A imagem do negro no livro “História de Sergipe”

Felisbelo Firmo de Oliveira Freire nasceu na vila de Itaporanga D’Ajuda em Sergipe no ano de 1858 e faleceu no Rio de Janeiro em 1916. Iniciou seus estudos no Colégio Atheneu de Aracaju e, ainda jovem, tornou-se médico ao se formar pela Faculdade de Medicina da Bahia. Sua estadia na faculdade baiana despertou em Freire interesse por política e história. Na carreira política, coube a Felisbelo a fundação de jornais, através do qual ajuda a divulgar os ideais republicanos entre os sergipanos. Além disso, tomou posse de importantes cargos políticos, como o de primeiro Governador Republicano de Sergipe (1889), Ministro no governo de Floriano Peixoto e Deputado Federal por Sergipe, condição na qual veio a falecer em 1916.

A obra Felisbelo Freire não foi tão consagrada como a de outros companheiros, como nos lembra o historiador Francisco José Alves. Para ele, a filiação ao florianismo foi um fator de isolamento, o que lhe renderia o esquecimento. Nas palavras de Alves, Felisbelo foi “um escritor sem acesso às ‘igrejinhas literárias’ da época”. Apesar do ostracismo intelectual, Freire possui uma ampla e variada produção.

Um exemplo é o livro “História de Sergipe”, publicado pela primeira vez em 1891 com uma segunda edição em 1977. A publicação desta obra representou um marco para historiografia sergipana, pois seu autor inovou no fazer historiográfico e trouxe à tona uma série de novos documentos. Até então, ninguém havia escrito uma história de síntese com base nos moldes científicos vigentes.

Ao analisar o livro “História de Sergipe” produzido por Felisbelo Freire, muitos são os questionamentos a respeito da contribuição dos grupos africanos e seus descendentes. Afinal de contas, qual o papel atribuído pelo autor a esses agentes históricos na formação de Sergipe? Em primeiro lugar, é importante lembrar que o autor vivenciou o positivismo do século XIX, sofrendo bastante influência das teorias europeias que entraram tardiamente no Brasil a partir de 1870. Conforme a ótica evolucionista, Freire analisou a sociedade sergipana com base em uma “escala racial civilizatória”, onde o branco europeu estaria no topo e os demais grupos, como negros e índios, em posições inferiores.

Para Freire, historiar é o resultado da “soma das forças físicas e étnicas” e, ao analisá-las, é possível chegar à formação do caráter de um povo em seu desenvolvimento civilizatório. Sendo o Brasil o resultado da soma de três raças distintas (o português, o índigena e o africano) e em diversos graus de desenvolvimento, no entendimento do autor, atribui-se ao português “o principal fator da civilização brasileira”, restando aos demais grupos uma condição de inferioridade em quesitos como influência intelectual e transmissão dos caracteres físicos. Com um discurso focado na figura dos “grandes homens”, couberam aos governadores, capitães-mores, entre outros agentes políticos, conduzir os sergipanos no decorrer dos processos históricos, quanto aos africanos, esses permaneceram como agentes passivos dentro dessa dinâmica branca.

No decorrer do livro, Henrique Dias é o único negro identificado pelo nome de batismo, enquanto os demais são qualificados em expressões indefinidas como “africano”, “negro”, “preto” e “raça africana”. O contexto histórico em que a maioria dessas expressões indefinidas aparece evidencia as qualidades do “elemento” africano como escravo, produtor de uma riqueza da qual não usufruiu ou condiciona-o como empecilho para a “civilização”, tão mencionada por Freire. Como solução, o autor sugere “a imigração estrangeira”, em alusão ao processo de branqueamento, como uma medida inadiável. Contudo, ainda são escassos os estudos sobre a contribuição do africano para a formação da cultura sergipana, muitas são as lacunas que precisam ser preenchidas. Atualmente alguns esforços têm possibilitado bons resultados, porém, amplo é o material que precisa ser investigado.

Edvaldo Alves de Souza Neto é bolsista PET-História e graduando em História pela UFS. É integrante do Grupo de Pesquisa de História da África e da Diáspora Africano (GPHAD), coordenado pelo professor Msc. Carlos Franco Liberato (DHI/ UFS). O artigo integra as colaborações à coluna do Grupo de Estudos do Tempo Presente (GET/CNPQ/UFS).

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