A Idade Média Midiática

(Foto: Divulgação)

A Idade Média é um período histórico que foi por muito tempo associado ao atraso e a escuridão. Isso pode ser percebido, por exemplo, na tão famosa alcunha “Idade das Trevas” ou até mesmo quando uma atitude digna de repúdio é taxada como medieval. O próprio sentido dado ao termo, nos remete a algo intermediário, “o período entre a Antiguidade e a Idade Moderna”, como ficou sacralizado a partir do manual escolar escrito pelo alemão Christoph Keller (1638-1707), intitulado, numa tradução livre, algo como “História Medieval: Dos tempos de Constantino à tomada de Constantinopla pelos turcos”. Porém, mesmo com toda carga negativa que o senso comum tem desse período da História Ocidental, ela continua sendo alvo da mídia que muito frequentemente acha neste campo uma rentável fonte de lucro. Apesar de sabermos que mesmo não tendo sido um tempo que se resumiu aos heróicos cavaleiros de brilhantes armaduras, como os românticos do século XIX tentaram passar, a Idade Média, como bem tem demonstrado os medievalistas, também não foi “uma longa noite de mil anos”.
Filmes, games e livros de temática medieval sempre costumam estar em destaque nas prateleiras dos shoppings e um dos principais nomes a que pode ser atribuído o sucesso desta Idade Média Midiática é o escritor e filólogo John Ronald Reuel Tolkien, mais conhecido pela abreviatura J.R.R. Tolkien, autor do romance épico “O Senhor dos Anéis”.
Uma das principais amostras da influência desta obra, lançada em três volumes, são os seus 58 anos de sucesso. Neste período, ela recrutou um grande número de fãs que aumentou a partir da adaptação dos livros para as salas de cinema, na trilogia cinematográfica, lançada entre os anos de 2001 e 2003, dirigida por Peter Jackson. Os filmes alcançaram grande sucesso de público e crítica chegando a igualar o número de Oscar de filmes clássicos como “Titanic”.
Este ano a rebuscada literatura de Tolkien volta mais uma vez aos cinemas com o lançamento de “O Hobbit – Uma viagem inesperada”, com previsão de estreia para Dezembro. Este será o primeiro de mais uma trilogia de filmes que há muito tempo já vêm tendo uma grande campanha publicitária e está sendo esperado por muitos ao redor do mundo.
Partindo para outro exemplo, do que estamos denominando de Idade Média Midiática, podemos citar o considerável sucesso da produção intitulada “Game of Thrones”, exibida pelo canal fechado HBO, e que é baseada nos livros da série “As Crônicas de gelo e fogo”. Alcançando grande sucesso logo na exibição do segundo episódio, a série foi renovada para uma segunda temporada e já caminha para uma terceira, prevista para Março de 2013. Ela vem cada vez conquistando mais fãs, além, é claro, do grande aumento de vendas dos livros nos quais a série é adaptada. Fora estes dois exemplos, tantos outros poderiam sustentar esse evidente sucesso da Idade Média frente aos mais heterogêneos grupos sociais. Mas, a principal pergunta que gostaríamos de fazer é: qual o motivo deste sucesso tão frequente?
Uma explicação seria a de que o Medievo ainda é visto através de um olhar romântico. Por exemplo, nas duas produções acima citadas ainda impera uma representação romantizada da Idade Média, no qual estão presentes: a magia, a guerra, a honra, florestas povoadas por criaturas misteriosas e perigosas e tantos outros estereótipos já conhecidos acerca deste período nas produções deste tipo.
Contudo, para nós, é essa visão romântica que atrai as pessoas inseridas num mundo contemporâneo no qual antigos valores estão cada vez mais perdendo o significado. Sendo assim, a honra de um cavaleiro, o amor puro de uma inocente donzela ou a determinação para carregar um fardo que muitas vezes parece maior do que quem o carrega, podem muitas vezes configurar um consolo ou uma fuga, mesmo que fictícia, a esta realidade atual.
Assim, a Idade Média foi e ainda é uma excelente cartada para a indústria do entretenimento, devido à força do seu apelo ao público. O papel de historiadores e professores, no entanto, é o de problematizar este Medievo representado neste mercado e demonstrar o quanto ele ajuda a explicar mais o contemporâneo do que a própria Idade Média.

Andrey Augusto Ribeiro dos Santos é graduando em História pela Universidade Federal de Sergipe e aluno bolsista integrante do grupo PET História/UFS. Orientador: Prof. Msc. Bruno Gonçalves Álvaro. O artigo integra as colaborações à coluna do Grupo de Estudos do Tempo Presente (GET/CNPq/UFS).

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