que os 50% mais pobres representam apenas 11,7% do total de universitários nas instituições públicas, enquanto nas particulares essa porcentagem é ainda menor, de 5,5%. Ou seja, a grande maioria dos pobres não terá acesso de jeito nenhum ao ensino superior com esse sistema educacional discriminador. “O que torna a universidade elitista não é o fato de que os pobres não terão filhos médicos, mas o fato de que os pobres não terão médicos para seus filhos”, definiu o senador Cristovam Buarque, ex-reitor da Universidade de Brasília, em seu livro A aventura da universidade, de 1993. Até que a sociedade se transforme e universalize a educação básica, não haverá ensino superior que não seja, de alguma forma, elitista. Mas não basta isso. Dentro do ambiente estratificado da universidade pública quem dá as cartas não é a elite, vista aqui não como minoria que detém o prestígio e o domínio sobre o grupo social, mas como minoria mais abastada. A pesquisa Perfil Socieconômico dos Estudantes de Graduação das Instituições de Ensino Superior – 2003/2004 mostra que 45,3% dos alunos da Universidade Federal de Sergipe são das classes socieconômicas C, D e E, com renda média familiar de, no máximo, R$ 927, enquanto somente 10,1% pertencem às classes A1 e A2, renda média familiar mínima de R$ 4.642. Os demais 38,7% estão nas classe B1 e B2, com renda média mínima de R$ 1.669 e máxima de R$ 2.804. O critério é da Associação Nacional de Empresas de Pesquisa (Anep) Choque de gerações – A pesquisa revela que o estudante da UFS tem em média 22,9 anos de idade, que uma confortável maioria (55,6%) é formada pelas mulheres e que apenas 30% se declararam da cor branca, contra 45,8% que se declararam pardos e 11,1% que se identificaram como negros. Um terço dos universitários reside no interior do Estado, incluindo São Cristóvão, município onde está localizada a Cidade Universitária, 11,3% moram em outros Estados do Nordeste e 5,8%, em Estados do Sudeste. Dado importante: 73,2% dos universitários usam o transporte coletivo para chegar à UFS. Mas somente 34,8% deles não têm um carro em casa. Exatos 48% dos universitários estão matriculados nos cursos da área de Ciências Humanas/Sociais, não por acaso os menos dispendiosos. Mais de 80% dos pais dos alunos da UFS terão um nível de escolaridade inferior ao deles quando se formarem. Entre os estudantes que concluíram o ensino médio no Brasil em 2003, segundo informações da pesquisa do perfil socieconômico do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), na média, 70,8% dos pais e 72,8% das mães tinham escolaridade inferior à dos filhos. Já entre os universitários da UFS, somente 17,1% dos pais e 16,3% das mães concluíram um curso superior. Na outra ponta, 7,1% dos pais e 4,4% das mães foram identificados simplesmente como analfabetos. Metade dos universitários quase não precisou pagar escola para chegar à UFS: 35,6% deles estudaram integralmente em escola pública, 10,9% estudaram a maior parte do tempo em escola pública e ainda 2,8% estudaram integralmente em escola particular com bolsa. E mais: 51,4% não freqüentaram cursinho pré-vestibular. Sinal dos tempos: 1 – quase 83% dos universitários pretendem continuar estudando após concluírem a graduação, sendo que 48,2% pensam em fazer um curso de pós-graduação stricto sensu (mestrado); 2 – quase metade deles (48,3%) tem como principal fonte de informação o telejornal, 16,4% se atualizam via internet, 6,7% lêem revistas e, lamentavelmente, somente 2,8% lêem jornal, mesmo número daqueles que acompanham as notícias pelo rádio; 3 – mais da metade (56,4%) dos universitários usam bebidas alcoólicas às vezes, freqüentemente ou sempre, mas apenas 12,3% fumam, mesmo que somente às vezes; 4 – quase 8% deles fazem ou já fizeram algum dia uso de drogas ilícitas. Plano de expansão – Anualmente, cerca de 20 mil jovens tentam ingressar na UFS, mas só há vagas para 2.010 deles de cada vez. O reitor Josué Modesto dos Passos Subrinho sonha em massificar a presença da UFS em Sergipe e tornar o sistema de acesso menos excludente. Ele lançou em novembro de 2004 o Plano de Expansão 2005-2008 que prevê ampliar para 4.610 o número de vagas oferecidas anualmente e multiplicar o número total de matriculados na graduação e pós-graduação dos atuais 11.635 para 25 mil alunos. Para o projeto dar certo, pretende atacar em várias frentes: quer implantar campi avançados nos municípios-pólos de Estância, Lagarto, Itabaiana, Nossa Senhora da Glória e Propriá, centros de importância geoeconômica do interior do Estado e onde a instituição já está presente com o Plano de Qualificação Docente (PQD); quer ampliar a oferta dos cursos de graduação, diurnos e noturnos, que hoje correspondem 87 opções, criando 60 novos cursos, sendo 35 de graduação, 18 de mestrado (atualmente há oito) e sete de doutorado (hoje é apenas um); quer dinamizar a pesquisa e a extensão. O seu plano, que é visto com bons olhos pelo ministro da Educação Tarso Genro e que foi entregue pessoalmente ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva no dia 18 de março passado, quando das comemorações pelos 150 anos de Aracaju, começa a dar certo. Já há sinalização de que alguns dos campi avançados serão autorizados em breve. Dois dos principais argumentos apresentados pelo reitor são incontestáveis: cresceu a presença do ensino médio em todos os 75 municípios do Estado, aumentando a demanda de jovens querendo ingressar na universidade; e, mais importante, há um tratamento desigual dado pela União ao Nordeste, onde são investidos apenas 10% dos recursos destinados ao ensino superior, enquanto a população da região representa quase 30% da população brasileira.
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