Das “redes” às ruas: a manifestação 8N ganha às ruas

(Foto: Divulgação)

Se formos analisar a história do desenvolvimento e ascensão da Internet, encontraremos um emaranhado de processos relacionados a invenções de softwares, microchips e criação de empresas empenhadas em garantir o sucesso de uma ferramenta que prometia maior interatividade entre os homens e inovação nos negócios.

Retida inicialmente nos laboratórios universitários do Vale do Silício, na Califórnia, a década de 1990 prometia ser generosa com a Internet e os tecnólogos mais otimistas. Invenções como a do cientista Tim Berners-Lee (World, Wide, Web) permitiram à popularização da Internet, transformando-a em um meio de comunicação de massa.

Mesmo uma análise apressada diria que a Internet cumpriu o que prometeu. Dinamizou as transações empresariais, os sistemas de vendas e o relacionamento entre funcionários-funcionários e funcionários-clientes. No entanto, o seu maior sucesso, sem dúvida foi o estabelecimento da interatividade.

Para os que possuem acesso a esta ferramenta nunca foi tão fácil se comunicar. Uma comunicação que desafia a todo o momento o conceito de fronteiras e torna possível a interação simultânea de muitos com muitos.

Esta interatividade não proporcionou apenas a facilidade na comunicação, mas também a organização, se não efetiva certamente os preparativos iniciais, de diversas formas de movimentos e manifestações sociais. O exemplo mais recente foi o panelaço ocorrido neste último dia 08 de novembro na Argentina contra o governo de Cristina Kirchner.

Apelidado de 8N (referindo-se a data da realização dos manifestos, 08 de novembro) a manifestação foi convocada através das redes sociais, dentre elas o Facebook. A convocatória era bem clara “Sin agravios, sin miedo, en paz… en todo el país. Digamos BASTA. Jueves, 08 de noviembro, 20Hrs.” Das “redes” às ruas, em poucos dias os argentinos marcharam nas principais avenidas de Buenos Aires. Munidos de bandeiras e caçarolas os manifestantes pediam a liberdade de expressão, um basta na alta dos preços, a corrupção e as pretensões de reformular a constituição para um possível terceiro mandato de Cristina Kirchner.

A manifestação chegou às cidades de Mendoza, La Plata, Tucumán, Bariloche, entre outras. No exterior, a insatisfação com o governo Kirchner pôde ser vista em Roma, Nova York, Sidney, Londres e Madri.  Sem líderes ou partidos que encabeçassem os manifestantes, o som que ecoava era o das caçarolas sendo sacudidas por pessoas contrarias as imposições do governo.

A crise, palavra que se tornou parte do cotidiano dos argentinos, revela uma divisão no país entre aqueles que são pró-kichneristas e os anti-kichneristas e traz novamente a incerteza sobre o futuro político, econômico e social para a Argentina.

O 8N é uma clara demonstração de consciência política demostrada pela população argentina. Aos insatisfeitos não restou alternativa a não ser ir para as ruas protestar, àqueles que não concordavam com a manifestação coube o papel de refutar o que estava sendo contestado e, no final, o que temos é uma lição de como participar do contexto político de um país.

Junta-se a isto a capacidade de apropriação feita sobre a Internet. Berners-Lee não se enganou ao dizer que este era um sistema de comunicação poderoso, mas talvez devesse acrescentar que este sistema quando bem utilizado pode se transformar no principal aliado, numa voz que ecoa por meio das ondas ópticas eliminando as distâncias.

Monica da Costa Santana é mestranda em História pelo Programa de História Comparada da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Bolsista CAPES, integrante do Grupo de Estudos do Tempo Presente (GET/CNPq/UFS). Editora do periódico “Cadernos do Tempo Presente”.    

Portal Infonet no WhatsApp
Receba no celular notícias de Sergipe
Clique no link abaixo, ou escanei o QRCODE, para ter acessos a variados conteúdos.
https://whatsapp.com/channel/
0029Va6S7EtDJ6H43
FcFzQ0B

Comentários

Nós usamos cookies para melhorar a sua experiência em nosso portal. Ao clicar em concordar, você estará de acordo com o uso conforme descrito em nossa Política de Privacidade. Concordar Leia mais