Confira a carta vencedora do concurso nacional

Confira a carta vencedora da fase nacional do 37º Concurso Internacional de Redação de Cartas promovido pela União Postal Universal (UPU):

 

 

Aracaju, 26 de março de 2008.

 

Minha querida professora de Sociologia,

 

Como vai você? Espero que esteja bem, na luz como sempre diz. Estou escrevendo esta carta para compartilhar minha experiência, pois estou participando do concurso de cartas dos Correios, para explicar porque o mundo precisa de mais tolerância. Já ouvi muitas vezes em suas aulas sobre a necessidade dessa palavra no mundo, mas agora quero explicar-lhe com o meu olhar, e nisso sentirá a diferença em todas as outras explicações.

 

Claro que o mundo já possui milhões de palavras, e são todas bem vazias e inúteis quando não ganham alma… Então o que acha de praticarmos uma nova palavra? Tolerância… De corpo robusto, forte, e de alma eterna, firme, com enormes asas abertas para todos. Irmã univitelina do respeito, da paciência, do bom senso, o triste é que quase sempre esquecemos dos significados e não aplicamos em nossas vidas, para sermos humanos melhores.

 

Em tudo que tenho estudado encontro a presença da intolerância, e entendi que essa palavra é a face escura e triste da nossa história, e assim fui tendo certeza da importância da tolerância, mas preciso dizer professora, que as pessoas poderiam compreender muito mais se experimentassem essa palavra dentro dos seus dias, e aí sim, poderiam defender essa bandeira, com a mesma coragem e emoção que hoje passo a colocar no papel, e então, como dizem os filósofos que você tanto ama, estarei eternizando tudo isso a partir de agora.

 

Quando estava arrumando minhas idéias fiquei viajando em vários exemplos históricos que sempre ouço em suas citações apaixonadas: Mahatma Gandi e sua política de não violência, ensinando a tolerância com as diferenças religiosas, com os preconceitos sociais. Ele não dizia como os outros deveriam fazer, ele fazia primeiro, dando seu próprio exemplo, de nunca revidar tanta crueldade e humilhação pelo qual passou todo o seu povo. Acaso não seria essa a essência da tolerância professora? Evitar as guerras, as mágoas, o instinto selvagem do homem? Por isso professora acredito que só existe um solo sagrado e fértil para que a tolerância possa florescer: dentro de nós.

 

Entendi que é dentro de nós mesmos que moram todos os monstros, que por infinitos motivos e justificativas vão criando “o caos nosso de cada dia”, como diz o livro de Crônicas de Carlos Eduardo Novaes, que estou lendo. Entendo que a tolerância nasce dos pequenos gestos dentro de casa, da “palavra formosa”, como dizem os índios sobre os quais você me ensinou, onde eles praticam a quebra do orgulho e da vaidade antes de dirigir a palavra ao seu próximo, pois as palavras que ofendem, devem ser levadas para as “más águas”, e são elas que criam as mágoas, que alimentam os monstros dentro de nós. Esses monstros chamados colonizadores massacraram os índios por suas intolerâncias culturais e religiosas.

 

A tolerância nasce também do exemplo, e principalmente dele, por isso a importância do exercício da tolerância na família, que é nossa primeira escola. Vejo reportagens de crianças mutiladas, com fome, que sofrem maus tratos; intolerâncias em nome de Deus, de Alá, de todos. Viu aquela menina que foi acorrentada professora? Vitima da intolerância de tantos… Foi então que pesquisei e refleti sobre um documento da UNESCO que decreta o dia 16 de novembro como o dia Internacional da tolerância, e em seu artigo 4º decreta: “4.1 A educação é o meio mais eficaz de prevenir a intolerância. A primeira etapa da educação para a tolerância consiste em ensinar aos indivíduos quais são seus direitos e suas liberdades a fim de assegurar seu respeito e de incentivar a vontade de proteger os direitos e liberdades dos outros”.

 

Se cada um pudesse compreender… é o direito a liberdade que efetiva a tolerância em nossas vidas, e a educação é o motor que pode tornar a tolerância possível. A partir desse artigo entendi que a sua paixão por ensinar professora, faz mesmo a diferença, e que seu exemplo brilha em mim todos os dias e me faz melhor, corrigindo minhas intolerâncias rotineiras, para praticar o respeito pelo direito que o outro tem de ser o que ele desejar.

 

Professora amada, você é única para mim, me alegro por viver ao seu lado, e aprender as mais profundas lições de humanidade. Se houvesse mais tolerância entre as pessoas, as catástrofes seriam evitadas, e o homem não julgaria o “monstro do seu semelhante sem antes dar conta do seu, e teria vergonha de usar seus conceitos acima dos outros”. Conviver com as diferenças, plantando a tolerância dentro de nós, esse é o tema da aula diária que precisamos aprender, e o principal: exercitar. E entre tantas definições, Jesus nos apresentou um só mandamento, o do amor e o ser humano, intolerante não conseguem praticar. Tolerância foi tudo que Cristo viveu, e os homens o colocaram numa cruz. Mas a tolerância ainda é o incondicional. Nesse caminho mestra querida, quero compartilhar contigo a importância do perdão, da solidariedade e da tolerância, por ser minha professora de Sociologia, exemplo dos meus dias, me fez acreditar que é possível também como você acredita, amar os homens com olhos livres e construir um mundo bom. Eu sou sua semente, e em suas palavras dei meus primeiros passos, porque antes de ser minha inesquecível professora, você é minha mãe, que me ensinou que cada um precisa fazer sua parte.

 

E como você diz mamãe,

Um grande abraço em Cristo!

De sua filha que muito te ama.

 

Hannah Sophia Vasconcelos Bezerra Silva

 

12 Anos

8º Ano do ensino Fundamental

Colégio Saint – Louis

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